Empresa sugeriu 100 milhões de doses a serem entregues em 2020 e 2021; governo federal só respondeu no dia 9 de novembro
(Lauriberto Pompeu, no Estadão, 13 de maio de 2021)
O presidente da Pfizer da América Latina e ex-presidente da farmacêutica no Brasil, Carlos Murillo, disse nesta quinta-feira, 13, em depoimento na CPI da Covid que as negociações com o governo federal para aquisição de vacinas começaram no final de agosto do ano passado. “Nossa oferta de 26 de agosto tinha uma validade de 15 dias. Passado os 15 dias, o governo brasileiro não rejeitou, mas tampouco aceitou a oferta”, disse o dirigente da Pfizer. A primeira proposta, no entanto, foi apresentada antes – em 14 de agosto.
“Depois de feitas essas ofertas, data de 12 de setembro, nosso CEO enviou uma carta ao governo do Brasil se oferecendo para um acordo”, completou o representante da farmacêutica.
De acordo com Murillo, o diálogo entre a Pfizer e o governo federal por vacinas começou em maio de 2020 e, em agosto foram feitas duas ofertas, uma de 30 milhões de doses e outra de 70 milhões de doses a serem entregues em 2020 e 2021. O preço oferecido pela empresa era de US$10 (cerca de R$ 53, na atual taxa de câmbio) por dose de vacina.
Ontem, em uma sessão marcada por bate-boca, xingamentos e até ameaça de prisão, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wajngarten admitiu à CPI da Covid que a carta na qual a empresa Pfizer se dispunha a negociar vacinas contra o coronavírus foi enviada ao governo em setembro de 2020 e ficou dois meses sem resposta. Como mostrou hoje o ex-presidente da Pfizer no Brasil, a oferta antecedeu a carta em um mês.
No depoimento de ontem, Wajngarten foi chamado de “mentiroso” em vários momentos. Um deles foi quando tentou amenizar uma entrevista dada à revista Veja, em abril. Nela, o ex-secretário de Comunicação responsabilizou o Ministério da Saúde, à época comandado pelo general Eduardo Pazuello, pelo atraso das vacinas e contou que o CEO da Pfizer, Albert Bourla, havia encaminhado uma carta não apenas ao gabinete de Bolsonaro como a várias autoridades do governo, em setembro, oferecendo 70 milhões de doses da vacina.
Disse ainda que, como ninguém havia se manifestado, levou o caso a Bolsonaro, que o autorizou a negociar com a empresa. “Houve incompetência e ineficiência”, disse na entrevista. À CPI, no entanto, o ex-titular da Secom não quis apontar o dedo para Pazuello e muito menos para Bolsonaro. Mesmo assim, confirmou que a correspondência da Pfizer fora enviada ao governo em 12 de setembro, não tendo resposta até 9 de novembro. Mas diminuiu o número da oferta da empresa. “A proposta da Pfizer, no começo da conversa, falava em irrisórias 500 mil vacinas”, disse.
De acordo com o ex-presidente da Pfizer no Brasil, o número de 500 mil doses era referente ao ano de 2020.