Congresso vê Bolsonaro nas mãos do Centrão após sanção do Orçamento com preservação de emendas 

By | 25/04/2021 5:54 am

(Daniel Weterman e Camila Turtell, no Estadão com comentário nosso)

sanção do Orçamento de 2021 com uma engenharia para fechar as contas é vista nos bastidores do Congresso como uma vitória do Centrão, bloco de partidos que apoiam o governo em troca de verbas e cargos, e uma derrota para o ministro da EconomiaPaulo Guedes. Nenhuma das duas alas, porém, saiu totalmente satisfeita.

Fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast apontam que as verbas de interesse direto dos caciques partidários foram preservadas após um cabo de guerra entre a cúpula do Congresso, que pressionava pela sanção integral do projeto, e Guedes, que queria vetar todas as emendas de relator.

O presidente Jair Bolsonaro vetou um total de R$ 19,8 bilhões em verbas, dos quais R$ 11,9 bilhões eram fruto de emendas parlamentares – recursos que os deputados e senadores indicam para suas bases eleitorais. Além disso, o presidente anunciou um bloqueio de R$ 9,3 bilhões em despesas do Executivo e enviou um novo projeto de lei para recompor os gastos obrigatórios. Mesmo com os cortes, as emendas ainda ficaram em um patamar de R$ 35,5 bilhões, semelhante ao valor autorizado em 2020, ano de eleições municipais.

O ministro da Economia chegou a defender inicialmente um veto em todas as emendas indicadas pelo relator do Orçamento, senador Marcio Bittar (MDB-AC), um total de R$ 29 bilhões. A cúpula do Legislativo reagiu e pressionava pela sanção integral, mas, no final das contas, recuou e aceitou a preservação de R$ 18,5 bilhões dessas indicações, dos quais R$ 16,5 bilhões são considerados “emendas-chave” para atender aos caciques políticos da Câmara e do Senado. É o valor que tinha sido combinado com o Congresso para a aprovação da PEC emergencial, que garantiu mais uma rodada do auxílio a vulneráveis em 2021.

Nos bastidores, o fato de Bolsonaro não atender a um pedido de Guedes em um veto presidencial chamou a atenção. Inicialmente, o ministro pedia veto integral nas emendas de relator e aceitou a preservação de parte dessas verbas em troca de cortes maiores em despesas discricionárias, aquelas geridas diretamente pelo Executivo, como custeio e investimentos. A solução, porém, é questionada por parlamentares e técnicos, que veem risco de paralisia no funcionamento da máquina federal.

Em ocasiões anteriores, a estratégia de Bolsonaro foi diferente: o presidente ouvia Guedes, vetava medidas aprovadas pelo Congresso e depois liberava a base de apoio no Legislativo para derrubar os próprios vetos. Foi o que aconteceu, por exemplo, na prorrogação da desoneração da folha salarial e no perdão tributário a igrejas. Além disso, o ministro saiu do processo criticado por parlamentares que lideram as articulações para a aprovação do Orçamento em função dos ruídos e dos ataques feitos nos bastidores.

“Tudo isso mostra a fragilidade do governo, que se rende a uma situação dessa natureza. O governo está na palma da mão do Centrão. Se o Centrão virar a palma da mão para baixo, o governo cai”, afirmou o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Otto Alencar (PSD-BA). “Guedes tem suportado no cargo, mas a insegurança que o presidente dá para os ministros do governo é fora da razão.”

Ministério do Desenvolvimento Regional, chefiado pelo ministro Rogério Marinho e considerado um ativo eleitoral de Bolsonaro, foi o que mais perdeu nos cortes, mas ainda assim manteve uma verba de obras considerável para negociar com os parlamentares ao longo do ano. De uma projeção inicial de R$ 9 bilhões, saiu com um orçamento de quase R$ 15 bilhões. Cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado mostram o tamanho do veto dentro dessa pasta: R$ 5,5 bilhões em emendas de relator e R$ 2,7 bilhões em verbas discricionárias, sob controle direto da pasta de Marinho.

Em meio à sinalização de vetos, Câmara e Senado se uniram para preservar pelo menos as emendas de maior interesse. “Faltou habilidade do Ministério de Economia para acompanhar o processo mais de perto desde o início. Independentemente com quem tenha sido fechado, o acordo tem que ser cumprido”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF). “Os vetos de Bolsonaro não resolvem todo o problema do Orçamento. Agora, vai acontecer o que tanto avisamos. Bolsonaro fica nas mãos do Centrão, de quem precisará do apoio para manter os vetos e aprovar os projetos necessários”, afirmou o líder do Novo na Câmara, Vinicius Poit (SP).

Da base do governo, o deputado Vinícius Carvalho (Republicanos-SP) acredita que o governo fez o que era necessário e que poderá ir ajustando a peça ao longo do ano. “Estamos caminhando em busca do êxito. Hoje quem está ganhando? Ninguém. E o País precisa ganhar e só vamos ganhar se nós não nos digladiarmos e juntarmos forças”, disse. Ele afirma ainda que Guedes teria “entendido a conjuntura política” e aceitado a decisão de Bolsonaro. “Guedes, eu tenho certeza de que ele entendeu perfeitamente porque ele é um baita técnico, uma pessoa que entende muito do setor dele e há de compreender essa conjuntura política necessária para se alcançar o objetivo”.

 

Nossa opinião

  • Bolsonaro passou 28 anos flanando na Câmara dos Deputados, como um ilustre desconhecido sem aprender as malandragens da política. Resultado, agora o Centrão “botou ele no bolso”, na questão do orçamento. Deputados e senadores garantiram para si vinte bilhões de reais em emendas que destinarão para seus redutos eleitorais para garantir a própria reeleição em 2022. E Bolsonaro ficou com as mãos amarradas talvez sem dinheiro para muitas das despesas que será obrigado pagar este ano. Os deputados e senadores se garantiram, mas Bolsonaro ficou na mão dos malandros do Congresso. Além da questão do orçamento ainda tem que lidar com a CPI da pandemia, onde os senadores também poderão fazer “gato e sapato” com ele. Quem escapar da COVID verá.  E eu espero também estar vivo para conferir. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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