(Julia Chaib, Constança Rezende e Renato Machado, na Folha, 13.mai.2021)
A CPI da Covid recebe nesta quinta-feira (13) o presidente da Pfizer America Latina e ex-presidente da Pfizer Brasil, Carlos Murillo.
Os senadores devem questioná-lo a respeito das negociações para a compra de vacinas por parte do governo Jair Bolsonaro.
Em depoimento repleto de contradições nesta quarta (12), o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten admitiu que uma carta em que a Pfizer oferecia negociar doses de vacina ao Brasil ficou parada por ao menos dois meses no governo federal.
No entanto, não soube dizer se pessoas de fora do governo participaram, em especial o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República.
“Eu confirmo, mas não posso confirmar que outras pessoas estiveram presentes nessa reunião”, disse, após ser questionado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), se o filho do presidente estava presente.
Renan então afirmou que vai apresentar requerimento para convocar as duas representantes da empresa que participaram do encontro, para esclarecer essa questão.
Representante da Pfizer diz à CPI que governo ignorou em 2020 oferta de 70 milhões de doses de vacina
O gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou que a empresa fez ao menos quatro ofertas de doses de vacinas contra a Covid-19 em 2020 que não foram fechadas.
Segundo Murilo, as negociações começaram em maio e em agosto foi feita a primeira oferta ao Brasil, com dois quantitativos disponíveis: 30 milhões e 70 milhões de doses. A primeira leva de imunizantes chegaria no final de abril.
Depois, o laboratório fez mais duas ofertas, em 18 de agosto e 26 de agosto. Nesta última também foram ofertas 30 e 70 milhões de doses, mas o governo brasileiro ignorou a proposta.
“Proposta de 26 de agosto tinha validade de 15 dias. Passados 15 dias, governo não rejeitou e nem aceitou a oferta”. (
Na abertura da sessão da CPI da Covid, o relator Renan Calheiros (MDB-AL), lembrou a discussão do dia anterior com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e afirmou que a resposta às ofensas será o aprofundamento das investigações.
Renan também criticou o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, afirmando que cometeu um “dos maiores desacatos a uma comissão parlamentar de inquérito da história do Congresso Nacional, em particular do Senado”.
O relator da comissão afirmou que ficou claro o crime de falso testemunho.
Renan concluiu afirmando que a fala do filho mais velho do presidente, que o chamou de “vagabundo”, tinha a única missão de ofender e escrachar.
“Eu quero dizer a todos os pregadores que a minha resposta a esses ataques é esse número aqui, de vítimas da pandemia”, disse, em referência, à placa com o número 428.256, que substitui a indicação de seu nome na mesa da comissão.
“Haja o que houver, intimidações todos os dias, não haverá problema”
“A melhor resposta é o aprofundamento da investigação”, concluiu.
CPI ouvirá secretária do Ministério da Saúde e médica defensora de cloroquina
A CPI da Covid aprovou requerimento de convite da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro.
A médica se tornou um dos alvos da comissão, por sua defesa da hidroxicloroquina, medicamento sem comprovação científica para o tratamento da Covid. A secretária vem sendo chamada de “capitã cloroquina”.
Os senadores querem saber se ela colaborou para difundir a hidroxicloroquina, em especial em uma missão do ministério que foi enviada a Manaus, dias antes do colapso do sistema de saúde local, em janeiro.
Os parlamentares também aprovaram o convite à médica Nise Yamaguchi, também notória defensora da hidroxicloroquina. A médica é muito próxima ao presidente Jair Bolsonaro.
Em depoimento à CPI, o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, confirmou uma reunião no Palácio do Planalto, na qual foi sugerida a alteração por decreto presidencial da bula da cloroquina, para que pudesse ser usada no tratamento à Covid.
Embora não soubesse apontar de quem foi a iniciativa, Barra Torres afirmou que Nise Yamaguchi parecia “mobilizada” para o avanço do decreto.
Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi seriam inicialmente convocadas para participar – o que se tornaria uma obrigação de comparecimento. No entanto, senadores governistas solicitaram que os requerimentos fossem alterados para convite.
Também foi aprovada o convite a Jurema Werneck, médica, ativista do movimento de mulheres negras e diretora-executiva da ONG Anistia Internacional no Brasil. O autor do requerimento, o relator Renan Calheiros (MDB-AL), decidiu manter a convocação, em vez de alterar para convite.
CPI da Covid abre sessão para ouvir o representante da Pfizer
Começou às 9h42 desta quinta-feira (13) sessão da CPI da Covid, que tomar o depoimento do representante da empresa Pfizer, que desenvolve vacina contra a Covid-19.
Será ouvido Carlos Murillo, atual gerente-geral da empresa na América Latina. Ele foi convocado como testemunha por ter sido presidente da Pfizer no Brasil até poucos meses atrás, portanto participou das negociações para a venda do imunizante para o governo brasileiro.
Senadores consideram esse depoimento importante, especialmente após a oitiva de Fabio Wajngarten, que no dia anterior afirmou que uma carta da Pfizer ficou dois meses parada no governo brasileiro.
Em entrevista recente, o ex-secretário de Comunicação também afirmou que a vacina da Pfizer não foi comprada por incompetência do Ministério da Saúde e que ele próprio atuou nas tratativas.