(Fernanda Vivas e Márcio Falcão, TV Globo,
Censo foi cancelado após governo cortar orçamento do IBGE. Governo do Maranhão foi à Justiça. Argumentou que falta de estudo amplo sobre perfil populacional do país fere a Constituição.
A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou a favor de que o governo federal seja obrigado a tomar as medidas para realizar o Censo Demográfico em 2022.
Os ministros julgam no plenário virtual uma decisão individual do ministro Marco Aurélio Mello, que determinou ao governo que adote as medidas necessárias para garantir a realização do levantamento.
Em abril, o governo confirmou que o Orçamento de 2021 não reservava recursos para o Censo, o que levou ao cancelamento da pesquisa. Por lei, o Censo deve ser realizado a cada dez anos. O último ocorreu em 2010. No ano passado, a pesquisa, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), foi adiada devido à pandemia de Covid-19.
O caso chegou ao STF por uma ação do governo do Maranhão. Na ação, o governo estadual argumenta que a falta do estudo sobre o perfil da população tem consequências na repartição de receitas tributárias, além de prejuízos para as estatísticas do país. Também afirma que não realizar o Censo fere a Constituição.
A maioria dos ministros seguiu o entendimento do ministro Gilmar Mendes, que votou pela realização do Censo em 2022. De acordo com o ministro, a realização do estudo no ano que vem evitará dificuldades que os recenseadores teriam em 2021, por causa da pandemia de Covid.
“Cuida-se de solução que, em suma, além de evitar as dificuldades inerentes ao recrutamento de mais de 200 mil agentes censitários e ao treinamento dos supervisores e recenseadores durante um período de agravamento da pandemia causada pelo SarsCoV-2 [o vírus da Covid], é capaz de trilhar caminho que preserva as bases da democracia representativa, especialmente a liberdade de atuação das instâncias políticas”, afirmou Mendes.
O ministro argumentou ainda que “a concessão de prazo razoável se alinha com a necessidade de preservar o espaço de deliberação próprio das instâncias políticas, assegurando outra oportunidade para que o Poder Executivo, em articulação direta com o Congresso Nacional, assegure créditos orçamentários suficientes para a realização do Censo Demográfico do IBGE”.
O ministro Gilmar Mendes ressaltou ainda que “a negligência estatal” ao não realizar o Censo “põe em xeque a preservação de relevantes postulados constitucionais”.
“Resumidamente: a ausências dessas informações implicará grandes obstáculos para a promoção dos direitos que compõem a espinha dorsal do Estado Social brasileiro, frustrando, outrossim, os objetivos constitucionais de desenvolvimento socioeconômico e de redução das desigualdades sociais”, completou.
O voto de Mendes foi seguido pelos ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Já o voto do relator foi acompanhado pelo ministro Edson Fachin.
O ministro Nunes Marques votou para rejeitar a ação do governo do Maranhão. Ele alegou que a pandemia ameaça a atividade dos recenseadores e que há outras maneiras de o poder público fazer um mapeamento da população
“Tal medida, portanto, não revela urgência suficiente a demandar imediata adoção de medidas pelo governo. Com efeito, o risco de dano inverso prevalece, mormente em contexto pandêmico que recomenda seja o censo realizado em momento oportuno. Por fim, há diversos meios adequados de mapeamento necessário para o combate à pandemia (que não a realização dos censos, censos que em si, já aumentarão o risco de contaminação pelo vírus SARS-CoV-2), e que, assim, afastam a urgência necessária para concessão da liminar”, escreveu.
Nossa opinião (queremos apenas relembrar comentário que fizemos, em 28/04/2021, a respeito de decisão liminar do Ministro Marco Aurélio que obrigava o Governo a realizar o Censo 2021)
- O Ministro tem toda razão. Só se pode governar conhecendo a realidade do país e não são deputados e senadores encastelados em Brasil que vão saber da importância da realização de um censo, para quem quer realmente resolver os problemas do país. Ou seja. Se o Governo quiser mesmo resolver os problemas do país, de educação, de saúde, de emprego e assim por diante, tem que realizar com a frequência recomendável um censo. A tradição é fazer um censo de dez em dez anos, já que a realização custa muito caro. O último censo foi feito em 2010 e um outro deveria ter sido realizada em 2020, até porque as coisas mudaram muito de lá para cá. Como resolver os problemas do país sem conhecê-los.
Só não se a estas alturas ainda seria possível realizar o censo ainda este ano, uma vez que muitas providências já deviam ter sido tomadas, principalmente o treinamento dos recenseadores e a preparação do material e dos progra mas para a realização e tabulação do censo. O sindicato dos funcionários do IBGE que já se manifestou achando difícil realizar o censo ainda este ano.
No caso de não ser possível realizar o censo ainda em 2021, no mínimo o Governo deveria providenciar recursos para a preparação que tem que ser feita ainda este ano e incluir no orçamento de 2022, os recursos necessários para realizar o censo no ano que vem. Caso contrário, o próximo presidente não terá informações para se preparar para governar a partir de 2023. Bolsonaro talvez esteja pensando em “deixar o abacaxi” para quem ganhar dele em 2022. Os deputados e senadores não estão nem ai. Só estão pensando nas emendas parlamentares que vão receber em 2021 e 2022 para financiarem as suas eleições. (LGLM)