Não, o presidente não é acusado de comandar ou arquitetar a negociação espantosa da vacina Covaxin. A questão é de prevaricação e expõe o quanto ele não dá bola para o que acontece nos ministérios e no País
O presidente Jair Bolsonaro vem perdendo condições de governabilidade rapidamente. Esta realidade está aí, à vista de todos, mas ele é incapaz de reagir demonstrando alguma capacidade de liderança, reassumindo seu próprio governo, dando um choque de gestão e adotando um discurso minimamente condizente com o tamanho da crise – crise dele e do País. Bolsonaro está fora de órbita e seu governo, perdido no espaço.
Não, o presidente não é acusado de comandar ou arquitetar a negociação espantosa da vacina Covaxin. A questão é de prevaricação e expõe o quanto ele não governa, não quer saber, não dá bola para o que acontece nos ministérios e no País e está mergulhado até o último fio de cabelo no Centrão, na defesa dos filhos, na sua própria ideologia e, acima de tudo e de todos, na sua reeleição.
O funcionário concursado Luís Ricardo Miranda e seu irmão, deputado Luis Miranda, foram à residência oficial do presidente num sábado, relataram a pressa e a pressão no Ministério da Saúde em favor da Covaxin e entregaram a ele a nota fiscal (NF) com discrepâncias graves em relação ao contrato. Não erros burocráticos, superficiais nem “de digitação”, mas uma evidente tentativa de roubo do dinheiro público. Na compra de vacinas!
A NF previa o pagamento para uma empresa não citada no contrato e que, ora, ora, é, nada mais nada menos, uma offshore com sede em paraíso fiscal e patrimônio de US$ 1 mil. O pagamento de US$ 45 milhões seria integralmente antecipado e o “importador”, ou seja, nós, o povo brasileiro, arcaríamos com frete e seguro.
Soma daqui, diminui dali, a quantidade de doses era uma no contrato e outra na NF e mais: o Brasil pagaria antecipadamente por vacinas com prazo de validade prestes a vencer. Ah! Pelo preço mais caro do que o de todas as demais, inclusive da desprezada Pfizer.
Mais do que não ter sido autorizada, a Covaxin tinha sido desautorizada pela Anvisa e não era reconhecida nem pela agência reguladora do seu país, a Índia. Não bastasse, sua representante no Brasil, a Precisa, é envolta em suspeitas no setor público, por superfaturamento e má qualidade de testes de covid, além de sócia da Global, processada por receber a grana, mas não entregar os medicamentos para… o Ministério da Saúde.
Não precisa ser advogado, economista, contador, basta saber ler para ver que aí tem! Responsável pela área de importações do ministério, Luiz Ricardo Miranda leu, assustou-se, contou para o irmão, aliado de Bolsonaro, e foram ambos relatar ao presidente, que prometeu levar para a PF e não fez nada. Agora ataca os dois e inventa que repassou para o general Eduardo Pazuello, o bobo que mata todas as bolas no peito.
A revista Veja informa que o empresário Francisco Maximiano, da Precisa, foi introduzido no BNDES pelo 01, senador Flávio Bolsonaro. Ok, acontece. Quem está no olho do furacão é o ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, líder de todos os governos anteriores e do atual. Segundo o deputado Miranda, o presidente nem ficou surpreso com o novo “rolo” do próprio líder.
Por que Bolsonaro lavou as mãos? Deixar para lá uma roubalheira desse tamanho na Saúde só para preservar Ricardo Barros? Quando Ricardo Salles cai por denúncia de corrupção? Em nome do que, e de quem, o ministro Onyx Lorenzoni e o coronel Élcio Franco jogam lama, PF e MP em cima dos irmãos Miranda, acusando uma nota fiscal verdadeira de fraudulenta? Não é fake news, é calúnia, difamação e coação de testemunhas.
Enquanto suas condições de governabilidade e seu governo esfarelam ao vivo e em cores, o que faz Jair Bolsonaro? Motociatas, ameaças ao Supremo, ataques a jornalistas (mulheres, em geral) e campanha contra máscaras e a urna eletrônica, um orgulho nacional. As pesquisas dizem que não está dando certo.