Operação da PF aumenta o dano causado pela presença do ministro no governo
(editoriais@grupofolha.com.br, 19.mai.2021)
A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta (19) lança graves suspeitas sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e eleva o já enorme desconforto causado por sua presença no governo.
Como se não bastassem a devastação da Amazônia, os incêndios no Pantanal e o esvaziamento dos órgãos de proteção ambiental, Salles agora é apontado como participante de um esquema de exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e a Europa.
Segundo os investigadores, funcionários que ele nomeou para postos-chave no ministério e no Ibama se articularam com empresas que atuam na Amazônia para afrouxar os controles criados para inibir a comercialização de madeira extraída ilegalmente no país.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a polícia a fazer buscas no gabinete de Salles e determinou uma devassa para esclarecer movimentações atípicas numa conta de seu escritório de advocacia.
O STF também ordenou o afastamento temporário do presidente do Ibama, Eduardo Bim, e outros nove funcionários acusados de participação no esquema, além da suspensão de um despacho que beneficiou os madeireiros.
As suspeitas que levaram à ação policial surgiram há um ano, quando autoridades dos EUA apreenderam três contêineres com madeira brasileira num porto no estado da Geórgia, por desconfiar dos papéis exibidos pela exportadora.
Poucas semanas depois, o presidente do Ibama assinou o despacho agora suspenso, que contrariou pareceres de técnicos do órgão e abriu caminho para a liberação de mercadorias dos madeireiros apreendidas no exterior.
Ainda há muito a ser feito para esclarecer as suspeitas levantadas, mas os prejuízos à reputação do país serão imediatos, numa área em que as ações desastrosas do governo Jair Bolsonaro só serviram para semear desconfiança.
Basta lembrar o recente afastamento do delegado responsável pela gigantesca apreensão de madeira de origem suspeita efetuada pela PF em dezembro, após meses de um esforço deliberado de Salles para sabotar seu trabalho.
Relatos de funcionários que compartilharam com os investigadores mensagens trocadas com os assessores do ministro agora afastados descrevem o ministério como um local contaminado por intrigas, perseguições e intimidação.
Surpreendido pela operação, Salles fez-se acompanhar de um segurança armado ao se dirigir à PF para buscar informações. Se a ideia era passar um recado, deu em nada.