Governo e oposição já travam batalha por controle interno da CPI da Covid (com comentário nosso)

By | 12/04/2021 1:28 pm

Bolsonaro ainda tenta implodir politicamente a CPI ou, pelo menos, ampliar sua ação para governadores e prefeitos

(Marcelo de Moraes, O Estado de S. Paulo)

 

Com a instalação da CPI da Covid prevista para esta terça-feira, integrantes do governo de Jair Bolsonaro e dos partidos de oposição já se movimentam nos bastidores para tentar obter a hegemonia dentro da comissão. Por ser uma CPI com estrutura enxuta, com apenas 11 membros titulares, o grupo que garantir influência sobre seis integrantes terá maioria e dará as cartas nos trabalhos, inclusive para fazer com que ela não avance. Também terá poder para, se quiser, eleger o presidente do grupo.

Preocupado que a investigação mire diretamente as ações do governo, Bolsonaro ainda tenta implodir politicamente a CPI ou, pelo menos, ampliar sua ação para governadores e prefeitos. Para isso, já há, também, um pedido de abertura de outra CPI com esse alcance, feito pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que já tem 33 assinaturas necessárias para apoio. Independentemente de qual CPI funcionará, o cálculo de divisão dessas vagas é igual e Bolsonaro quer montar sua tropa de choque dentro da comissão que for instalada.O problema é que essa tarefa não é simples dentro de um Senado cada vez mais multifacetado. Na Casa, os partidos se organizaram em blocos parlamentares justamente para ter maior peso na divisão do comando das comissões permanentes. E isso vale também para comissões temporárias, como é o caso da CPI. O maior bloco do Senado é formado pelo MDB, PP e Republicanos. Com 24 integrantes, terá direito a três vagas de titular na CPI e duas delas já estão “reservadas” para senadores que estão no mesmo bloco, mas em lados políticos opostos.

O senador Renan Calheiros (AL) deverá ser indicado pelo MDB e defende ampla investigação das ações do governo federal. Já o senador Ciro Nogueira (PI) deve entrar na cota do Progressistas, partido que preside nacionalmente. Ele tem visão oposta a de Renan, e deverá ser um dos principais aliados de Bolsonaro na comissão. A terceira vaga está em aberto e, possivelmente, irá para outro senador do MDB. Mas como a bancada emedebista abrange aliados e inimigos do Planalto na sua composição, a escolha terá peso elevado na correlação de forças da CPI.

O segundo maior bloco é formado por PSDB, Podemos e PSL e também pode ter direito a duas ou três vagas. Isso vai depender da conta feita pela Mesa Diretora do Senado, por causa da saída do senador Romário do Podemos rumo ao PL. A tendência é que sejam duas. Se o comando nacional dos partidos decidir usar sua influência nessas indicações, a tendência é que parlamentares não alinhados ao Planalto ocupem essas vagas. Mas há grande pressão para que, pelo menos no Podemos, seja  indicado um nome mais neutro. Com apenas dois senadores, o PSL deve ficar apenas com suplência na CPI.

Já o PSD, que não tem bloco com ninguém, terá duas vagas, o que garante influência grande na CPI. O presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, tem sido procurado por governo e oposição, mas deve deixar a escolha por conta da bancada no Senado, liderada por Otto Alencar (PSD-BA), político de quem é muito próximo.

O bloco  DEM/PL/PSC pode ter uma ou duas vagas. Esse grupo é próximo do Planalto e vai indicar aliados do governo.

As duas vagas restantes serão de oposição. O bloco Rede/Cidadania/PSB e PDT planeja colocar o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na CPI, até por ele ser o autor do requerimento. Já o bloco PT/Pros vai indicar um senador petista.

Nossa opinião – Estão se armando aí três palcos para negociatas. Um primeiro palco envolvendo os trinta e três senadores que assinaram o pedido de CPI. Se sete deles desistirem e retirarem a assinatura a CPI pode se inviabilizar e não ser instaurada. Estes votos serão caríssimos.

Um outro palco é a formação da Comissão. O Governo vai investir para ter maioria na comissão ou para eleger os cargos mais importantes dela, como presidência e relatoria. O preço aí deve ser alto para comprar as indicações para a formação da comissão.

Um terceiro palco é o funcionamento da Comissão. Serão 81 senadores cobrando vantagens como verbas parlamentares, altos cargos no Governo e assim por diante.

No fim a CPI pode terminar em pizza. Pode ser a oportunidade para terminar de “enterrar” Bolsonaro ou pode servir para dar a ele um atestado de idoneidade. As declarações que ele tem dado dão uma ideia do medo que ele tem da CPI e do preço que terá que pagar na tentativa de impedi-la de se instalar ou controlá-la em suas investigações. (LGLM)

 

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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