José Ozildo dos Santos (http://construindoahistoriahoje.blogspot.com)
OS PRIMEIROS HABITANTES DA REGIÃO
Até os primórdios do século XVIII, o Sertão das Espinharas era habitado por indígenas da nação tarairiús – verdadeiros tapuias do Nordeste – que desde o princípio, ofereceram forte resistência à penetração lusa e à conquista do interior paraibano. Possuidores de elevada estatura, aqueles silvícolas alimentavam-se basicamente de mel de abelha e frutos silvestres.
Guerreiros corajosos, os tapuias praticavam o endocanibalismo, ou seja, comiam seus próprios parentes, “alegando que o melhor lugar para guardá-los, era dentro de si mesmo”, e, diferenciam-se da nação Cariri, por fazer uso de uma língua truncada, sendo, por isso, considerados ‘bárbaros’ pelo elemento luso-brasileiro. Nação formada por muitas tribos, os tapuias eram nômades. E, segundo estudos recentes, realizados pelo professor José Elias Borges, habitavam o território do antigo município de Patos, os Janduís, os Ariús e os Panatis.
A CONQUISTA DO SERTÃO DAS ESPINHARAS
Na segunda metade do século XVII, iniciou-se o desbravamento e o povoamento efetivo do Sertão das Espinharas. No dia 4 de fevereiro de 1670, o governador geral do Brasil, sediado na Cidade da Bahia, concedeu a chamada ‘Data da Ribeira dos Espinharas’, que teve como beneficiários o capitão Antônio de Oliveira Ledo, Custódio de Oliveira Ledo, capitão Francisco de Abreu e Lima, alferes João de Freitas da Cunha, José de Abreu, Luís de Noronha, Antônio Martins Pereira, Estevam de Abreu de Lima, Sebastião da Costa, Gaspar e Gonçalo de Oliveira Pereira.
A referida concessão abrangia um território correspondente a 50 léguas de extensão, por 12 (doze) de largura, sendo 6 (seis) para cada lado do rio das Espinharas, principiando das nascenças do aludido curso d’água, ao sertão a dentro, tendo como fronteiras a serra da Borborema. No requerimento endereçado ao governo geral, os suplicantes informaram que as referidas terras eram “povoadas de índios” e foram descobertas “com grande dispêndios de suas fazendas e riscos de suas vidas pr. serem de tapuios, qe. nunca tiveram conhecimento de brancos” .
Essa concessão não foi demarcada e nem recebeu confirmação régia. Três anos mais tarde, os irmãos Antônio e Custódio de Oliveira Ledo, associados a Manoel Barbosa de Freitas, obtiveram uma outra data de terra e sesmaria, “que começava das vertentes da Serra do Teixeira, pelo rio das Espinharas abaixo”, com três léguas para cada banda do referido rio.
A presença efetiva do elemento luso-brasileiro, no interior nordestino, despertou revolta entre os tapuias, que pondo-se em armas, passaram a acatar as fazendas de gados, em diversos pontos, causando sérios prejuízos aos colonizadores brancos. Essa revolta, conhecida como “Guerra dos Bárbaros”, em pouco tempo espalhou-se por todo o sertão paraibano, atingindo as capitanias vizinhas do Ceará e do Rio Grande do Norte. E, apesar da superioridade bélica do elemento branco, essa guerra foi longa e desastrosa, somente terminado em idos de 1722, por via diplomática, após a assinatura de um tratado de paz, que foi o primeiro na América Latina, firmado entre um soberano europeu e um chefe indígena brasileiro.
Coube, pois, aos irmãos Teodósio e Francisco de Oliveira Ledo, juntamente com o desbravador Manoel Vidal Curado de Garro, a conquista do sertão das Espinharas, cujo povoamento foi acelerado ainda no início do século XVIII. Assim, aos 18 de fevereiro de 1718, um certo Manoel Alves Gomes, morador da Capitânia da Paraíba, obteve uma data de terra e sesmaria no futuro território patoense, cujas terras localizavam-se por detrás da Serra dos Cavalos, indo até a Serra do Maborigua. Hoje, parte integrante dos municípios de São Mamede e Quixaba.
