Reforma ministerial: Bolsonaro é refém de um sistema que não soube controlar

By | 21/07/2021 4:13 pm

(Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper, 21/07/2021).

Foto: Beto Barata/Agência Cãmara

Reformas ministeriais fazem parte do processo político. Em tese, visam aprimorar a eficiência geral do Executivo: o desempenho administrativo, a representatividade e prestígio social do ministério, a governabilidade e os vínculos, no Congresso Nacional, por meio do compartilhamento de espaços de poder. Em tese, são pensadas no contexto de amplos projetos de Poder, de desenvolvimento econômico e social.

No caso concreto do Brasil, porém, tese e realidade se desencontram frequentemente. Sob as circunstâncias que abraçam Jair Bolsonaro esse desencontro parece ainda mais dramático.

É fato que a maioria das reformas ministeriais, no País, é feita sob a pressão dos riscos da fragilidade de vínculos entre o governo e o Parlamento. Dão-se quando o sistema de barganhas entra em colapso e precisa ser repactuado a preços crescentes para o Executivo. Sob Bolsonaro, os valores estão hiperinflacionados.

A presente reforma se dá à sombra de mais de 100 pedidos de impeachment, do quase total descrédito diante da opinião pública, fruto dos múltiplos colapsos, da economia à Saúde Pública, revelados no cotidiano das pessoas e no dia a dia das sessões da CPI da Covid-19. As perspectivas eleitorais são desalentadoras para a base governista, como demonstram as pesquisas de opinião. O “Custo Bolsonaro” aumenta em cada rincão do País; natural que os preços disparem e atinjam espaços centrais de poder.

Hoje, Bolsonaro é refém de um sistema que não apenas não soube controlar como a ele se entregou docilmente, embora sem admitir a seus fanáticos. Pois, ao mesmo tempo, é refém da própria língua porque seus gestos negam o farisaísmo eleitoral que, um dia, explorou.

Da “nova política” ao aprofundamento de sua capitulação, Bolsonaro é consciente da regra básica do fisiologismo: quanto mais fraco o governo maior é o preço a pagar. A Casa-Civil é o coração do governo. Nas mãos de Ciro Nogueira, a tendência é que ceda mais e mais nacos de poder e orçamento. O Centrão não perde tempo na fila do osso.

 

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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