‘Ipec mostra que presidente se esforça para viabilizar a volta de Lula’

By | 27/06/2021 8:46 am

A grande obra de Bolsonaro

Pesquisa do instituto Ipec mostra que o presidente está se esforçando com denodo para viabilizar a volta de Lula da Silva

(Editorial do Estadão, 26/06/2021)
A mais recente pesquisa de intenção de voto para presidente produzida pelo instituto Ipec mostra o ex-presidente Lula da Silva com 49%, contra 23% do presidente Jair Bolsonaro. Se as eleições fossem hoje, seriam grandes as possibilidades de o petista vencer ainda no primeiro turno.

Felizmente ainda faltam 16 meses para a votação, e nem se sabe bem quem serão os candidatos – salvo Lula da Silva e Bolsonaro, que nunca descem do palanque. Portanto, não é possível cravar que esse cenário tétrico se manterá.

Mas a pesquisa mostra um fato cristalino: é Bolsonaro quem está fortalecendo a candidatura de Lula da Silva. Quando se observa o potencial de voto, saltou de 50% para 61%, de fevereiro para cá, a parcela de entrevistados que dizem que poderiam votar ou votariam com certeza em Lula. Já os que dizem que não votariam em Lula de jeito nenhum passaram de 44% para 36%.

Com Bolsonaro, o cenário se inverte. Saltou de 56% para 62% o porcentual dos que dizem que não votariam no presidente de jeito nenhum, enquanto a parcela dos que se dispõem a votar nele caiu de 38% para 33%.

Não é preciso ser estatístico para observar que Lula da Silva herdou parte do potencial de voto de Bolsonaro, e sem fazer força. O líder de um partido que, quando esteve no poder, se envolveu em grossas traficâncias, provocou inédita crise econômica e foi pivô da profunda cisão que a sociedade brasileira experimenta há anos, o que em qualquer lugar civilizado resultaria em ostracismo político, hoje surge como grande favorito a retomar a Presidência. Eis a grande obra de Bolsonaro.

O presidente está se esforçando com denodo para viabilizar a volta de Lula da Silva. Depois de dois anos e meio de absoluta inércia administrativa, em que passou mais tempo em palanques e se divertindo em praias e passeios, enquanto gastava energia sabotando os esforços para combater a pandemia de covid-19, criando crises com o Judiciário, o Congresso e os militares e investindo no isolamento do Brasil no mundo, o presidente colhe os frutos de seu empenho em arruinar o País: para cada vez mais eleitores, o retorno de Lula é menos danoso do que a continuidade de Bolsonaro.

Se não bastasse a catástrofe administrativa, Bolsonaro, eleito com a tonitruante promessa de acabar com a corrupção deslavada da era lulopetista, acumula escândalos de fazer inveja à tigrada de antanho.

O presidente brada que não houve um único caso de corrupção em seu governo, mas um ministro sofreu busca e apreensão em inquérito sobre suposto favorecimento ao contrabando de madeira, outro foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de chefiar esquema de candidaturas laranjas e agora há fortes indícios de que o Ministério da Saúde foi tomado por saúvas interessadas em faturar com vacinas e cloroquina.

E aqui nem se fala de rachadinhas, uso de dinheiro público em campanha eleitoral fora de época e aparelhamento explícito da máquina do Estado para fins privados, marcas da nefasta era bolsonarista.

A tudo isso se soma a relação de vassalagem de Bolsonaro com o Centrão, que culminou com a farta distribuição de verbas do Orçamento longe dos controles democráticos – que, conforme concluiu o Tribunal de Contas da União, “não reflete os princípios constitucionais, as regras de transparência e a noção de accountability”.

Diante da sangria de popularidade e pressionado pela reação das instituições, Bolsonaro, em vez de se emendar, decidiu ultrajar ainda mais os brasileiros. No momento em que vários países que já haviam controlado a pandemia de covid-19 voltam a falar em medidas restritivas ante a contaminação por novas cepas, Bolsonaro aparece em público tirando a máscara de uma criança, escarnecendo daquela que é a maneira mais barata de conter a doença e, assim, contribuindo para piorar um quadro que já é catastrófico no Brasil.

Não é à toa que, segundo a pesquisa do Ipec, Bolsonaro perde de Lula inclusive entre os evangélicos, apesar de todas as juras do presidente a essa parcela do eleitorado. Ante a razia bolsonarista, até o diabo parece charmoso.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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