AS PRIMEIRAS FAZENDAS DA REGIÃO
A primeira fazenda de gado instalada no território patoense, pertencia ao desbravador João Pereira de Oliveira (filho de Antônio de Oliveira Ledo). Oriundo do Baixo São Francisco, aquele pioneiro chegou ao sertão das Espinharas na companhia de seu pai. E, em 1677, já encontrava-se instalado com sua fazenda, às margens do Riacho da Farinha.
No entanto, no início do século XVIII, essa fazenda, com casa de taipa e curral de pau-a-pique, foi vendida ao coronel Domingos Dias Antunes. Anos mais tarde, por morte desse pioneiro, a referida propriedade passou a ser administrada por seus filhos Antônio e Mariana Dias Antunes. Entretanto, a parte herdada por Antônio Dias Antunes, na segunda metade daquele século, foi vendida ao capitão Paulo Mendes de Figueiredo, que instalou sua fazenda de gados nas proximidades da lagoa ‘dos Patos’, de onde provém o topônimo, que passou a designar o arraial, núcleo inicial da atual cidade de Patos.
A CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA
Antiga Igreja Matriz de Nossa da Guia, concluída em 1772. Hoje, capela de
Nossa Senhora da Conceição
Movidos pela fé, Paulo Mendes de Figueiredo e sua esposa Maria Teixeira de Melo, associados ao desbravador João Gomes de Melo e sua esposa Mariana Dias Antunes, aos 26 de março de 1766, doaram partes de suas terras para a constituição do patrimônio da futura capela de Nossa Senhora da Guia, que pretendiam erigir no arraial, que se formava. Esse patrimônio, ratificado aos 28 de novembro de 1786, mais tarde, foi aumentado por doações de outros moradores da região.
Em 1772, a capela de Nossa Senhora da Guia já estava concluída e ao seu redor, os fazendeiros Paulo Mendes e João Gomes de Melo construíram as primeiras casas de moradas. As estes pioneiros, cabe a fundação da povoação dos ‘Patos’, que, aos poucos, foi adquirindo delineamento urbano. Nota-se, portanto, que a cidade de Patos nasceu da conjunção do elemento religioso, apoiado na atividade econômica, representada pela pecuária, que incentivou o povoamento dos sertões nordestinos.
DE POVOAÇÃO À VILA
A localização privilegiada, a existência de aguadas e a fertilidade do solo, foram fatores que contribuíram para o rápido crescimento da pacata povoação, que adquirindo importância econômica, tornou-se sede da Freguesia de Nossa Senhora da Guia, criada através da Provisão Régia nº 14, de 8 de outubro de 1788. Seu território, foi desmembrado da Freguesia de Nossa Senhora Santana, sediada na antiga Vila Nova do Príncipe, atual cidade de Caicó, no vizinho Estado do Rio Grande do Norte (e não, da Matriz de Pombal, como até agora vem sendo divulgado), abrangendo o território da Ribeira das Espinharas e prolongando-se “até a fazenda do Jardim e a Capela de Santa Luzia, com todos os seus moradores na distância de quatro léguas em circulo”.
Antiga Casa da Câmara e o largo da Matriz de Nossa Senhora da Guia
Aos 9 de maio de 1833, por Resolução do Conselho da Província, foi criada a Imperial Vila de Patos, desmembrada do município de Pombal, antiga povoação de Nossa Senhora do Bonsucesso (do Piancó). Nesta data, verificou-se a emancipação política de Patos, pois, de acordo com a legislação do Império, a elevação de uma povoação à categoria de vila, dava-lhe o status de município, com autonomia e Conselho Administrativo próprio.
Sua instalação ocorreu no dia 22 de agosto daquele ano. Logo no início de 1834, a Câmara Municipal de Patos enviou à Assembléia Geral, uma longa representação, solicitando a revogação do Decreto de 25 de outubro de 1831, que demarcou o território da antiga Vila Nova do Príncipe (Caicó-RN). No entanto, a referida representação não atingiu seus objetivos.
