Uma análise de registros médicos de quase dois milhões de pacientes de coronavírus revelou que um quarto deles têm novos problemas de saúde, incluindo pessoas cuja infecção foi leve ou eram assintomáticas
(Pam Belluck, The New York Times, reproduzido pelo Estadão, 18.jun.2021, com comentário nosso)
Centenas de milhares de americanos buscaram tratamento médico para problemas de saúde, após contraírem e se curarem da covid-19, que não tinham antes de serem infectados, segundo o maior estudo feito até agora sobre os sintomas a longo prazo observados em pacientes que contraíram a doença.
O estudo, que monitorou quase dois milhões de pessoas nos Estados Unidos que contraíram o coronavírus no ano passado, concluiu que um mês ou mais após a infecção, quase um quarto delas – 23% – buscou tratamento médico relatando novos problemas de saúde.
E foram pessoas de todas as idades, incluindo crianças. Os problemas mais comuns relatados têm sido dores nos nervos e músculos, dificuldades para respirar, colesterol alto, mal-estar, cansaço e pressão alta. E também sintomas intestinais, enxaqueca, problemas de pele, anomalias cardíacas, transtornos do sono como também ansiedade e depressão.
Esses problemas têm sido comuns mesmo em pessoas que não adoeceram com o vírus. Embora quase a metade dos pacientes hospitalizados tenha relatado problemas de saúde, a situação também foi a mesma em 27% dos que apresentaram sintomas moderados ou leves da covid-19, e 19% dos que disseram ser assintomáticos.
“O que nos surpreendeu foi que a grande porcentagem dos assintomáticos entrou nessa categoria de sintomas de longo prazo da covid”, disse a médica Robin Gelburd, presidente da FAIR Health, organização sem fins lucrativos que realizou o estudo com base no que afirma ser o maior banco de dados abrangendo as empresas de seguro saúde.
Mais da metade dos 1.959.982 pacientes cujos registros foram analisados não reportaram sintomas da infecção por covid. E 40% tiveram sintomas, mas não foi necessária uma hospitalização, incluindo 1% cujo único sintoma foi a perda do olfato e do paladar. Somente 5% precisaram ser internados.
Segundo a Dra. Gelburd, o fato de as pessoas assintomáticas relatarem sintomas pós-covid é importante e deve ser enfatizado de modo que pacientes e médicos avaliem a possibilidade de que alguns problemas de saúde na verdade são efeitos secundários do coronavírus. “Há algumas pessoas que podem nem saber que tiveram a covid-19”, disse ela. “Mas se continuarem a apresentar alguns problemas que são incomuns no caso deles, vale a pena uma maior investigação pelos médicos que as estão tratando”.
O estudo analisou registros de pessoas diagnosticadas com a covid-19 entre fevereiro e dezembro de 2020 e as monitorou até fevereiro de 2021. E concluiu que 454.477 indivíduos consultaram um médico por causa de sintomas observados 30 dias ou mais após a infecção. De acordo com a FAIR Health, a análise passou por uma revisão acadêmica independente, mas não foi formalmente revisada por pares.
“A força deste estudo está no seu porte e habilidade de examinar uma série de problemas graves em diversos grupos de idade”, afirmou a Dra. Helen Chu, professora de medicina e doenças infecciosas na faculdade de medicina da universidade de Washington, que não participou da pesquisa.
O estudo “reforça o ponto de que a covid no longo prazo pode afetar quase todo o sistema orgânico”, disse o Dr. Ziyad Al-Aly, chefe do serviço de pesquisa e desenvolvimento do Health Care System de St. Louis, Virginia, que também não esteve envolvido no estudo.
“Algumas dessas manifestações são crônicas que irão durar a vida inteira e marcarão para sempre alguns indivíduos e famílias”, acrescentou o médico.
Neste novo estudo, o problema mais comum relatado pelos pacientes foi dor – incluindo inflamação nos nervos e dores nos nervos e músculos – o que foi reportado por mais de 5% dos pacientes, ou quase 100.000 pessoas, ou seja, mais de um quinto daqueles com problemas após a covid. Dificuldades para respirar, incluindo falta de ar, foram relatados por 3,5% dos monitorados.
Quase 3% dos pacientes buscaram tratamento para problemas relacionados a mal-estar e cansaço, uma categoria de amplo alcance que inclui casos como confusão mental e exaustão que pioraram depois de uma atividade física ou mental – efeitos que foram informados por muitas pessoas que tiveram covid-19.
Outros problemas de saúde que surgiram, especialmente no caso de adultos nos seus 40 ou 50 anos de idade, incluíram colesterol alto, diagnosticado em 3% dos pacientes, e pressão alta (2,4%), segundo o estudo. O Dr. Al-Aly disse que esses problemas que comumente não têm sido considerados efeitos secundários do vírus “deixam cada vez mais claro que a vida pós-covid é marcada por desarranjos no sistema metabólico”.
Relativamente poucas mortes – 594 – ocorreram 30 dias ou mais após a infecção pela covid e na maior parte foram pessoas que precisaram ser internadas por causa da doença.
O estudo, como muitos que envolvem registros eletrônicos, soluciona alguns aspectos do panorama pós-covid. Mas não indica quando surgem os sintomas ou por quanto tempo persistiram os problemas, e também não avaliou exatamente quando os pacientes buscaram ajuda médica, sugerindo apenas que isso ocorreu 30 dias ou mais.
É também possível que algumas pessoas classificadas como assintomáticas desenvolveram sintomas depois de terem testado positivo. E algumas que receberam seu primeiro diagnóstico de um problema de saúde, como hipertensão ou colesterol alto, pós-covid, talvez já tivessem esses problemas anteriormente, mas nunca se trataram.
“As pessoas com sintomas que surgem depois de curadas da covid-19 precisam de cuidados multidisciplinares”, disse Al-Aly, “e o nossos sistemas de saúde têm de se adaptar a esta realidade e se capacitarem para tratar esses pacientes”.
Nossa opinião
- É imprescindível que Governos Federal, Estaduais e Municipais prepararem uma estrutura ágil para acompanhar os pacientes que tiveram a COVID e tiveram a sorte de escapar. São inúmeros os casos relatados em todo o mundo de sequelas que podem acompanhar os recuperados pela vida afora. E muitas mortes podem acontecer com estes pretensamente recuperados se não houver este acompanhamento pós COVID. (LGLM)