Caso conhecido como ‘tratoraço’ foi revelado pelo ‘Estadão’ em série de reportagens sobre orçamento secreto
11 de maio de 2021 | 17h02
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, encaminhou nesta terça-feira, 11, ofícios ao Ministério da Justiça e à Controladoria-Geral da União (CGU) nos quais pede investigação sobre compra de tratores e equipamentos agrícolas com preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo. Nos documentos, Marinho solicita que a Polícia Federal e a própria CGU apurem o caso, revelado pelo Estadão.
Desde domingo, 9, o jornal tem mostrado, em uma série de reportagens, o esquema montado pelo presidente Jair Bolsonaro para aumentar sua base de apoio no Congresso. A manobra entregou a um grupo de deputados e senadores, principalmente do Centrão, o poder de escolher o destino de R$ 3 bilhões do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Os recursos são provenientes de uma nova modalidade de emendas, chamada RP9. Boa parte desse dinheiro foi destinada à compra de tratores com preço superfaturado. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), por exemplo, se tornou o destino preferido dos parlamentares para aplicação dos recursos por sua capacidade de executar obras e entregar máquinas a Estados e municípios mais rapidamente do que o governo.
Nos ofícios, Rogério Marinho pede apuração “com a urgência que o caso requer” e diz que o Ministério do Desenvolvimento Regional está à disposição para apresentar os “esclarecimentos técnicos” pertinentes ao assunto.
Em sua conta no Twitter, Marinho admitiu que as indicações de uso dos recursos das emendas RP9 foram feitas pelos parlamentares, mas negou que o governo tenha criado um orçamento secreto. Para exemplificar, o ministro citou o caso do senador Humberto Costa (PT-PE). Numa planilha do ministério, obtida pelo Estadão, a indicação citada por Marinho consta como sendo de “Davi Alcolumbre/Humberto Costa”.
À reportagem, Costa disse ter sido procurado no fim do ano passado por Alcolumbre (DEM-AP), que ofereceu à bancada a possibilidade de indicar verbas públicas do governo. “Houve da parte do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, uma pergunta a nós, da bancada do PT, se tínhamos interesse de ter algum tipo de emenda, além das parlamentares, aquelas impositivas. E nós dissemos que aceitávamos”, contou. “Agora não saiu nada, nenhum recurso. E não foi em troca de nada.”
Aliado de Bolsonaro, Alcolumbre buscava adesões para seu plano de se reeleger ao comando do Senado. Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) negou essa possibilidade, ele lançou a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), conseguiu o aval de Bolsonaro para a empreitada e foi atrás de votos para o colega, que acabou eleito. Na época, muitos não entenderam por que a oposição apoiou Pacheco, candidato de Bolsonaro.