Eventual nomeação de comandante militar do Nordeste, apontado como preferido de Bolsonaro para chefiar Exército, violaria princípio
(Emilly Behnke, O Estado de S. Paulo)
Um dia após o presidente Jair Bolsonaro demitir os três comandantes das Forças Armadas, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quarta-feira, 31, que as trocas não vão alterar a conduta da cúpula militar do País. O vice defendeu respeito ao critério de antiguidade na substituição, levando em conta o tempo de carreira dos comandantes.
“Julgo que a escolha tem de ser feita dentro do princípio da antiguidade, até porque foi uma substituição que não era prevista”, afirmou o vice, que é general da reserva.
O presidente Jair Bolsonaro poderá repetir a ex-presidente Dilma Rousseff e quebrar uma tradição no Exército se decidir nomear como próximo comandante o general Marco Antônio Freire Gomes. Comandante militar do Nordeste, Gomes é o nome mais cotado nos bastidores do governo para substituir Edson Leal Pujol, o comandante demitido, mas o presidente tem sido aconselhado a considerar outro nome para não criar atritos com generais mais experientes. O novo ministro da Defesa, general Braga Netto, se reúne hoje com os cotados para Exército, Marinha e Aeronáutica.
O vice-presidente Hamilton Mourão Foto: Adriano Machado/Reuters
Ao falar do assunto na manhã desta quarta-feira, Mourão ressaltou que as Forças Armadas atuam dentro de um “tripé” de princípios de legalidade, legitimidade e estabilidade. “Então, não muda nada”, afirmou.
Segundo Mourão, a decisão de Bolsonaro foi “dentro do previsto”, já que os chefes das Forças não possuem mandato e podem ser “substituídos a qualquer momento”. No entanto, foi a primeira vez na história em que os três comandantes são demitidos em conjunto no meio do mandato presidencial.
“O presidente tem a prerrogativa de mudar ministros, comandantes de Forças também. Não é problema isso aí, qualquer um que for assumir o comando das Forças vai manter a mesma forma de atuar”, afirmou Mourão em entrevista na chegada à Vice-Presidência pela manhã.
O vice-presidente evitou avaliar a forma como a demissão dos comandantes ocorreu e disse não ter participado da decisão, que foi comunicada ontem pelo novo ministro da Defesa, general Braga Netto, em reunião com os então comandantes Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa Júnior (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica).
“Não participei do processo decisório, não posso dizer se foi o melhor ou pior”, disse. “Não conversei com ninguém. Procurei me manter fora disso, sou um oficial da reserva. Aprendi com meu pai que quando você passa para a reserva a bola está com os que estão na ativa.”
Apesar de classificar a demissão dos comandantes como algo “dentro do previsto”, Mourão admitiu que a medida foi “abrupta” e que não era esperada. “Essa foi uma mudança mais abrupta, mas está dentro do previsto. Os comandantes não têm mandato”, afirmou. Ele acrescentou que os chefes das Forças podem ser “substituídos a qualquer momento”.
Mourão também disse que os novos comandantes devem ser escolhidos pelo critério de antiguidade, respeitando o tempo de carreira. “Julgo que a escolha tem de ser feita dentro do princípio da antiguidade, até porque foi uma substituição que não era prevista.”
Sobre a demissão de Fernando Azevedo e Silva, que deixou o Ministério da Defesa na última segunda-feira, 29, Mourão comentou que o general é um “amigo” e uma pessoa “sensata e esclarecida”, mas ressaltou que Braga Netto deverá atender às necessidades do novo cargo: “Braga Netto tem pleno conhecimento e capacidade para substituir o ministro Fernando (Azevedo)”.
Azevedo foi demitido do cargo após desgastes com Bolsonaro, que cobrava maior apoio das Forças Armadas às suas posições. Braga Netto então foi deslocado da Casa Civil e nomeado como novo ministro da Defesa.