No plano religioso, em junho de 1839, a Freguesia de Nossa Senhora da Guia recebeu sua primeira visita pastoral, realizada por Dom João da Purificação Marques Perdigão, bispo de Olinda, a cuja diocese encontrava-se subordinado todo território paraibano. Em Patos, aquele diocesano sofreu “grande amargura por causa do depravado procedimento do vigário”, que publicamente vivia em concubinato com uma senhora da vila, morando na mesma casa e de cuja união, proibida aos olhos da Igreja, havia alguns filhos. No entanto, o ilustre visitante limitou-se a determinar que o referido vigário, providenciasse residência para sua amante, em local distante da sede da freguesia.
Ainda na primeira metade do século XIX, um fato registrado na história de Patos, que merece destaque, foi a passagem de Frei Caneca pelo território patoense, na companhia de alguns confederados aprisionados. O mártir da Confederação do Equador, chegou à povoação de Patos, na tarde do dia 7 dezembro de 1824, escoltado por um pelotão das forças legais à Coroa. Aquele religioso deixou escrito em seu ‘diário de viagem’, a impressão que teve da pacata povoação, onde foi bem recebido e jantou na casa do padre Antônio da Silva Costa, que hospedou-o com muita afabilidade.
Em 1855, a população de Patos, totalizava 5.066 almas, sendo que 660 eram escravos. No ano seguinte, seu território foi assolado pela epidemia do cólera morbus, o conhecido ‘mal do Ganges’, vitimando 24 pessoas, que foram sepultadas em valas coletivas e distante do perímetro urbano.
Passada aquela epidemia, o governo provincial determinou a construção do primeiro cemitério na Vila de Patos. Antes, porém, os mortos eram sepultados no interior da Matriz de Nossa Senhora da Guia. Coube ao vigário Manoel Cordeiro da Cruz, a missão de benzer o referido cemitério, bem como, sua cruz, fato ocorrido no dia 19 de janeiro de 1857, em solenidade que contou com a presença de grande número de pessoas e do padre José Jácome de Fontes, coadjutor da Freguesia de Nossa Senhora da Guia.
Aos 8 de outubro de 1860, chegava à Vila de Patos, procedente de Pombal, o Dr. Luís Antônio da Silva Nunes, Presidente da Província, em visita ao interior da Paraíba, oportunidade em que foi saudado pelos membros da Câmara Municipal, sob a presidência do vereador João Machado da Costa, hospedando-se na residência do vigário local.
A CRIAÇÃO DO TERMO JUDICIÁRIO E DA COMARCA
Juridicamente, a Imperial Vila de Patos integrou à Comarca de Pombal até 29 de outubro de 1864, quando, através da lei provincial nº 139, passou a pertencer à unidade judiciária da Vila de Teixeira. Esta, por força da lei nº 597, perdeu seu status, sendo a referida comarca transferida para a Vila de Patos, aos 26 de novembro de 1875.
No entanto, aos 18 de fevereiro de 1879, o referido juizado retornou à Vila do Teixeira, voltando a Vila de Patos à condição de termo judiciário. A futura capital das Espinharas somente conquistou sua independência judiciária, após a Proclamação da Republica, quando, no governo Venâncio Neiva, tornou-se novamente sede de comarca (Decreto nº 5, de 22 de janeiro de 1890).
Centro da Cidade de Patos, no final da década de 1920
Entretanto, no dia 1º de junho de 1929, aquela unidade judiciária foi suprimida por força do decreto nº 1.591. Mas, sendo logo restabelecida a 18 de setembro daquele ano (decreto nº 1681) e reinstalada no dia 17 do mês seguinte, pelo Dr. Manoel Simplício de Paiva, seu novo titular.
Durante o Império, a vida política patoense girou em torno de vários nomes, a exemplo do capitão Ildefonso Aires Cavalcanti de Albuquerque, do padre Manoel Cordeiro da Cruz, do capitão Ló (Jerônimo José da Nóbrega) e do coronel Manoel Gomes dos Santos, todos eleitos deputados provinciais. A este último, coube até 1904, a chefia política do município de Patos.
