BEMÓIS E SUSTENIDOS (aniversário de 60 anos de Alexandre Marinho)

By | 30/03/2021 11:19 am

(Mísael Nóbrega de Sousa)

Alexandre Marinho era voz e violão. Morreu depois de ficar doente. Para a morte, basta um desmazelo. Não adianta se esconder; o importante é se revelar. Não se intimidar; ousar. Não sentir pena de si mesmo, ser autoconfiante.

Conheci Alexandre no auge de sua mocidade. Um homem de vigor: Trabalho, casamento, método e arte… Depois: – descasou-se; desempregou-se; perambulou-se; desamparou-se…

– É bem verdade que ele tentou. Revés sobre revés.

– Em cada corda do violão, uma nota falsa: dor, amargura, solidão, fadiga, vigília, saudade.

Alexandre dedilhou seu último solo, dia 13, por volta das três horas da tarde. Um domingo inclemente e cheio de pesadelos… – num setembro de 2009. Não mais entoado, como sempre fora, dissera-me por telefone, poucas horas antes de morrer, que “estava tudo bem”.

Alexandre não se importava mais com nada. Porém, quando debruçado sobre o violão… Era, um inspirado!. Pena que não aproveitou tanto. Pena, não… Tristeza.

Qual canção solfejar para Alexandre traíra? – Um samba? Uma Bossa? Um baião? Um frevo? Um forró? Um choro? –

“Gastei tudo em fantasia/ era tudo o que eu queria/ e ela jurou desfilar pra mim/” – “Fundamental é mesmo o amor/ é impossível ser feliz sozinho/” – “Eu vou mostrar pra vocês/ como se dança um baião/” – “Olinda/, quero cantar/ a ti/ esta canção/” – “Luiz/ respeita Januário/ Tu pode ser famoso/ mas teu pai é mais tinhoso/ e com ele ninguém vai/” – “Ai/ quem me dera ter um choro de alto porte/ Pra cantar com a voz bem forte/ E anunciar a luz do dia”.

Violão que se ensina mais fácil em tablaturas; que emite através das cordas pulsadas, também, chamadas de primas e bordões: os acordes, os tons, os semitons…

– No pentagrama: as cinco linhas paralelas que compõem a partitura e, ainda, as escalas, as cifras, as letras… – Claves, compassos, bequadros, pautas, armaduras, contrapontos;

Na voz: as cordas vocais, as vibrações, as cartilagens, a tonalidade dos sons, o diafragma, as tessituras, os arpejos… – E a postura elegante de quem sabe (em) cantar… – Em solos de melodia, ritmo e harmonia.

Tarraxa, cravelhas, pestanas, braço, trastes, boca, fundo, tampo, cavalete, – de que adianta agora tudo isso? Apenas nomenclaturas (suicidas e) vagas de um violão, primárias – feito o tempo gasto para aprendê-las.

Alexandre Marinho teve uma vida de bemóis e sustenidos. Ora a elevava em meio tom; ora a reduzia.

Mas, como diz Fernando Pessoa: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Alexandre foi compositor; e, fez o arranjo que podia… – Na sua vida musical.

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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