Citação a líder do governo em CPI engrossa mobilização contra Bolsonaro, e aliados minimizam suspeitas

By | 27/06/2021 6:06 am

Oposição quer travar votações, antecipar protestos e incluir caso Covaxin em pedido de impeachment após citação a Barros

(Mateus Vargas, Thiago Resende e Marcelo Rocha, na Folha)

Após o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), entrar no centro das apurações da CPI da Covid no Senado sobre supostas irregularidades na compra da Covaxin, a oposição quer paralisar votações no Congresso.

Líderes do centrão, no entanto, dizem que ainda não há clima para travar debates, e esperam desdobramentos das acusações apresentadas pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF).

Congressistas da oposição avaliam citar o caso Covaxin em “superpedido de impeachment” que será apresentado contra Jair Bolsonaro na próxima semana, ou elaborar uma proposta específica sobre as suspeitas de irregularidade.

Ainda discutem com movimentos sociais a possibilidade de antecipar protestos contra Bolsonaro que estavam marcados para o fim de julho.

Já senadores governistas da CPI minimizam as declarações do servidor e do deputado e dizem que não havia má-fé da Precisa Medicamentos, que negociou a vacina com o Ministério da Saúde, ao apresentar documento com dados errados. Os papéis foram parcialmente retificados.

A existência de denúncias de irregularidades em torno da compra da vacina indiana foi revelada pela Folha no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso ao MPF (Ministério Público Federal) do servidor, que é chefe da Divisão de Importação da Saúde.

O Congresso discute projetos de interesse do governo, como as reformas administrativa, tributária e eleitoral, além do voto impresso, uma bandeira de campanha do presidente Jair Bolsonaro, e o projeto que muda regra sobre as demarcações de terras indígenas.

O presidente não se manifestou diretamente sobre as suspeitas que atingem Barros, mas voltou a atacar a CPI da Covid durante ao participar neste sábado (26) da terceira motociata em apoio ao governo, desta vez em Chapecó (SC). “Querem apurar o quê? No tapetão não vão levar”, afirmou.

Em depoimento à CPI nesta sexta-feira (25), o deputado Luis Miranda disse que o líder do governo foi atribuído por Bolsonaro às supostas irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo algo errado, desvia dinheiro público das pessoas morrendo da porra dessa Covid?”, disse Miranda. Ele e o irmão levaram o caso Covaxin a Bolsonaro em 20 de março.

governo fechou contrato para compra de 20 milhões de doses da Covaxin em 25 de fevereiro, por R$ 1,6 bilhão, no momento em que tentava aumentar o portfólio de imunizantes e reduzir a dependência da Coronavac, que chegou a ser chamada por Bolsonaro de “vacina chinesa do João Doria”.

Líderes de partidos aliados ao governo, como PP e PL, avaliam que, apesar de a denúncia ainda precisar de apuração e desdobramentos, o depoimento dos irmãos Miranda à CPI gerou um fato político e amplia o atual ciclo de desgaste de Bolsonaro.

A oposição quer aproveitar o momento para intensificar o plano de ataque ao governo. A estratégia é articular com partidos independentes uma coalizão para impedir os trabalhos da Câmara até que a denúncia envolvendo Barros seja apurada.

Isso elevaria a pressão para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), analise os pedidos de impeachment.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, quer aderir ao movimento de tentar barrar as votações no Congresso. “Vamos propor a todos os partidos. Esta decisão não pode ser solitária, pois não teria eficácia”.

O depoimento, na avaliação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, mostrou que Bolsonaro não mandou investigar a denúncia por interesses políticos. “Isso é prevaricação. Estamos defendendo que esse caso integre o superpedido de impeachment”, disse.

Para o líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS) as suspeitas sobre a Covaxin “mudam o cenário” e podem antecipar novos protestos contra o presidente, marcados inicialmente para 24 de julho. “A palavra de ordem agora é impeachment”.

O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Iago Montalvão, defendeu nas redes sociais que os protestos sejam reforçados em Brasília próxima quarta-feira (30), data de entrega do superpedido de impeachment.

Governistas, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) e o senador Marcos Rogério (DEM-RO), criticaram o depoimento e o que eles chamaram de “denúncias vazias”. Aliados de Bolsonaro usam as redes sociais, onde encontram boa parte da sua base política, para diminuir o impacto da sessão da CPI desta sexta.

Fabricada pela Bharat Biotech, a vacina é negociada no Brasil pela Precisa Medicamentos, empresa que tem no quadro societário a Global Gestão em Saúde S. A.

A Global responde a uma ação de improbidade por contrato de R$ 20 milhões assinado em 2017 com o Ministério da Saúde, para importação de medicamentos para doenças raras. À época, Barros era o chefe da pasta, e produtos não foram entregues.

Enquanto a oposição tenta usar a denúncia para deixar o governo mais acuado, o centrão tem visto o episódio com mais cautela –só deve adotar movimentos mais bruscos se novos fatos derem sustentação à acusação, que ganharia potencial ainda mais danoso ao presidente.

Para o líder do PL no Senado, Wellington Fagundes (MT), o caso tem que ser apurado. “Não deixa de ter um conteúdo político muito forte. Mas acho que, de cara, não tem motivo para paralisar o Congresso”.

Membros do PL e PP, partidos do centrão que se associaram a Bolsonaro, também não enxergam motivos para abertura de um processo de impeachment contra o presidente. Cabe a Lira, que é do PP e aliado do Planalto, dar aval a eventual investigação de Bolsonaro.

“É uma acusação grave e agora o deputado Luis Miranda vai ter que comprovar o que ele está falando”, avalia o líder do PP na Câmara, Cacá Leão (BA).

Líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA) disse que a bancada ainda não avaliou as declarações feitas à CPI, e seria precipitado falar em travar discussões do Congresso.

Vice-líder do governo no Congresso, o deputado Aluísio Mendes (PSC-MA) não quis fazer um juízo sobre as irregularidades atribuídas a Barros, mas defendeu a apuração da denúncia, sem paralisação do Congresso. “Só enxergo nisso motivo para o Congresso trabalhar ainda mais, seja em votações de matérias importantes seja em investigação.”

As declarações do servidor e do deputado à CPI também devem servir de combustível para a comissão estender os trabalhos. O prazo inicial de 90 dias se encerra em 10 de agosto, e pode ser renovado.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que há fortes indícios de que Bolsonaro cometeu crime de prevaricação e que a comissão avalia enviar notícia-crime ao STF (Supremo Tribunal Federal). “Estão dados todos os elementos do crime de prevaricação”, disse.

Já o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirmou que as acusações são fracas e não devem atingir ações do governo. “A oposição já estava fazendo o circo dela. Para mim, é só mais uma narrativa”, afirmou.

Suplente da CPI e aliado do governo, Marcos do Val (Podemos-ES) desqualificou a fala do deputado Luis Miranda. “Como dar credibilidade a uma pessoa que responde a centenas de processos na Justiça, inclusive por estelionato? Querer que um presidente [da República] possa ouvir e dar crédito a isso?”, questionou.

Do Val disse que espera a ida do líder do governo na Câmara à CPI para se posicionar. “Embora senadores da comissão comentem que há alguns indícios, eu não sou julgador.”

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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