A CONSTRUÇÃO DA SEGUNDA IGREJA
Ainda na segunda metade do século XIX, por sua importância econômica, a Vila de Patos passou a projeta-se no interior paraibano, apresentando um crescimento populacional de forma considerável, impondo ao vigário Joaquim Alves Machado a obrigação de construir uma nova matriz, uma vez que a antiga Igreja não comportava mais seus fiéis.
Segunda Igreja Matriz de Patos, na década de 1930
Assim, aos 18 de abril de 1893, o referido vigário, endereçou uma petição ao bispo de Olinda – ao qual era subordinado – solicitando autorização para erigir uma nova igreja matriz. Devidamente autorizado, o referido sacerdote lançou a pedra fundamental para a construção da segunda matriz de Patos (hoje, servindo como Catedral), localizada na atual Avenida Epitácio Pessoa, em solenidade realizada aos 22 de outubro de 1893, que contou com a participação de grande massa popular.
A ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE
Pela Lei Estadual nº 200, de 24 de outubro de 1903, a Vila de Patos foi elevada à categoria de cidade. Na época, o referido município era representado na Assembléia Legislativa pelo deputado Leôncio Pereira Monteiro Wanderley. No entanto, para facilitar o tramite nas comissões parlamentares e atendendo as conveniências da política, o projeto que deu origem aquela lei foi apresentado pelo deputado José Campelo de Albuquerque. Aprovado, foi o mesmo sancionado pelo Dr. José Peregrino de Araújo, Presidente do Estado e pai do médico de igual nome, futuro dirigente do município de Patos.
Antiga Casa da Câmara e o Colégio Diocesano, no final da década de 1930
A VIDA ADMINISTRATIVA
Logo após a Proclamação da República, a gestão administrativa dos municípios paraibanos – por força da Lei nº 9, de 17 de dezembro de 1892 – passou a ser desempenhada pelo Conselho Municipal. E, para preenchimento do referido cargo no município de Patos, o Dr. Álvaro Machado – segundo Presidente da Paraíba, no novo regime – em princípios de 1893 (e não em 1897, como até agora vem sendo divulgado), designou o senhor Constantino Dantas Correia de Góis, por indicação do Dr. Manoel Dantas, líder político de Teixeira e futuro presidente da Assembléia Legislativa.
Inauguração da Ponte do São Sebastião, sob o Rio Espinharas, em 1923
Inauguração da Ponte do São Sebastião, em 1923
Em 1895, criado o cargo de prefeito municipal (Lei nº 27, de 2 de março), aquele cidadão foi mantido à frente da administração local, tornando-se o primeiro prefeito patoense. E, embora o referido cargo tenha sido extinto aos 25 de outubro de 1900, Constantino Dantas administrou a cidade de Patos até 2 de dezembro de 1904, na condição de presidente do novo Conselho Municipal e não como interventor, como afirmam alguns pesquisadores locais. Para substituí-lo, foi designado o senhor Sizenando Florindo de Sousa, cuja nomeação marcou o início da ascensão da família Sátyro, no cenário político municipal.
Festa de Nossa Senhora da Guia, em 1922
Dessa época até finais de 1930, o município de Patos foi administrado pelos seguintes agentes públicos: Sizenando Flórido de Sousa (1904-1907); Sebastião Ferreira da Nóbrega (1907-1913), José Peregrino de Araújo Filho (1913-1928); Firmino Ayres Leite (1928-1930) e Canuto Torres (1930), todos sob a tutela política do ‘major’ Miguel Sátyro.
Hotel Central, no cruzamento da Rua Epitácio Pessoa com a atual Pedro Firmino, década de 1940
Centro da cidade Patos na década de 1940
Colégio Rio Branco, no centro de Patos, ao lado, o prédio da prefeitura, em construção
Cine Eldorado (hoje demolido), década de 1950
Aspectos do centro de Patos no final da década de 1940
Aspectos do centro de Patos no final da década de 1940
Rua Felizardo Leite, na década de 1940
Rua Solon de Lucena, no final da década de 1940
Rua Solon de Lucena, no final da década de 1930, antes da construção
da atual Catedral de Nossa Senhora da Guia
Durante a ditadura Vargas, a exemplo dos outros municípios brasileiros, Patos viveu um clima de instabilidade administrativa, tendo sido governado por nove prefeitos discricionários, nomeados pelo regime revolucionário. Redemocratizado o país, nas eleições realizadas a 17 de janeiro de 1947, o Dr. Clóvis Sátiro e Sousa foi eleito para dirigir os destinos administrativos de Patos, tornando-se o primeiro prefeito constitucional do município, após a queda do Estado Novo.
