Fracasso de Ernesto Araújo no Itamaraty não é acidente

By | 28/03/2021 5:07 am

Bolsonaro transformou política externa em aparelho de recreação da direita radical

[Bruno Boghossian, colunista da Folha e mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA)]

Não era possível esperar muito de uma política externa que tinha como prioridades brigar com a China, mudar a embaixada brasileira em Israel para atender aos evangélicos, lutar contra uma conspiração globalista e conseguir um posto diplomático para o filho do presidente. O fracasso de Ernesto Araújo como chanceler não é acidente.

O Itamaraty se tornou um obstáculo no combate à pandemia porque Jair Bolsonaro instalou ali uma estrutura que não trabalha pelos interesses do país. Explorada como um aparelho de recreação da ultradireita, a diplomacia brasileira não conseguiu produzir resultados num momento de crise aguda.

No ano passado, o ministério organizou 12 seminários para discutir a conjuntura internacional “pós-coronavírus”. Em vez de debater formas de colaboração para salvar vidas e conter prejuízos econômicos, boa parte dos eventos reuniu polemistas ultraconservadores que chegavam a divulgar informações duvidosas sobre a Covid-19 e o uso de máscaras.

Quase todas as conferências davam palco para blogueiros, conspiracionistas e discípulos do ideólogo Olavo de Carvalho. Foram chamados militantes investigados por espalhar notícias falsas, um integrante da família imperial, uma juíza que se notabilizou por estimular aglomerações na pandemia e o infame assessor que fez no Senado um gesto usado por supremacistas brancos.

Ernesto é o mestre de cerimônias desse manicômio. O chanceler já disse que o país deveria se orgulhar do status de “pária internacional” produzido pela diplomacia do governo Bolsonaro. Graças a ela, o Brasil se tornou ator marginal na geopolítica da pandemia e ficou no fim da fila dos insumos para a vacinação.

Sob pressão, o governo estuda substituir o ministro. O presidente do Senado avisou que a cobrança vai “além da personificação”. “O que se tem que mudar é a política externa do Brasil”, disse. Depois de ver o resultado de trocas na Saúde e na Educação, o país já sabe de onde escorre a essência do bolsonarismo.

 

Nossa opinião – Ernesto Araújo foi escolhido a dedo para bagunçar a política externa brasileira. Mais uma presepada na equipe de Bolsonaro. Vão arranjar uma sinecura para ele e colocar no seu lugar, outro feito na mesma forma, indicado pelos herdeiros do clã. (LGLM)

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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