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By | 05/04/2021 4:46 pm

Covid-19 e gripe: 6 respostas sobre a vacinação simultânea prestes a começar no Brasil

Com chegada do outono, Brasil tem desafio de vacinar população contra coronavírus e gripe ao mesmo tempo

(André Biernath, BBC News Brasil)

O Brasil viverá uma situação ainda mais desafiadora do ponto de vista da saúde pública a partir das próximas semanas: o país vai realizar duas campanhas em massa de vacinação de forma simultânea.

De acordo com o Ministério da Saúde, começa em 12 de abril a imunização contra a gripe, que acontece todos os anos a partir do início do outono, quando a temperatura começa a cair e a circulação de vírus que afetam o sistema respiratório (como é o caso do influenza, o causador da doença) aumentam consideravelmente.

As campanhas contra a gripe e a covid-19 acontecerão em paralelo e já levantam dúvidas sobre quem deve tomar as doses, qual o tempo de espera entre uma vacina e outra e como será a organização para evitar aglomerações nos postos de saúde.

A BBC News Brasil consultou especialistas para tirar as principais dúvidas e entender a importância de se proteger contra essas duas doenças.

QUEM PODE TOMAR AS VACINAS CONTRA A COVID-19 E A GRIPE?

É preciso prestar muita atenção, pois os grupos prioritários e a ordem em que eles serão atendidos muda um pouco de acordo com cada campanha.

Por enquanto, os municípios brasileiros estão vacinando contra a covid-19 os profissionais de saúde e pessoas com mais de 60 anos em diversas faixas etárias. Muitos locais começaram convocando indivíduos acima de 90 anos e foram diminuindo a idade aos poucos.

A expectativa é que trabalhadores da educação e das forças de segurança e salvamento comecem a tomar suas doses contra o coronavírus nas próximas semanas, de acordo com o cronograma de cada prefeitura.

Já no caso da vacinação contra a gripe, os primeiros contemplados serão:

A partir de 12/04: crianças, gestantes, puérperas (mulheres que tiveram filho há pouco tempo), indígenas e trabalhadores de saúde;

A partir de 11/05: pessoas com mais de 60 anos e professores;

Entre 9/06 e 9/07: indivíduos com comorbidades ou deficiências permanentes, caminhoneiros, trabalhadores do sistema rodoviário e portuário, forças de segurança e das Forças Armadas, funcionários do sistema prisional, população privada de liberdade e jovens de 12 a 21 anos que estão sob medidas socioeducativas.

Geralmente, as campanhas contra a gripe se iniciam com os idosos. Mas, em 2021, eles foram transferidos para uma segunda etapa para não haver confusão e conflito com o calendário estabelecido contra a covid-19.

A expectativa é que, a partir de maio, a maioria dos indivíduos com mais de 60 anos esteja devidamente protegida contra o coronavírus e fique liberada para também se resguardar contra o influenza.

“Para evitar riscos, os gestores precisarão fazer uma ótima organização com filas, horários e espaços diferentes, de modo que não ocorra aglomeração de pessoas nas unidades de saúde”, sugere o epidemiologista Jose Cassio de Moraes, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

QUAL DAS VACINAS DEVE SER PRIORIZADA?

Os dois imunizantes são essenciais e ajudam a evitar complicações respiratórias que exigem internação e podem até levar à morte.

Se você fizer parte do público-alvo das duas campanhas em algum momento nos próximos meses, a prioridade deve ser dada à vacina contra a covid-19.

“Essa é a recomendação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde e tem a ver com o fato de estarmos no meio de uma pandemia”, esclarece a médica Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).

Mas a prioridade não deve ser confundida com exclusividade: é importante se vacinar contra a gripe na sequência, respeitando o prazo orientado pelos especialistas, como você verá a seguir.

POSSO TOMAR AS VACINAS CONTRA A COVID-19 E A GRIPE JUNTAS, NO MESMO DIA?

Não. É preciso esperar 15 dias entre uma vacina e outra, segundo as orientações das autoridades em saúde pública.

Mas qual a razão desse intervalo de duas semanas?

“Nós ainda não temos os estudos de co-administração, que permitiriam saber a resposta do sistema imunológico à aplicação conjunta dos dois imunizantes, contra a gripe e contra a covid-19”, explica a médica Patricia Mouta, profissional da farmacovigilância de Bio-Manguinhos/FioCruz.

Como as pesquisas a respeito do tema ainda não foram feitas, o Ministério da Saúde optou pela prudência, para evitar qualquer efeito colateral inesperado ou uma diminuição na efetividade dos imunizantes.

Vamos a exemplos de como esse esquema vai funcionar na prática: você pode tomar a primeira dose da Coronavac e aguardar de 14 a 28 dias para receber a segunda dose desta mesma vacina.