Seguidamente, foram eleitos os seguintes prefeitos: Darcílio Wanderley (1951-1955); Nabor Wanderley (1955-1959); Bivar Olinto (1959-1963); José Cavalcanti da Silva (1963-1969); Olavo Nóbrega (1969-1973); Aderbal Martins (1973-1977); Edmilson Fernandes Mota (1977-1983); Rivaldo Medeiros (1983-1989); Geralda Medeiros (1989-1992), Antônio Ivânio de Lacerda (1993-1996) e Dinaldo Wanderley (1997-2000 e de 2001-2004).
Bivar Olinto no dia de sua posse como prefeito de Patos-PB
Em princípios de 1963, Bivar Olinto renunciou a Prefeitura Municipal de Patos, após ser convocado para ocupar uma vaga na Câmara dos Deputados e teve seu mandato concluído pelo vice Otávio Pires de Lacerda. Atualmente, a ‘Cidade Morada do Sol’ é administrada pelo Dr. Nabor Wanderley Filho, que eleito em 2004, deverá governar até 31 de dezembro de 2008.
A IMPRENSA PATOENSE
A imprensa chegou à cidade de Patos, em 1914. Naquele ano, Genésio Gambara – ilustre advogado provisionado e homem de letras, que eleito deputado estadual, teve uma atuação destacada no plenário da Assembléia Legislativa – fundou o jornal ‘A Voz do Sertão’, cujo primeiro número circulou no dia 14 de março daquele ano.
Posteriormente, surgiu ‘O Jornal do Sertão’, sob a direção do ‘major’ Miguel Sátiro, considerado a maior expressão do cenário político patoense, durante a República Velha. Esse jornal, em sua primeira fase, circulou de 1916 a 1917, e, numa segunda, de 1925 a 1926. Atualmente, editam-se na cidade de Patos os seguintes jornais: ‘A Folha Patoense’, ‘A Voz do Povo’, ‘O Sertão’, e o ‘Jornal Empresarial’ – além da revista ‘O Nosso Recado’ – todos de circulação mensal.
Por muito tempo, a população patoense, reivindicou uma agência bancária. E, graças a iniciativa do agropecuarista João Olinto de Melo e Silva, foi fundado o Banco Agrícola de Patos, em solenidade realizada a 20 de outubro de 1925, no salão nobre da extinta Associação dos Empregados no Comércio. Em finais do ano seguinte, a cidade recebeu a visita do Dr. Washington Luís, recém-eleito presidente da República, que encontrava-se em visita aos estados do Nordeste.
PADRE FERNANDO GOMES: DO VICARIATO AO ARCEBISPADO
Em 17 de dezembro de 1936, o padre Fernando Gomes dos Santos foi nomeado vigário da Paróquia de Patos. Sacerdote virtuoso, foi o segundo patoense a reger a Matriz de Nossa Senhora da Guia, empossando-se em suas novas funções no dia 1º do mês seguinte.
Em seu vicariato – que durou seis anos – conseguiu realizar uma ação pastoral das mais produtivas para a cidade de Patos. Remodelou e ampliou a Igreja Matriz; adquiriu um imóvel, que passou a servir como Casa Paroquial; fundou ‘Ação Católica’; criou o ‘Círculo Operário’ (25-02-1940) e fundou a ‘Casa dos Pobres’ (1942), transformada, posteriormente, em ‘Dispensário dos Pobres’.
Igreja de Nossa Senhora da Guia, atual Catedral, no início da década de 1940
Preocupado com a educação de seus conterrâneos, o padre Fernando Gomes instalou ‘Colégio Cristo Rei’ (04-03-1938) e o ‘Ginásio Diocesano’, garantindo o desenvolvimento cultural da juventude patoense. E, tanto fez que conquistou a estima total de seus paroquianos.
