O medo de Lula e Bolsonaro

By | 24/07/2021 6:25 am

Eles temem que haja um terceiro candidato competitivo e não perdem oportunidade de desautorizar uma candidatura de centro 

(Editorial do Estadão, 24/07/2021)
No mesmo dia, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro manifestaram por meios diferentes – um no Twitter, o outro numa entrevista à rádio – o mesmo medo. Os dois temem que haja um terceiro candidato competitivo nas eleições de 2022 e não perdem oportunidade de desautorizar uma candidatura viável de centro.

Além de mostrar a estreiteza de horizontes políticos que Lula e Bolsonaro querem impor à população, a tática revela a plena viabilidade de um candidato honesto, competente e equilibrado. De outra forma, Lula e Bolsonaro não estariam tão empenhados – quase que de mãos dadas, pode-se dizer – ridicularizando uma candidatura de centro.

“A terceira via – escreveu Lula em sua conta no Twitter – é uma invenção dos partidos que não tem candidato. Falam em polarização… O que tem de um lado é democracia e do outro é fascismo. Quem está sem chance usa de desculpa a tal da terceira via.” E explicitando o seu receio de que haja uma reunião das forças democráticas em torno de um candidato de centro viável, o ex-presidente petista concluiu: “Seria importante que todos os partidos lançassem candidato e testassem sua força”.

Como se pode ver, Lula não mudou nada. Coloca-se, nada mais, nada menos, como a própria representação da democracia e, para completar o atrevimento, rejeita a possibilidade de que exista uma outra candidatura viável para enfrentar Jair Bolsonaro. É a “democracia” nos moldes petistas – só é democrático quem apoia Luiz Inácio Lula da Silva.

A tentativa petista de monopolizar a oposição a Jair Bolsonaro tem um objetivo cada dia mais explícito. A polarização com o governo Bolsonaro é uma maneira de desviar a atenção do enorme passivo de corrupção, incompetência e negacionismo que marca a história do PT.

Lula não pediu desculpas à população pelos escândalos de corrupção do PT nem pelo desastre econômico que foi o governo de Dilma Rousseff. Também não explicou a razão pela qual está envolto em tantos processos penais, processos nos quais se defende por meio de questões formais. O País não ouviu até hoje do ex-presidente Lula nenhuma explicação para tantos mimos e agrados recebidos de empreiteiras.

Eis o ponto central. Uma candidatura viável de centro exigirá que Lula explique o passado do PT e apresente um mínimo de propostas para o País. Já não bastará ficar falando mal de Jair Bolsonaro, como se algumas palavras de crítica por si sós pudessem lhe dar credenciais para merecer a confiança e o voto da população. Para o PT, a polarização com o bolsonarismo é uma maneira fácil de rebaixar o debate público a um nível bem baixo, sem precisar enfrentar o desastroso histórico do partido.

E o mesmo ocorre com Jair Bolsonaro. O ex-capitão precisa que as opções políticas estejam restritas a um lamentável e irresponsável binarismo entre Lula e ele, para que sua reeleição tenha alguma nota de viabilidade. A simples existência de um candidato viável de centro, competente e honesto, escancara o absurdo que seria dar mais um mandato de quatro anos a quem se esforça todos os dias para ser o pior presidente da história do País.

Por isso, Jair Bolsonaro tenta que o eleitor não disponha de nenhuma opção além do bolsonarismo e do lulopetismo. “Tem uma passagem bíblica que diz, seja quente ou seja frio, não seja morno. Então, terceira via, povo não engole isso aí”, disse em entrevista à Rádio Itatiaia. Felizmente, a população tem outra percepção da política, um tanto mais equilibrada. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, 59% dos entrevistados disseram que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. Não há intolerância da população com o centro. A intolerância é com a irresponsabilidade, o negacionismo e o desgoverno.

Em relação a uma candidatura viável de centro, Jair Bolsonaro repetiu o seu mantra. “Não vai dar certo. Não vai agregar. Não vai atrair a simpatia da população. Não existe terceira via. Está polarizado”, disse Bolsonaro, em uníssono com Lula. O medo dos dois é rigorosamente a esperança do País.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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