(Luiz Gonzaga Lima de Morais)
Além dos problemas de saúde e de economia gerados pela pandemia da COVID 19, há uma outra sequela que vai deixar rastros danosos nas famílias brasileiras. E muita gente não se tem apercebido desta sequela.
Uma das medidas mais preconizadas pelas autoridades sanitárias no combate à pandemia, além do uso da máscara e outras medidas de higiene, é o isolamento social e com ele o confinamento das famílias em casa.
Uma das consequências do confinamento é obrigar a convivência de marido e mulher dentro de casa o dia todo. Este já era um problema provocado pela aposentadoria de marido e mulher e de há muito nos casos de desemprego. Além da permanência em casa dos funcionários em “home-office”. Esta convivência diária passa a provocar atritos entre marido e mulher, que podem levar à violência e à destruição do casamento.
Não é à toa que muitos sinais disso têm acontecido do ano passado para cá. Segundo os observadores têm aumentado os casos de separação e divórcio e de violência entre os casais que tem resultado até em mortes entre companheiros e ex-companheiros.
Eu já tinha ouvido alguns comentários sobre o assunto, mas o fato voltou a me chamar a atenção pelo que aconteceu com um amigo meu. Trata-se de um velho amigo, daqueles que hoje existem poucos. Amigo de infância de que nunca nos afastamos muito, ao longo do tempo. Sempre que nos encontrávamos trocávamos confidências. Como ia o trabalho, como ia o casamento, como iam os filhos, como ia o patrimônio.
E a vida dele seguia sem tropeços, até chegar a aposentadoria. Aí começaram os atritos. A mulher, segundo ele, reclamava de tudo,. principalmente das saídas dele para jogar um “dominòzinho”, um carteado com os amigou ou só para “bater-papo” e que terminavam sempre numa birita para abrir o apetite para o almoço ou o jantar. Mas a mulher achava que ele estava era indo “atrás de putas”, até porque ele estava ficando meio desinteressado do “namoro” em casa. Ele confessou que realmente aqui e acolá dava uma “puladinha de cerca”, mas coisa rara, com uma namorada do tempo de solteiro, que, agora viúva, precisava de uma “assistenciazinha” como ele dizia. Coisa bem discreta, sem alardes.
Mas vinha conseguindo administrar esse problema. As coisas pioraram com a pandemia. Confinados os dois, aumentaram os atritos. O recurso para se manter em contato com os amigos era o celular. Mas a mulher cismava que ele estava falando com as putas e marcando tratos, que se concretizavam nas raras saídas que dava. E surgiram até alguns incidentes em que quase ocorriam violências entre os dois. Segundo ele, a mulher, com frequência, fica-o agredindo verbalmente, “esculhambando” com ele.
E outra questão que o vem atormentando. Reclamando do confinamento, a mulher tem saído com frequência, com a desculpa de fazer compras. Só que as compras são para os shoppings onde faz compras não programadas e desnecessárias e tem estourado seus cartões de crédito. Imaginem o resultado.
A vida se tornou um tormento e já está até pensando numa separação, segundo me disse no último contato telefônico. Até para evitar perder a paciência e “fazer uma besteira”.
Alguns amigos já me relataram problemas semelhantes, mas este é o que chegou, no meu conhecimento, a uma situação mais grave e com maiores detalhes, por conta da intimidade decorrente da nossa antiga amizade.
Esta seria uma sequela da pandemia pouco notada pela população, mas não menos séria do que as sequelas na saúde e na economia. Já há pesquisas que atribuem à pandemia o aumento do feminicídio e esta é uma abordagem, por esse e pelos outros motivos. que torna mais urgente a extinção da pandemia, a que só se chegará plenamente com a vacinação completa da população e com os cuidados sanitários de há muito recomendados, inclusive a grande vilã do nosso caso que é o confinamento dos casais. Antes se temia uma explosão de nascimentos, pelas “luas-de-mel” forçadas. Mas o que está acontecendo é uma danosa violência entre casais, que têm aumentado, segundo se afirma, a violência doméstica e o feminicídio. (LGLM)