Governo e Congresso fecham acordo para resolver impasse do Orçamento

By | 19/04/2021 5:27 pm

Expectativa é que a medida ajude a abrir espaço para acomodar as emendas parlamentares acatadas pelo relator da proposta

(Danielle Brant, Renato Machado e Bernardo Caram, na Folha, com comentário nosso)

Governo e Congresso fecharam um acordo nesta segunda-feira (19) para aprovar projeto de lei que busca resolver o impasse do Orçamento deste ano e retirar o programa de corte de jornada e salários, o Pronampe e gastos emergenciais com saúde​ da meta fiscal.

​A expectativa é que a medida ajude a abrir espaço para acomodar as emendas parlamentares acatadas pelo relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC), na construção de seu parecer.

O texto do projeto de lei do Congresso Nacional foi originalmente enviado pelo governo para retirar a exigência de compensação para criar programas temporários neste ano. Em acordo entre líderes, a medida foi incrementada com outros dispositivos.

O relator do PLN, deputado Efraim Filho (DEM-PB), acatou uma emenda do senador Rogério Carvalho (PT-SE) que retira da meta de resultado primário os créditos extraordinários voltados às despesas com ações e serviços públicos de saúde, desde que identificadas em categoria de enfrentamento à pandemia de Covid-19.

Também ficam excluídos da meta os gastos com o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.

Essas ações, liberadas por meio de crédito extraordinário, já estariam fora do teto de gastos, regra que limita as despesas do governo à variação da inflação. No entanto, elas ainda contariam na meta —compromisso feito pelo governo para evitar crescimento da dívida pública que corresponde à diferença entre receitas e despesas primárias, exceto gasto com juros.De acordo com o Ministério da Economia, o programa de emprego e o Pronampe estão em processo de finalização e terão custo de R$ 15 bilhões. Segundo a pasta, as duas ações, que já vigoraram em 2020, serão relançadas após a aprovação dessa flexibilização orçamentária pelo Congresso.

Em outro dispositivo elaborado para resolver o impasse sobre o Orçamento, o governo terá maior liberdade para remanejar recursos, sem a necessidade de validação do Congresso para fazer certas movimentações de verba. Ele poderá, por exemplo, cortar por decreto despesas discricionárias —aquelas voltadas ao custeio da máquina pública e investimentos— para recompor gastos obrigatórios, como aposentadorias e outros benefícios.

A medida é considerada necessária porque o Orçamento deste ano está com despesas obrigatórias subestimadas. A equipe econômica vinha defendendo a necessidade de recomposição dessas rubricas. Caso contrário, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estaria sujeito a cometer crime de responsabilidade e ficaria vulnerável à abertura de um processo de impeachment.

“Vamos conseguir fazer um bloqueio de R$ 9 bilhões em despesas discricionárias por parte do governo para fazer a compensação em despesas obrigatórias”, explicou o deputado. “Assim, dá um resultado na meta fiscal para adoção e reedição de medidas protetivas para o empregador e para o emprego.”

Segundo líderes do Congresso, após a aprovação da medida, Bolsonaro poderá sancionar o Orçamento deste ano com até R$ 18 bilhões em emendas do relator, cedendo à pressão de parlamentares.

Em uma rede social, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, criticou a manobra. “Vamos ver se eu entendi. Essa emenda coloca fora do teto o Programa do Bem e o Ponampe, de aproximadamente 16 bilhões, para poder sancionar a emenda de relator de 16 bilhões”, disse. “É ou não é um orçamento criativo?”

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), defendeu as mudanças feitas pelo relator. “O governo assume, de público, o compromisso com as mudanças efetuadas e espera, evidentemente, que continuemos nesta Casa construindo uma política e uma cultura de acordo”.

O PLN precisa ser aprovado pela Câmara e pelo Senado. Com isso, o presidente Jair Bolsonaro poderá sancionar o Orçamento até a próxima quinta-feira (22), data limite do prazo.

O Orçamento de 2021 foi aprovado pelo Congresso com menos verba que o necessário em despesas obrigatórias, para dar espaço às emendas, e com riscos de pedaladas nos mesmos moldes da usada como base para derrubar Dilma Rousseff (PT).

Por isso, Bolsonaro estava em meio a um impasse. Ou sancionava o Orçamento e corria risco de uma acusação por crime de responsabilidade ou vetava ao menos parcialmente o trecho e desagrava o Congresso.

O impasse em torno do Orçamento fez crescer relatos de insatisfação do ministro Paulo Guedes (Economia) no Congresso e na ala política do governo. A equipe econômica acredita que o ministro está sendo alvo de “fogo amigo”, principalmente por causa da articulação de Onyx Lorenzoni (Secretaria-geral da Presidência) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) para desgastá-lo.

Após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pautar uma versão alternativa dos programas emergenciais, de autoria do senador Esperidião Amin (PP-SC), a equipe de Guedes, então, encaminhou a proposta que altera a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), agora aprovada pelos deputados federais.

Na manhã desta segunda, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pressionou pela aprovação do projeto. Em uma rede social, Lira, líder do centrão, atribuiu a demora na votação do Orçamento às “dificuldades criadas pela gestão do meu antecessor [Maia] e os seus compromissos políticos”.

“Agora depois de aprovado com amplo acordo que incluiu o governo, as críticas são injustas e oportunistas, cabendo ao governo propor soluções que atendam às demandas acordadas durante a votação, respeitando todos os limites legais e o teto de gastos”, disse.

As declarações foram rebatidas por Maia, que afirmou que Lira “virou humorista”. “Aliás, a sanção do orçamento de 2021 só pode ser uma piada”, afirmou.

Nossa opinião

Sem poder resistir à chantagem do Congresso, Bolsonaro aceitou a proposta do Centrão e fez um acordo para sancionar o Orçamento do jeito que o Congresso quis. O que o Congresso queria eram 18 bilhões de reais para os parlamentares “lubrificarem” seus redutos eleitorais e garantirem a sua eleição em 2022. Se fizeram isso este ano, imaginem o que que serão capazes de fazer o ano que vem que é o ano das eleições. E nós contribuintes é que vamos pagar a conta. Pode faltar dinheiro para outras coisas, mas não faltará para as emendas parlamentares. (LGLM)

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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