(José Romildo de Sousa)
No ano de 2002, mais precisamente no dia 21 de março (quinta-feira) a Paraíba perdeu mais um dos seus filhos ilustres, um nome de expressão nacional, o ex-senador Drault Ernanny de Mello e Silva, que morreu no Rio de Janeiro com 96 anos incompletos, idade que atingiria no próximo 05 de julho.
Drault Ernanny nasceu no povoado de São José de Cordeiros, no Cariri paraibano. Foi médico, político e empresário. Por duas vezes chegou a Câmara Federal e, assumiu o senado como suplente do jornalista Assis Chateaubriand.
Sua atuação política no Estado da Paraíba, estando sempre ligado ao velho PSD, praticamente encerrou-se em 1963, quando concluiu o seu segundo mandato de deputado.
A grande marca de sua vida foi a CASA DAS PEDRAS, mansão adquirida em 1942, que se encontrava encravada no topo da Gávea Pequena (RJ), em estilo virginiano puro e inspirado no casarão onde haviam se passado as cenas do filme “…E o vento levou”.
Esta “Casa” se tornou famosa pela importância política e social dos seus freqüentadores. Nela foram recebidas, entre muitas outras autoridades, a primeira dama da China, Madame Chiang Kai-Shek e o astronauta russo Yuri Gagarim. A seleção brasileira de futebol, no ano de 1950, ficou também hospedada com toda a comissão Técnica na Casa das Pedras. Infelizmente, devido ao euforismo dos responsáveis pela nossa “Canarinha”, na véspera do jogo da disputa do título com o Uruguai, os jogadores foram levados para o centro do Rio de Janeiro e, mesmo jogando pelo empate e feito o primeiro gol, o Uruguai virou o jogo e foi o Campeão Mundial de Futebol naquele ano.
A Casa das Pedras foi também cenário de articulações que culminaram com alguns desdobramentos importantíssimos na vida política do país, como a “conspiração contra o Presidente João Goulart”. Inclusive sobre esse episódio Drault Ernanny faz menção a respeito de um jantar que aconteceu em sua residência onde vários políticos e militares se fizeram presentes e que naquela oportunidade ele pode visualizar claramente os rumos que a política nacional estava tomando. Tanto é, justifica o anfitrião, que dois meses depois eclodiu o movimento militar de 64.
Drault Ernanny de Mello e Silva nasceu em pleno sertão do Cariri, no povoado de São José dos Cordeiros no dia 05 de julho de 1906. Descendente de uma prole de 24 irmãos era o 4º filho do Coronel João Olinto de Mello e Silva e de Francisca Olinto de Holanda, mais conhecida por dona Chiquinha.
Seus primeiros estudos foram realizados em São João do Sabugi e Serra Negra (ambas no Estado do Rio Grande do Norte) e, posteriormente em Patos (na Paraíba), cidades onde se tornaram residências da família em virtude dos negócios comandados pelo genitor.
Estudou no Recife e daí foi para Faculdade de Medicina da Bahia, transferindo-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde em 1927 já estava fazendo parte da turma de internos do Hospital São Sebastião, equipe comandada do professor Clementino Fraga que, na época, organizava o combate a um surto de febre amarela que assolava a cidade maravilhosa.
Drault Ernanny casou-se em 22 de dezembro de 1932 com Myriam Chagas, que lhe deu quatro filhos: Drault, Myriam, Tereza e Carlos. A esposa, que tinha estudado na Alemanha e Paris, fez-se sua eterna companheira e a grande dama da mansão Casa das Pedras, onde organizava inesquecíveis festas e recepções.
Homem de grande tino comercial, Drault Ernanny teve êxito em todos os empreendimentos que idealizou. Haja vista a construção da Refinaria de Petróleo de Manguinhos, o Banco do Distrito Federal e um grande projeto imobiliário conhecido com o nome de Recreio dos Bandeirantes.
