Etchegoyen diz que Forças não deixarão de ser instituições de Estado e ideias de golpe vão gerar ‘frustração’
(Marcelo Godoy, O Estado de S. Paulo)
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Sérgio Etchegoyen afirmou na terça-feira, 30, que as Forças Armadas não serão “fator de instabilidade no País”. “Independentemente de quem estiver no comando, elas nunca vão deixar de ser instituição de Estado.” Disse conhecer os generais do Alto Comando do Exército. “Sei do que estou falando.” E concluiu que, se algum setor do governo estiver pensando em golpe, “a frustração será grande”.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Etchegoyen expôs um sentimento comum a outros generais ouvidos pelo Estadão. Nos últimos dois dias, a reportagem ouviu oito oficiais-generais do Exército e da Força Aérea e dois coronéis da ativa e da reserva sobre o momento atual. De forma unânime, todos rejeitaram qualquer “aventura”.
“Pode ser que uma dessas dimensões (do governo) imagine uma coisa dessas, mas seria uma ingenuidade e uma falta de percepção e conhecimento imperdoáveis. Seria mais um general Assis Brasil com o dispositivo militar, garantindo ao Jango que não ia acontecer nada”, afirmou o ex-ministro do GSI, na véspera do 31 de março, dia em que o então presidente João Goulart foi deposto em 1964.
Assis Brasil era o chefe da Casa Militar de Jango. Ele manteria uma rede de apoios militares que defenderia o governo. Tal dispositivo não impediu a derrubada de Goulart, a quem os militares acusavam de tentar dar um golpe. Etchegoyen conhece essa história. Seu pai, o general Leo Etchegoyen, estava no Rio em 31 de março de 1964, ao lado do então coronel-aviador João Paulo Moreira Burnier. Ambos se uniram ao governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um dos líderes civis da conspiração.
‘Aventura’
Para um tenente-brigadeiro, os militares pagaram um preço muito alto na “última aventura” (o golpe de 1964) e têm a “Argentina ao lado para saber o que é retaliação”. O brigadeiro afirmou que a geração formada nos anos 1980 é avessa a “aventuras”. Um general chamou a atenção para o fato de o Alto Comando, assim como os generais de divisão, terem a mesma visão contrária ao uso político da Força. Um dos que têm repetido que “não há a menor possibilidade de aventuras com a participação do atual Alto Comando” é Francisco de Brito, atualmente na reserva. Não só ele. O ex-ministro da secretaria de Governo Carlos Alberto Santos Cruz também repetiu na terça-feira, 30, que as Forças Armadas não entrarão em nenhuma “aventura”.
Para o ex-ministro Etchegoyen, “em todas as rupturas que tivemos, houve apoio popular”. “Não se faz uma aventura desse jeito. Nós teríamos um repúdio internacional. O Brasil viraria um pária definitivo.” Para ele, há muitas pessoas que, de tempos em tempos, pegam um “lençolzinho verde-oliva para sair à rua, assustando as crianças”. “Esse governo tem faces distintas. Tem uma face de infraestrutura, executiva e competente, uma face política desastrosa e uma desconhecida, a guerrilha digital.”
No fim, Etchegoyen disse não ver ameaças da parte do presidente Jair Bolsonaro. “Isso vem muito mais de atos de outras frentes. O presidente tem sido impedido de governar em muitas coisas que são competência exclusiva dele. E são coisas que não começaram hoje.”