Sua magnífica ação pastoral contribuiu para a distinção com o canonicato, ocorrida em 18 de junho de 1941. No ano seguinte, aos 18 de janeiro, o cônego Fernando Gomes dos Santos foi agraciado com o título de monsenhor e por fim, no dia 12 de janeiro de 1943 – aos 33 anos de idade incompletos – ascendeu ao episcopado, sendo nomeado bispo da Diocese de Penedo-AL. Em 1949, tornou-se titular da Diocese de Aracajú.
Dom Fernando, no dia de sua sagração episcopal
Posteriormente, ascendendo ao arcebispado, foi nomeado para ocupar a Arquidiocese de Goiânia, onde empossou-se no dia 16 de junho de 1957. Perfeito exemplo de levita do senhor, além de ser considerado o mais ilustre de todos os patoenses, Dom Fernando é tido como a uma das maiores figuras do clero brasileiro.
A CHEGADA DO PROGRESSO
Até o início da segunda metade do século passado, o município de Patos teve a cultura do algodão como sua principal fonte econômica. Essa cultura, bastante difundida no sertão paraibano, possibilitou a instalação de grandes empresas na cidade de Patos, a exemplo da CICA, da Anderson Clayton e da SANBRA. Esta última, encerrou suas atividades em 1º de abril de 1980, face o declínio da cultura do algodão, na região.
Instalações da CICA, em Patos, final da década de 1940
No final da primeira metade do século XX, Patos tornou-se o principal
centro de comercialização de algodão em todo o sertão paraibano
Esse progresso econômico, assinalado a partir de 1934, proporcionou a fundação da Associação Comercial Industrial e Agrícola de Patos, ocorrida no dia 1º de novembro de 1943. Na década de 50, a indústria predominante no município era a têxtil, representada pelo beneficiamento do algodão, que possibilitou uma produção industrial de 116 milhões de cruzeiros, em 1954. Nesse mesmo ano, o município foi considerado o primeiro produtor de oiticica no Estado, apresentando uma produção de 1.893 toneladas.
Em 1974, Patos possuía 151 unidades industriais, ocupando quase 700 trabalhadores diretos e explorando os ramos de vestuário, calçados e artefatos de tecidos. Nos últimos anos, a indústria de calçados vem crescendo de maneira satisfatória no município, e, hoje, constitui-se num dos maiores sustentáculos da economia local.
A CRIAÇÃO DA DIOCESE
Como cidade pólo, Patos tornou-se sede da segunda diocese do sertão paraibano, criada em 17 de janeiro de 1959, através da Bula ‘Quando quidem Deus’, assinada pelo Papa João XXIII. A referida diocese foi instalada aos 12 de julho daquele ano, oportunidade em que Dom Expedito Eduardo de Oliveira, tomou posse na condição de seu primeiro bispo. Natural de Pacatuba-CE, aquele ilustre diocesano faleceu prematuramente no dia 8 de maio de 1983, após 24 anos de muito trabalho e dedicação ao povo patoense.
O segundo titular da diocese de Patos foi Dom Gerardo Andrade Ponte, que empossado aos 26 de fevereiro de 1984, governou o sólio patoense até 1º de dezembro de 2001, quando tornou-se bispo emérito e foi substituído por Dom Manoel dos Reis de Farias, ainda em exercício. Hoje, a diocese e o poder público municipal, desenvolvem vários projetos de ação social, visando o resgate da cidadania e beneficiando as comunidades mais pobres da periferia da cidade.
A INSTALAÇÃO DA PRIMEIRA EMISSORA DE RÁDIO
O primeiro veículo de comunicação radiofônica da cidade de Patos foi a ‘Rádio Espinharas’, oficialmente instalada no dia 1º de agosto de 1950. A referida emissora nasceu a serviço da política e nessa condição, permaneceu até 1963. No ano seguinte, após um curto período de inatividade, foi adquirida pela diocese, por iniciativa de Dom Expedito Eduardo de Oliveira, passando a desenvolver o programa do ‘Movimento de Educação de Bases’.
