Por que máscaras são necessárias mesmo para vacinados e pessoas que já foram infectadas?

By | 13/06/2021 6:32 am

Especialistas explicam que, mesmo que parte da população já esteja com anticorpos contra a covid-19, proteção facial é fundamental para controlar transmissão do vírus. Presidente solicitou parecer para desobrigar uso de máscaras

(João Ker e Italo Lo Re, O Estado de S. Paulo)

uso de máscaras pela população continua sendo necessário mesmo para aqueles que já foram vacinados contra a covid-19 e para quem se recuperou da doença. Essa necessidade já foi provada cientificamente e é defendida por especialistas, que destacam o risco imposto pela alta transmissão da doença no País e avaliam a nova oposição do presidente Jair Bolsonaro à proteção facial como “próxima de criminosa” e uma “conspiração”.

Nesta quinta-feira, 10, Bolsonaro afirmou ter solicitado um parecer ao Ministério da Saúde para que desobrigasse o uso de máscaras a todos os brasileiros que já estejam vacinados ou tenham contraído o vírus. “É uma posição próxima de criminosa. Quem já teve a doença, está provado, pode ter a doença novamente. O tipo de imunidade conferida por ter a doença não é a mesma obtida pela vacina”, afirma o sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. “O que o presidente está propondo é uma conspiração contra todas as medidas sanitárias que estamos conseguindo adotar.”

“No cenário que a gente tem no Brasil, com a transmissão descontrolada, leitos de UTI lotados, iminência de uma terceira onda e porcentagem muito baixa de pessoas vacinadas, é fundamental que a gente reforce e redobre a atenção nas máscaras fornecendo itens de melhor qualidade”, diz Vitor Mori, membro do Observatório Covid-19 BR. Ele avalia que o uso da proteção facial foi tratado no Brasil como uma questão secundária e sem a devida atenção desde o início da pandemia.

O pesquisador reitera que não é porque alguém está vacinado que tem o passe livre. “É claro que a vacina funciona, a vacina é uma ferramenta importante, mas ela depende de ter muita gente vacinada para controlar a transmissão”, destaca Mori. “Se todos se vacinarem, o efeito protege a todos. Então, temos que buscar a vacinação em massa, inclusive para aqueles que já tiveram a doença. E rezar para que não apareça uma nova variante, que seja resistente a todas as que já existem no mercado”, complementa Vecina.

O epidemiologista Pedro Hallal vai na mesma linha. Segundo ele, a vacinação tem dois objetivos: o da proteção individual e o da proteção coletiva. “O uso de máscara pelos já vacinados mira na proteção coletiva, porque as vacinas previnem contra infecção e casos graves. Mas não, na mesma medida, contra a transmissão. Então, se os vacinados não usarem máscara, eles podem contribuir para a disseminação do vírus. Essa é a questão central”, comenta.

De acordo com o epidemiologista, o abandono do uso das máscaras tem que ser quando a população estiver perto de alcançar a imunidade de rebanho. Ou seja, quando cerca de 70% da população tiver anticorpos. “Aqui, no Brasil, a estimativa é que nós não tenhamos nem 30% com anticorpos. Então, estamos muito longe ainda”, diz, frisando ainda que a proposta de Bolsonaro não teria como ser fiscalizada. “Na prática, é uma carta branca. Vai fiscalizar como se a pessoa já teve covid, se já tomou vacina… Vai parar a pessoa na rua para pedir carteirinha? É uma piada.”

Durante um evento no Palácio do Planalto, em Brasília, Bolsonaro disse ter solicitado ao ministro Marcelo Queiroga um parecer desobrigando pessoas vacinadas ou que já tenham sido contaminadas a usarem máscaras, em mais uma medida do presidente que contraria orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras autoridades sanitárias.

“Acabei de conversar com um tal de Queiroga. Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscaras por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar este símbolo (segurando uma máscara descartável na mão) que tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse, enquanto era aplaudido pelos presentes.

Mais tarde, o ministro afirmou em vídeo publicado nas suas redes sociais que Bolsonaro acompanha o cenário internacional e viu a flexibilização das máscaras “em outros países onde a campanha de vacinação está avançada”.

No Brasil, entretanto, apenas 11,11% da população havia recebido a imunização completa até o dia em que o presidente resolveu se opor ao uso da proteção facial. “Vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado com pesquisas em relação à covid”, disse Queiroga, que também declarou à CNN não haver prazo para a conclusão do suposto estudo. “Para isso precisamos vacinar a população brasileira e avançar”, afirmou.

Para Vecina, o ministro deve tomar cuidado antes de recomendar o abandono total da máscara para vacinados e já infectados. “Espero que o Queiroga, que quer ser um sobrevivente no cargo, consulte os colegas imunologistas, sanitaristas, epidemiologistas e especialistas em moléstias infecciosas, antes de tomar essa decisão. Senão ele vai ocupar um lugar terrível na história da saúde pública brasileira”, alerta.

 

Nossa opinião

  • Você sabe por que alguns imbecis não usam máscaras para evitar a disseminação do coronavírus? Justamente por que são imbecis.

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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