João Prata, Repórter de Metrópole
O Estadão mostrou que mais de 22 mil pessoas morreram de covid-19 em unidades de pronto atendimento (UPAs) do País desde o início da pandemia após ficarem internadas por mais tempo do que o recomendado por não conseguirem leitos em hospitais. A descoberta resulta de levantamento com dados do Ministério da Saúde feito pelas repórteres Fabiana Cambricoli e Mariana Hallal. Cerca de 10% das vítimas tinham menos de 60 anos e nenhum fator de risco associado.
Na análise, foi levado em conta pacientes que ficaram internados por dois dias ou mais nessas unidades, prática vedada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Embora tenham estrutura para dar o primeiro atendimento e estabilizar pacientes graves, as UPAs não devem manter o doente por mais de 24 horas no local, conforme prevê a resolução 2.079 do CFM, de 2014. Depois desse período, se necessário, a pessoa deve ser encaminhada a um hospital de referência. A resolução também proíbe “a permanência de pacientes intubados no ventilador artificial em UPAs, sendo necessária sua imediata transferência a serviço hospitalar”.
Desde março do ano passado, as UPAs do País já acumulam 22.463 mortes de pacientes com covid-19 que ficaram internados por mais de 24h. Quase metade desses óbitos, 10.779, foi registrada nos quatro primeiros meses deste ano. O tempo médio de internação foi de 11,6 dias, mas em alguns casos a permanência foi de mais de cem.
Questionado sobre a internação de pacientes graves em UPAs por períodos além do recomendado, o Ministério da Saúde informou que “não autorizou a adaptação de UPAs para centro de atendimento à covid-19”, mas que forneceu apoio financeiro, em caráter extraordinário e temporário, a municípios que solicitaram recursos para custear leitos de suporte ventilatório pulmonar para atender pacientes leves e moderados com covid. O investimento, diz a pasta, foi de R$ 57,9 milhões.