A CAMPANHA MUNICIPALISTA DA DÉCADA DE 60
Em finais de dezembro de 1961, do território do antigo município de Patos, foram desmembrados os municípios de Salgadinho (Lei nº 2.676), Santa Terezinha (Lei nº 2.677), Passagem (Lei nº 2.679), Cacimba de Areia (Lei nº 2.689) e São José de Espinharas (Lei nº 2.697), cujos projetos de lei foram apresentados na Assembléia Legislativa, pelo deputado José Cavalcanti da Silva, que representou o município de Patos, na ‘Casa de Epitácio Pessoa’, durante quatro legislaturas. Hoje, o município de Patos é composto por dois distrito: o da sede e o de Santa Gertrudes.
O NASCIMENTO DAS FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS
Em 1968, num gesto pioneiro e ousado, por iniciativa do senhor José Gomes Alves, foi instalada a Faculdade de Economia de Patos, cabendo sua coordenação e manutenção à Fundação Francisco Mascarenhas, que deu a Patos, o status de ‘Cidade Universitária’. E, hoje, oferece os cursos de Economia, Pedagogia, Letras, História, Geografia, Jornalismo, Informática e Enfermagem, através das Faculdades Integradas de Patos (FIP), que constituem-se no maior complexo educacional do sertão paraibano.
UM PATOENSE NO GOVERNO DA PARAÍBA
De 1971 a 1975, Paraíba foi administrada por Ernani Aires Sátyro e Sousa, ilustre jurista patoense, que eleito deputado federal, representou a Paraíba no Parlamento Nacional, por dez legislaturas. Durante seu governo, a cidade de Patos foi bastante beneficiada. Entre as várias obras aqui realizadas, nesse período, destacam-se o ‘Fórum Municipal Miguel Sátiro’, a ‘Barragem da Farinha’, o ‘Colégio Capitão Manoel Gomes’, a ‘Unidade Administrativa Integrada’, a ‘Escola de 1º Grau Rio Branco’, além da ‘Estrada Redenção do Vale’ (trecho Patos-Itaporanga).
Ernani Sátyro, governador da Paraíba
PATOS: CELEIRO DA CULTURA E BEÇO DE GRANDES NOMES
Considerada com um dos celeiros da cultura paraibana, a cidade de Patos é terra natal de muitos expoentes do jornalismo e das letras provincianas, a exemplo de João Rodrigues Coriolano de Medeiros, Ernani Sátyro, Allyrio Meira Wanderley, Nelson Lustosa, Fátima Araújo, Flávio Sátiro Fernandes, Balila Palmeira, José Urquiza e Tarcísio Meira César, entre outros.
José Antônio Urquiza, advogado, professor universitário e escritor
Na política, sua primeira figura de projeção foi o Dr. Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque, que eleito deputado provincial, estadual e federal, em várias legislaturas, presidiu a Assembléia Legislativa por duas vezes. E, ao falecer em 1908, estava eleito para o Senado da República.
Apolônio Zenaide, político e advogado patoense
Depois de Apolônio Zenaide, o patoense de maior destaque no cenário político estadual e nacional, foi o Dr. Ernani Ayres Sátyro e Sousa – ilustre jurisconsulto e homem de letras – que eleito deputado federal por várias vezes, governou a Paraíba, permanecendo em evidência até 1986, quando faleceu.
No plano cultural, durante o Governo Burity-II, através do decreto nº 5.048, de 21 de julho de 1988, foi criada em Patos a ‘Fundação Ernani Sátyro’, com o objetivo de preservar a memória de seu patrono e dinamizar a cultura no sertão paraibano.
Numa iniciativa pioneira em todo o sertão paraibano, aos 24 de outubro de 1997, fundou-se o Instituto Histórico e Geográfico de Patos, instituição que tem por finalidade promover e divulgar a pesquisa histórica e geográfica na região das Espinharas, e, que também visa resgatar os valores culturais e salvaguardar a memória histórica do povo patoense.
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Artigo publicado no jornal Correio da Paraíba, João Pessoa-PB, edição de 24 de outubro de 2005.
Obrigado pelas informações