Máscara, distanciamento e ventilação continuam importantes no combate ao coronavírus
(Patrícia Pasquini, na Folha em 17/07/2021), seguido de comentário nosso)
Mesmo que a maioria da população brasileira esteja vacinada contra a Covid no segundo semestre, o país precisará manter outros cuidados para conter a disseminação do coronavírus, afirma Claudio Maierovitch, médico sanitarista da Fiocruz, membro do Observatório Covid-19 BR e gestor da Anesp (Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental).
“Embora a previsão seja a de que a população dos grupos elegíveis para a vacinação em grande parte já terá sido vacinada até o final do ano, teremos três preocupações: vacinados que não ficaram imunes, portanto, além de transmitirem a Covid-19 podem ficar doentes; pessoas que deveriam ter tomado a vacina e não o fizeram por alguma razão; e o fato de a quantidade de crianças não vacinadas ser suficiente para manter o vírus em circulação”, diz Maierovitch.
A questão, diz ele, não é só levar em conta as novas variantes do coronavírus, mas considerar o comportamento da população.
“Se as pessoas voltarem a aglomerar, deixarem de usar máscaras e abandonarem os cuidados, a vacina não vai segurar. Estamos em plena pandemia e com números que continuam trágicos. Não é para brincar de contente porque melhorou um pouquinho. É uma tragédia, como se caíssem quatro ou cinco boeings por dia”, afirma Maierovitch.
“As pessoas perderam o referencial. Quando atingimos mil mortes por dia, todos ficamos horrorizados, e com razão. Continuamos hoje num patamar superior a esse, do pior momento do ano passado, mesmo com esse alívio que começou a acontecer nas últimas semanas”, diz o sanitarista.
Para ele, campanhas para orientar e atualizar a população sobre as formas de transmissão precisam ser realizadas. “Quase não percebemos a existência da campanha de prevenção e para o uso de máscara do governo federal. Deveríamos ter também uma campanha chamando as pessoas para a vacinação”, diz.
Por esse motivo, um grupo de cientistas, pesquisadores e gestores públicos lançou a campanha InformarPrevenirSalvar. A iniciativa é do Observatório Covid-19 BR e da Anesp com o apoio da Frente Nacional de Prefeitos, Consórcio Conectar, Instituto Alziras, Instituto Arapyaú, Vital Strategies e ImpulsoGov.
O material da campanha —portal, cartilha, vídeos, proposta de decreto municipal, conteúdos de capacitação e comunicação— traz à população em geral, a gestores públicos e aos agentes comunitários de saúde informações atualizadas sobre as medidas para prevenir a transmissão do vírus.
A ideia é chamar a atenção para o tripé máscara, distanciamento social e ventilação, já que a principal forma de transmissão do coronavírus é pelas vias aéreas.
“A ciência tem novas descobertas. O vírus é novo. No ano passado, sabíamos zero sobre ele e, aos poucos, o conhecimento avançou. Tem coisas que achávamos que funcionava de um jeito, mas funciona de outro. É o caso de um dos vértices desse triângulo, que é a ventilação”, diz Marcia Castro, cientista, professora de demografia da Faculdade de Saúde Pública de Harvard e membro do Observatório Covid-19 BR.
“Por muito tempo, não era a ventilação que aparecia como uma das coisas mais importantes. Tinha muito aquele foco de lavar tudo e usar álcool em gel. Hoje, entendemos que é exatamente pelo ar, através dessas partículas chamadas aerossóis, que a transmissão se dá”, afirma.
A campanha InformarPrevenirSalvar elaborou uma cartilha para os agentes comunitários. É uma coletânea das dúvidas desses profissionais sobre a Covid.
A cartilha inclui informações sobre os sintomas da doença, a diferença entre as cepas, vacinação, o melhor tipo de máscara, novos protocolos a serem seguidos, orientações sobre distanciamento físico em ambientes fechados e o quanto falar alto facilita a transmissão do vírus.
“O agente tinha que ser a espinha dorsal da resposta à pandemia, porque ele trabalha e mora na comunidade. É a pessoa que tem a confiança da população que serve. Ele sabe onde estão as pessoas com comorbidades, quem mora em casa onde não há ventilação e nem condições de isolar o familiar que se torna um caso suspeito, por exemplo. Então, ele é o olho da vigilância na ponta, onde tudo acontece”, diz Castro.
Para as prefeituras, a ideia é garantir que haja a melhor qualidade do gasto possível nos investimentos feitos para a prevenção, diz Pedro Pontual, presidente da Anesp (Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental).
“A atualização do protocolo deveria ser um destaque. Não gaste dinheiro comprando termômetro digital. Compre máscara PFF2 e distribua. Aquele termômetro para checar a temperatura é um instrumento muito menos eficaz do que o investimento em máscara. Hoje, a ciência deixa isso muito claro”, afirma Pontual.
“Essa tragédia cria desafios, e com isso todo mundo aprende. É uma oportunidade de entender um pouco das complexidades que existem na ação do estado. É o momento de amadurecimento da compreensão do que é um Sistema Único de Saúde e o quão potente é a articulação entre as partes”, afirma.
Nossa opinião
- A pandemia não se acabou, nem ninguém sabe se um dia se acabará. E se deixarmos de tomar as medidas sanitárias recomendadas pelas autoridades, ela pode nunca se acabar. Vejam o exemplo dos Estados Unidos. Com a maior parte da população vacinada, o número de infectados voltou a aumentar, principalmente por conta das novas variantes que vão aparecendo. E estas variantes são cada vez mais perigosas. Portanto, nada de abrir a guardar, nada de afrouxar a vigilância. Nada de aglomerações. Continuemos a usar as máscaras, a lavar as mãos com água e sabão ou com álcool gel 70%, a fazer higiene total sempre que chegarmos em casa. (LGLM)