Queiroga ultrapassa Pazuello em subserviência (com comentário nosso)
Josias de Souza Colunista do UOL 12/04/2021 04h30
Muitos avaliam que o Ministério da Saúde já atingiu o pior. Mas não se deve subestimar a posteridade da pasta. O fundo do poço pode ser apenas uma etapa. O general Eduardo Pazuello limitava-se a cumprir ordens do capitão. “Um manda, o outro obedece”, esclareceu. O cardiologista Marcelo Queiroga conseguiu ir muito além da subserviência militar do antecessor. O doutor se diz culpado pela incivilidade sanitária de Bolsonaro: “A falha é minha, e não do presidente”, declarou, em entrevista à Folha.
O melhor remédio para a culpa é reconhecê-la. Bolsonaro não enxerga culpados no espelho. Prefere subverter o brocardo: Errar é humano, botar a culpa nos outros também. Indicado pelo Zero Um Flávio Bolsonaro, Queiroga mostra-se confortável na posição de zero à esquerda. Quarto ministro da pandemia, ele defende o isolamento social. Mas absolve o presidente por pregar o oposto: “É meu dever persuadir meu presidente em relação às melhores práticas. Se eu não conseguir, a falha é minha, e não do presidente.”
Antes de cair, Pazuello prometera que o governo vacinaria metade da população brasileira até julho. Queiroga não se comprometeu com a meta do general. Aliás, já não tem compromisso nem com a sua própria meta. “Logo após chegarmos a 1 milhão de doses ao dia, já não foi possível manter essa meta e algumas cidades tiveram de interromper campanhas por falta de doses.” O ministro fala da escassez de vacinas como se Bolsonaro não fosse parte da encrenca. O culpado é do mundo, não o presidente. “Há um problema mundial de carência de vacinas.”
Há cadáveres demais na conjuntura. “Reflexo do que ocorreu”, disse Queiroga. “Campanha política, feriado de Natal, férias, Carnaval que não teve Marquês de Sapucaí, mas que as pessoas estavam todas nas suas casas fazendo festinha. É reflexo dessas ações.” Bolsonaro acha que o Brasil “tem que deixar de ser um país de maricas”. Ornamentou com a sua presença aglomerações antidemocráticas. Viajou nos feriados. Exibiu-se na praia para os seus devotos. Mas Queiroga exclui o presidente do rol de culpados pelo morticínio do vírus.
Por sorte, o presidente da República ama sua mãe. Jamais pensaria em matar dona Olinda Bonturi Bolsonaro. Do contrário, Queiroga talvez se apresentasse como voluntário para depor a favor do chefe. O ministro surpreenderia o juiz e os jurados com um pedido de perdão para um pobre órfão.
Nossa opinião – É uma pena. Poderia ser a liderança brilhante de que o Estado precisa, numa época tão carente de grandes líderes políticos. Para sair tão puxa-saco deveria ter continuado a ser apenas médico. (LGLM)