Daí é necessário esperar mais duas semanas para ser vacinado contra a gripe (que exige apenas uma dose para conferir proteção).

Já no caso do imunizante AZD1222, de AstraZeneca e Universidade de Oxford, a ordem de vacinação muda, pois o prazo entre a primeira e a segunda dose é de três meses.

Você então pode tomar a primeira dose da AZD1222 e aguardar duas semanas para receber a vacina contra a gripe.

Na sequência, basta esperar os dois meses e meio restantes para completar a proteção contra a covid-19 com a segunda dose da AZD1222.

QUAL A IMPORTÂNCIA DE SE VACINAR CONTRA ESSAS DUAS DOENÇAS?

Tanto gripe quanto covid-19 são enfermidades que afetam o sistema respiratório, podem trazer complicações ou sequelas e até matar. Do ponto de vista individual, portanto, a vacinação diminui os riscos à saúde.

Já na perspectiva coletiva, imunizar-se é uma atitude que protege toda a comunidade, pois quebra as cadeias de transmissão viral e impede a lotação de hospitais e unidades de terapia intensiva.

Em outras palavras, ao tomar as suas doses, você não protege só a si, mas também a sua família, amigos, vizinhos e todos ao redor – até aqueles que, por um motivo ou outro, não podem tomar a vacina.

O BRASIL TEM DOSES GARANTIDAS PARA PROTEGER A POPULAÇÃO CONTRA A COVID-19 E A GRIPE?

A situação varia bastante. No caso das vacinas contra a gripe, a preocupação com uma eventual escassez é menor, quase inexistente.

Isso porque o Brasil é autossuficiente nesse quesito: a fabricação fica a cargo do Instituto Butantan, que nem depende mais da importação do insumo farmacêutico ativo (IFA) para entregar, todos os anos, 80 milhões de doses ao Ministério da Saúde.

O Butantan possui a maior fábrica de imunizantes contra o influenza de todo o Hemisfério Sul.

Já quando o assunto é Covid-19, o assunto complica um pouco.

Nosso país depende das remessas de IFA que vêm de China e Índia para finalizar o envase das doses da Coronavac, no Instituto Butantan, e da AZD-1222, na FioCruz

Em razão da demanda mundial pelo produto, desde janeiro de 2021 as entregas têm sofrido atrasos e imprevistos, que chegaram até a paralisar as campanhas de vacinação contra o coronavírus em algumas cidades.

“Para acelerar a imunização das pessoas, precisamos ter mais doses de vacinas disponíveis”, aponta a epidemiologista Carla Domingues, que foi coordenadora do PNI entre 2011 e 2019.

Nos últimos dias, tanto Butantan quanto FioCruz têm conseguido ampliar a entrega de novos lotes de vacinas contra a covid-19, o que promete dar mais previsibilidade aos governos estaduais e municipais.

Além disso, a partir dos próximos meses devem chegar outras vacinas que já tem acordo de compra com o Ministério da Saúde, como aquelas produzidas por Pfizer e Johnson & Johnson.

O cálculo provisório do ministério é que o Brasil já teria mais de 500 milhões de doses garantidas para 2021.

QUAIS SÃO OS DESAFIOS DE REALIZAR DUAS CAMPANHAS SIMULTÂNEAS?

Além das questões de organização e logística, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil chamam a atenção para o desafio de fazer uma boa comunicação às pessoas sobre as campanhas simultâneas.

E, na avaliação deles, o Brasil vai mal neste quesito.

“Eu não posso dizer que a comunicação está péssima porque isso significaria que existe algo sendo feito. A comunicação é ausente. Não há nenhum tipo de anúncio ou campanha oficial”, critica Moraes.

Por ora, o Governo Federal veiculou poucas propagandas ou outros conteúdos nos meios físicos e digitais para falar sobre os públicos-alvo, quando as pessoas devem se vacinar ou quais documentos são necessários.

“O que temos visto apenas são anúncios sobre compras de vacinas. É preciso explicar para a população sobre a necessidade de tomar as duas doses, respeitar os intervalos, entre outras coisas. Essa comunicação não está sendo feita”, observa Domingues.

A BBC News Brasil entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde para ouvir a versão deles sobre esse ponto, mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.

Maia, que foi coordenadora do PNI entre 1995 e 2005, destaca que, por mais experiência que o Brasil tenha em imunizações, é preciso se adaptar à nova realidade.

“Fazer campanhas de vacinação é se reinventar a todo o momento. Ficar no mesmismo é a receita para o fracasso”, pensa a médica.

“É preciso entender o momento que vivemos e estimar o impacto que as notícias falsas e as correntes de WhatsApp podem ter na aceitação das vacinas. Vamos ter que lidar e superar isso”, completa.

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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