Leia análise de Fernando Abrucio, O Estado de S. Paulo, em 30/07/2021
No fundo, a aposta política do Centrão envolve incorporar o que se poderia chamar de ‘Custo Bolsonaro’. Os políticos de partidos tradicionais da centro-direita que agora aliam-se ao presidente da República poderão ser, em alguma medida, identificados com os atos golpistas e extremistas do bolsonarismo. Três efeitos negativos podem advir disso. Primeiro e mais importante: alguns parlamentares do Centrão têm processos no STF e serão acompanhados pelo TSE durante a eleição de 2022. Aparecerem como incendiários da democracia os ajudará nestas arenas judiciais?
Em segundo lugar, esse discurso golpista afastará a maior parte dos eleitores dos principais centros urbanos e de grande parte da classe média, algo que se soma ao impacto negativo derivado da condução da pandemia. Não será arriscado jogar fora todo esse eleitorado? Claro que o casamento com Bolsonaro pode gerar bônus eleitorais junto aos mais pobres por meio de um Bolsa Família turbinado e do clientelismo em obras públicas. Mas em lugares como o Nordeste não será fácil tirar votos do lulismo, enquanto em Estados comandados por adversários, como São Paulo, haverá programas sociais para concorrer com o dinheiro federal do Centrão.
A consequência maior, no entanto, é que a aposta do bolsonarismo no golpismo mobiliza um grupo muito coeso e disposto a tudo. O Centrão acredita que pode moderar os arroubos bolsonaristas, e se isso der errado, há tempo suficiente para pular do barco antes da eleição de 2022. Mas tais lideranças da política tradicional se esquecem que se aliaram com quem poderá ser amanhã o seu maior inimigo. Assim, um divórcio poderá não ser suficiente para recuperar um eleitorado urbano e ainda gerar uma enorme dor de cabeça, com extremistas xingando os políticos do Centrão pelas redes sociais e pelo país afora.
* Doutor em Ciência Política pela USP e professor de Gestão Pública da FGV-Eaesp