Bolsonaro usa Pazuello para impor à Defesa e ao Exército o ‘quem manda, quem obedece’

By | 25/05/2021 8:23 am

(Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo, 25 de maio de 2021)

Quem está no foco é Eduardo Pazuello, mas o principal responsável pela presença de um general da ativa numa manifestação política é o presidente Jair Bolsonaro, que usa Pazuello para esfregar na cara das Forças Armadas quem manda e quem obedece, testar limites do novo ministro da Defesa e jogar o novo comandante do Exército contra a parede. Estrago feito, o presidente proibiu pessoalmente notas da Defesa e do Exército.

Pazuello é o novo ídolo das redes bolsonaristas e Bolsonaro, o “mito”, se referiu a ele como “meu gordinho” nos atos de motociclistas no domingo. A turma anda mal de mitos e ídolos, já que o “meu gordinho” entra para a história por cair de paraquedas no Ministério da Saúde com a “missão” de engolir sapo, deixando o caminho livre para o negacionismo do presidente e do “gabinete das trevas”.

Bolsonaro
General Eduardo Pazuello (à esq.) com o presidente Jair Bolsonaro em ato pró-governo no Rio, anteontem Foto: Wilton Junior / Estadão

Ao exibir um general da ativa num palanque político, o presidente da República, ex-militar processado por indisciplina, continua implodindo os princípios basilares das Forças Armadas: ordem, disciplina, hierarquia. Pelo Estatuto Militar e pelo Regimento Disciplinar do Exército, oficiais da ativa são proibidos de fazer declarações e de participar de manifestações políticas.

Os militares, muitos deles hoje escandalizados diante do que a sociedade vê e ouve, explicam a proibição com uma frase direta: quem usa farda e porta fuzil não sobe em palanque. E nenhum deles, de nenhuma das três Forças, defende a presença de Pazuello naquele trio elétrico, porque hierarquia é como taça de cristal: depois de quebrada, não tem santo que dê jeito.

O efeito pode ser em cadeia: se um general da ativa pode, por que cabos, tenentes, majores e capitães não podem? Fechar olhos, ouvidos e a hierarquia para a indisciplina de Pazuello funcionaria como deixar passar a “boiada” nas diferentes patentes das Forças Armadas. Como ficariam os comandantes imediatos? Quem controlaria seus subordinados? Por isso, Defesa e Exército não soltaram nota, mas abriram processo contra Pazuello, sujeito desde advertência até prisão.

O ato dele, apesar de inadmissível, irresponsável e de confronto, não foi inesperado e confirma a velha máxima: o que começa errado vai errado até o fim. Ou, como me disse um respeitável oficial da ativa sobre o “meu gordinho” no palanque de Bolsonaro: “Um desfecho previsível, a história de uma tragédia anunciada”.

Uma tragédia que começou com Pazuello assumindo a Saúde sem qualificação para tal e recusando-se a passar para a reserva. Tornou-se, assim, o grande teste da cúpula militar, depois da demissão inédita do ministro da Defesa e dos três comandantes e de o novo ministro, general Walter Braga Netto, marcar presença numa manifestação golpista atrás da outra. Definitivamente, não é papel do ministro da Defesa. Aliás, de nenhuma área.

Por isso, Bolsonaro e seu “gordinho” deram um golpe traiçoeiro no Exército e no novo comandante, general Paulo Sérgio. Se não fizessem nada, seriam coniventes com a implosão da disciplina e dos protocolos militares. Se fizessem o que tinham de fazer, o risco seria Paulo Sérgio passar pelo que Pazuello passou na Saúde, desautorizado e desmoralizado pelo presidente. Reagiria com “um manda, outro obedece”? A saída foi fazer, mas sem anunciar.

Como militar da ativa, o “meu gordinho” confrontou o Comando do Exército. Como ex-ministro da Saúde, agrediu a ciência numa aglomeração, e sem máscara, o que complica sua vida na CPI e na opinião pública. Além de mentir compulsivamente, ele foi cínico ao pedir desculpas por circular sem máscara num shopping de Manaus. Pazuello, porém, é coadjuvante nessa história que tanto fere os brios e a imagem do nosso Exército. O protagonista todo mundo sabe quem é.

Nossa opinião

De modo inconsequente, Bolsonaro está “esticando a corda”. Afrontando o próprio Exército. É  oportuno lembrar que o grande erro de João Goulart foi estimular a quebra de hierarquia nas Forças Armadas, que resultou na “Revolta dos Sargentos” em 1964. Se as Forças Armadas de hoje forem as mesmas de cinquenta anos atrás, alguém pode, mais uma vez, quebrar a cara! (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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