O BOTAFOGO DE SEU INOCÊNCIO: UM TIME VENCEDOR

By | 07/05/2021 3:21 pm

(José Romildo de Sousa, historiador)

No ano de 1976, garimpando subsídios para enriquecer a historiografia patoense, estivemos na Rua 18 do Forte, local onde Seu Inocêncio Oliveira se recolheu até o final dos seus dias e colhemos dele valioso depoimento sobre a sua participação no futebol de Patos.

Iniciou Seu Inocêncio a conversa dizendo:

– Em 1946, estava em minha casa jantando, sete horas da noite, quando chegaram Souto Maior e Zé Balbino. Eu terminei de jantar e perguntei:

– O que é que há? E eles responderam: – É prá você ir acolá com a gente.

– Aonde? – perguntei.

– A luz não tinha, estava tudo às escuras. E eu muito doente escorado num pau por aqui. Mesmo assim, eu fui com eles. Quando cheguei me jogaram naquele sobradinho na praça João Pessoa (que fica localizado atualmente vizinho ao Centro de Cultura Amaury de Carvalho e onde funciona o Sindicato dos Funcionários Públicos Municipais de Patos e Região – SINFEMP). Aí subiram comigo. Quando cheguei lá em cima tinha uma mesa cheia de pessoas. Aí me fizeram sentar na cabeça da mesa. Lá estavam presentes algumas pessoas que eu ainda me recordo: Souto Maior, Caetano Marinho, Luiz Marinho, Adauto Santos, Severino Lustosa e muitos outros.

– Aí eles disseram: – o senhor já é o presidente do Botafogo de Patos.

– Argumentei: eu não posso aceitar isso, pois sou um homem que vivo muito doente e não tenho mais forças para isto.

– Mas você é, queira ou não queira o presidente do Botafogo de Patos – falaram.

– Dada esta imposição eu tive que aceitar mesmo sem poder e sem querer. E como eu já tinha sido jogador de futebol na minha terra Taperoá, então, fiquei sujeito a opinião deles porque não podia faltar e tantos amigos, achei feio dizer que não aceitava.

– Então disse eu para eles: – futebol os senhores sabem o que é? É preciso se gastar muito dinheiro. Não é com pouca coisa não, senhores, que se faz futebol.

– Então eu meti a mão na minha carteira e puxei um conto de réis, que naquele tempo era muito dinheiro. Outro puxou outro conto de réis, outro puxou quinhentos, um duzentos… E aí nós fizemos uns dois contos e oitocentos. No outro dia fui lá no campo do Estrela e fui obrigado a fazer cercas e ajeitar as coisas. Fui obrigado também a fazer da minha casa um hotel para jogadores de futebol. Tinha um de Teixeira, um de Coremas, que é o Nego Coremas, tinha quatro de minha terra, tinha cinco ou seis de Campina Grande. Dentro de minha casa tinham almoço, janta e ceia, boas conversas e dinheiro para quando queriam vadiar. Aí fui trabalhar pra fazer o futebol. Desse povo todos que viviam dentro da minha casa somente Coremas deu para o primeiro quadro e os outros foram para o segundo quadro e não deu nada.

– Então comecei a fazer a seleçãozinha, eu mesmo apitava, eu mesmo treinava o time, não admitia opinião de ninguém lá, porque só faz atrapalhar e eu tinha mais ou menos intuição para o negócio.

– Tinha muitos rivais aqui: como o CICA e o BRASIL, este último chefiado pelo meu amigo, grande craque Araújo. Então eu fiquei treinando meu time, sem jogar com ninguém. Quando estava mais ou menos, havia essa grande rivalidade dos outros clubes contra o BOTAFOGO, mas que depois tudo que era bom veio pra cá. Então eu consegui a seleção que eu desejava. Essa seleção era composta de Zezé, Urái e Coremas, Totinha e Adelson, Mané de Ferro, Josias, Araújo, Ruivo, Zuca e Biu Porto. Então eu fiz a minha seleção. Bati todos da minha cidade. Inclusive o CICA da firma Companhia Industrial, Comercias e Agrícola, que era o mais forte adversário.

– Neste período veio um convite do Treze para jogarmos aqui, então França, que era técnico do Coremas, se prontificou a passou uns dez dias nos ajudando. Conseguimos jogar com o treze e vencemos o jogo por 6×5.

– Vitória espetacular!

– Dado isto o França foi embora cuidar lá do time dele (Coremas). Preparou o time dele e mandou um ofício convidando para jogar comigo aqui. Eu então disse a ele que aceitava. Ele preparou o time dele como quis e trouxe. Chegando aqui foi derrotado por 4×0. Voltou muito aperreado, muito zangado. Preparou o time novamente bem preparado ajeitou e de novo me fez o convite. Eu aceitei. Ele voltou com o time dele. Dessa vez apanhou por 4×2. Então ele zangou-se e foi embora. Estava de viagem para Fortaleza e disse que ia acabar com esse time daqui.

– Ele era jogador de Fortaleza. Mas o time que estava em boas condições lá era o Ferroviário. O Fluminense do Rio esteve lá em Fortaleza e derrotou todos os times de lá, e conseguiu um empate com o Ferroviário. Então o França achou que deveria mandar o Ferroviário. Enviou um ofício, eu aceitei o convite. Veio o time do Ferroviário para aqui. Então foi um jogo espetacular, por que não dizer o melhor jogo que assisti: BOTAFOGO x FERROVIÁRIO. E foi derrotado por 3×2. O nosso BOTAFOGO jogou seis anos e tantos sem nenhuma derrota. Em dia de jogo do BOTAFOGO quando saíamos do estádio era uma grande festa, com a bandeira hasteada e todo mundo a pé fazendo o carnaval. Agora aconteceram alguns empates por conveniência. Mas não perdemos para ninguém durante seis anos e tanto com o BOTAFOGO em meu poder. Depois precisei viajar. Já acabado doente e arrasado fui obrigado a me retirar para Bahia. Tempos depois houve uma reunião onde compareceram Souto Maior, Dr. Lauro Queiroz, Dr. Ronaldo Queiroz e tantos outros. Eu também compareci: fui lá olhar. Quando entrei no salão me deram uma grande salva de palmas. Eu então agradeci essa salva de palmas e disse que a aceitava sim, pelas grandes e bonitas vitórias do BOTAFOGO. Essa reunião que assisti era exatamente porque eles queriam mudar o nome do BOTAFOGO para ESPORTE CLUBE DE PATOS. Eu então não estava de acordo. Ofereci toda a documentação do BOTAFOGO, até a bandeira. Ofereci tudo que tinha do BOTAFOGO em minha casa, em meu poder. Até o recibo do mês pago à Federação. Mas eles não aceitaram. – Queremos agora o ESPORTE CLUBE DE PATOS, – justificaram.

– Então fiquem. E aí está.

Fonte: O Álbum do Futebol: + 90 Minutos (Releitura)

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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