Na Paraíba Drault viabilizou entre outras obras, a construção de vários postos de puericultura, notadamente nos municípios de Princesa Izabel, Teixeira, Sousa e Patos. Segundo ele, com esta atitude “conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil, que era muito grande naquele momento no Estado, de dez óbitos por dia para apenas três”. Fez-se proprietário, na década de 50, quando ingressou na vida política, da Rádio Irapuan em João Pessoa, Caturité em Campina Grande e Espinharas em Patos.
Foi um dos batalhadores pela campanha “O Petróleo é Nosso”. Inclusive, em certa ocasião, proferiu discurso no Senado demonstrando toda a luta das companhias petrolíferas estrangeiras contra qualquer empreendimento no Brasil no sentido de, um dia, tornar o país independente dos fornecedores internacionais.
Em 1988, Drault Ernanny editou seu livro: “Meninos, eu Vi… e agora posso contar.”
Esse livro foi lançado inicialmente no Rio de Janeiro, mais precisamente na pérgula da piscina do Copacabana Palace Hotel, onde contou com a presença de várias autoridades políticas, militares e pessoas ligados ao mundo social.
Sobre este livro, o ministro Abelardo Jurema deu o seguinte depoimento: ”No seu livro de memórias, Drault revive o período em que o Brasil era apenas uma caixa de ressonância do que acontecia no “tambor” do País – o rio de Janeiro. Esse paraíso era o ponto de referência sócio-político da época. Tudo girava em torno da Casa de Pedras. Antes e depois do movimento militar de 64 tinha importância especial e há mesmo quem garanta que o golpe militar foi articulado em encontros ali ocorridos. A Conspiração começou na Casa das Pedras, disso ninguém tem a menor dúvida”.
“Meninos, eu vi… foi também lançado em algumas cidades da Paraíba e, em Patos, contou com a presença de grande público, que estiveram na Associação Comercial para homenagear o escritor patoense. A mesa dos trabalhos foi constituída de: Dom Gerardo de Andrade Ponte, Bispo da Diocese e os vereadores Abdias Guedes, José Lacerda Brasileiro e Manoel Lustosa.
Em 1961, precisamente no dia 09 de junho, a Câmara de Vereadores de Patos realizou em sessão solene de entrega de Títulos Honoríficos de Cidadãos Patoenses ao Ex-senador Drault Ernanny de Mello e Silva, ao Deputado Estadual José Cavalcanti e ao Sub-tenente José Porfírio da Costa.
Falaram saudando os homenageados os vereadores Abdias Guedes, Ramiro Gondim e Dilton Rodrigues. A saudação do público presente foi feita por Manoel de Sousa Oliveira (professor Oliveira).
A entrega do Título a Drault Ernanny foi realizada por seu irmão, Bivar Olinto de Mello e Silva, que na oportunidade estava administrando o município. Patos contou também com um outro prefeito que era irmão do homenageado em tela: Adelgício Olinto de Mello e Silva.
Outra grande homenagem recebida por Drault Ernanny aconteceu em sua terra natal no ano de 1999, quando os seus conterrâneos de São José dos Cordeiros fizeram instalar em plena praça pública um busto reverenciando os seus trabalhos dirigidos em favor do Estado da Paraíba.
Na oportunidade várias autoridades locais fizeram uso da palavra enaltecendo a figura do homenageado, inclusive da comitiva de Patos, falou o Dr. José Tota e o ex-deputado José Gayoso, ambos lembrando os feitos realizados por Drault durante os momentos que foi convocado para realizar alguma tarefa em prol da região que ele tanto se orgulhava, como chegou mesmo a mencionar na entrevista a revista A CARTA: “Gostaria que fosse colocada nesta matéria que tudo o que eu sou, devo à Paraíba e que um dos meus maiores orgulhos é ter nascido nesta terra”. E conclui o ex-senador: “Tenho consciência de que ao longo de minha vida fiz muita coisa, mas tenho uma satisfação especial pelo que pude fazer no meu Estado”.