(Adriana Ferraz e Fábia Renata, no Estadão)
Mayra Pinheiro contradisse, em seu depoimento na CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre o momento em que a pasta foi informada sobre o problema de abastecimento de oxigênio em Manaus, no início do ano.
A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação afirmou no depoimento à CPI da Covid que não teve informações sobre problemas quando esteve na cidade. A visita ocorreu entre os dias 3 a 5 de janeiro, na véspera do colapso na rede hospitalar, quando pacientes de covid-19 morreram por asfixia após o esgotamento dos estoques do produto. “Não houve uma percepção de que faltaria”, afirmou a secretária.
Segundo ela, a primeira vez que a pasta soube do ocorrido foi no dia 7 de janeiro, dois dias depois. “Pelo que tenho de provas é que tivemos comunicação por parte da secretaria estadual que transferiu ao ministro email da White Martins dando conta sobre problema na rede de abastecimento”, disse Mayra aos senadores.
A versão contradiz o que disse Pazuello. Inicialmente, o ex-ministro afirmou ter sido comunicado apenas no dia 10, três dias depois do e-mail. Depois, confrontado com um documento apresentado pelo ex-secretário-executivo da Saúde Élcio Franco que relatou a comunicação da White Martins, o general fez um ajuste no seu depoimento e disse que só soube “de forma clara” no dia 10.
Questionada sobre a divergência de versões, Mayra Pinheiro afirmou que Pazuello teve conhecimento do desabastecimento do oxigênio em Manaus no dia 8 de fevereiro.
“No dia 8 de janeiro, seis dias antes, nós já tínhamos iniciado o transporte aéreo de oxigênio para Manaus. Eu tomei conhecimento de riscos em Manaus no dia 10, à noite, numa reunião com o governador e o secretário de Saúde, quando eles me passaram as suas preocupações que estavam com problema logístico sério com a empresa White Martins”, afirmou Pazuello à CPI na semana passada.
Nesta terça-feira, 25, Mayra alegou que a situação era “extraordinária” e que seria impossível fazer previsão sobre a falta do produto. “Em Manaus, vivíamos uma situação extraordinária de caos, era impossível fazer previsão de quanto se usaria a mais. O uso passou de 30 mil metros cúbicos para 80 mil metros cúbicos”, afirmou Mayra, que disse ainda não ter atuado na força-tarefa de obtenção de oxigênio. “Eu não estava mais em Manaus”, afirmou ela.
As contradições serão tratadas em novo depoimento de Pazuello, que deve ser reconvocado sobre essa mesma carta da White Martins. Segundo a secretaria, a escolha de seu nome para ir a Manaus no início de janeiro se deu por ela estar no ministério desde o início do governo. Mayra disse ainda que, desde a gestão de Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde deu continuidade aos trabalhos. “Todas as ações tiveram grandes contribuições em momentos diferentes.”