Postura contrária ao tratamento precoce e discurso didático da médica Luana Araújo rendem ‘ensinamentos científicos’ aos senadores em reunião desta quarta
(Adriana Ferraz e Matheus Lara, O Estado de S. Paulo, 02 de junho de 2021)
Um dia depois de a médica Nise Yamaguchi ser ouvida na CPI da Covid e defender diante dos senadores o chamado tratamento precoce contra covid-19, a infectologista Luana Araújo – dispensada do Ministério da Saúde depois de dez apenas de trabalho e totalmente contrária à tese -, foi ouvida na sessão desta quarta, 2, e seu depoimento serviu, como os parlamentares mesmo classificaram, como uma aula de ciências. E bastante didática. Veja um resumo das principais declarações:
A médica Luana Araújo, em depoimento à CPI da Covid Foto: Gabriela Biló/Estadão
“Pleiteei autonomia, não insubordinação” (sobre possível entrada na Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à covid-19)
“O ministro me chamou e disse que lamentavelmente meu nome não foi aprovado” (sobre sua dispensa após dez dias de trabalho)
“Não temos opinião, mas evidências, e elas são claríssimas, transparentes. Somos a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, não pode se tornar uma política de saúde pública” (sobre eficácia do tratamento precoce)
“Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente” (sobre eficácia do tratamento precoce)
“Quando disse, há um ano atrás, que estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu, infelizmente, ainda mantenho isso em vários aspectos” (sobre eficácia do tratamento precoce)
“É como se estivessemos discutindo de que borda da Terra plana vamos pular. Não tem lógica” (sobre eficácia do tratamento precoce)
“Não é porque se mata coronavírus no micro-ondas que pedir para paciente entrar no forno” (sobre eficácia do tratamento precoce)
“A nossa vida seria mais fácil e feliz se isso (cloroquina) funcionasse; infelizmente, não tem (eficácia)” (sobre eficácia do tratamento precoce)
“Deve estar faltando informação de qualidade, porque quando se tem a informação, não é um comportamento que a gente espera que aconteça. A mim, me dói” (sobre diversas declarações e comportamentos do presidente Jair Bolsonaro ao longo da pandemia)
“Se cada um diz uma coisa, em quê acredito?” (sobre orientações divergentes sobre a pandemia)
“Existe dificuldade de entender a diferença entre abordagem e tratamento precoce. A abordagem é o acesso ao diagnóstico imediato, e há dificuldade nesse sentido” (sobre o que se considera tratamento precoce)
“É assim (com a vacinação) que a gente atinge uma imunidade de rebanho. Não posso imputar sofrimento e morte a uma população com uma imunidade de rebanho” (sobre a tese de rebanho)
“(Copa América no Brasil) é um risco desnecessário para se assumir neste momento” (sobre decisão do governo federal de receber a competição)
“Autonomia médica faz parte da nossa prática, mas não é licença para experimentação” (sobre tratamento precoce)