Análise Eliane Cantanhêde: ‘Supremo e TSE mostraram seu limite. Falta o Congresso’

By | 03/08/2021 6:30 am

Basta!

Já investigado no STF, Bolsonaro vira alvo do TSE por fake news e ameaça à eleição. Sem falar na CPI…

(Eliane Cantanhêde, colunista do Estadão, 03/08/2021)

Investigado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por acusação de interferência política na Polícia Federal e por suspeita de prevaricação diante de denúncias de corrupção na compra de vacinas, o presidente Jair Bolsonaro agora é alvo direto do Tribunal Superior Eleitoral, e não uma, mas duas vezes. Sem falar da CPI da Covid

As reações dos presidentes do Supremo, Luiz Fux, e do TSE, Luís Roberto Barroso, foram diferentes na forma, mas podem ser resumidas, ambas, com uma interjeição: “Basta!” Basta de ameaças de Bolsonaro a tudo, a todos e à democracia brasileira. Eles não falaram só por eles, mas pelas suas instituições e pela defesa da democracia, da República e da Federação.

Jair Bolsonaro
 O presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em duas decisões unânimes, o TSE abriu inquérito administrativo contra Bolsonaro por ameaças seguidas à realização das eleições e pediu ao Supremo a inclusão dele no inquérito das fake news. Como prova – essa, sim, real, verdadeira – o TSE anexou o link com o circo armado pelo presidente contra a urna eletrônica, sem uma, ou meia, ou um cisco de prova de fraude.

Num discurso contido, mas dando todos os recados a favor da democracia e contra as incontroláveis investidas do presidente da República, Fux disse que o Supremo está atento ao risco de obscurantismo e aos “ataques de inverdades” que, além de atingir “biografias individuais”, são ainda mais graves: “Corroem, sorrateiramente, os valores democráticos”.

Muito mais contundente, Barroso falou do “retrocesso democrático” em curso no mundo e citou uma lista de países, como Polônia, Hungria, Turquia, Rússia, Venezuela, Nicarágua e El Salvador. Sem citar diretamente o Brasil e pessoalmente Jair Bolsonaro, ele destacou que há uma “receita padrão” nesse rumo às trevas: populismo, extremismo, autoritarismo.

Como pano de fundo à forte e indignada reação do Judiciário, está a nova obsessão do presidente, depois de armas, cloroquina, combate ao isolamento social, às máscaras, às vacinas e ao ambiente: o ataque insano às urnas eletrônicas, sempre acompanhado de ameaças à realização das eleições de 2022.

Foi essa nova e crescente obsessão de Bolsonaro que acionou seus robôs de internet e levou seus seguidores irracionais às ruas do País no domingo passado, mas Luís Roberto Barroso preferiu usar seu discurso de reabertura do TSE para se dirigir “às pessoas de boa-fé”.

Foi a elas, que ouvem, leem, refletem e tiram suas conclusões com base na realidade e no bom senso, que o presidente do TSE disse, sem subterfúgios, o que acontecerá se o Brasil voltar atrás duas décadas para reimplantar o voto impresso, a título de “auditar” a urna eletrônica: “vamos alimentar o coronelismo, a milícia, aqueles que compram votos”.

Nesta segunda-feira, 2, Barroso assinou com o futuro e todos os ex-presidentes do TSE (18 ao todo) uma nota destacando que jamais foi comprovada uma única fraude da urna eletrônica, desde 1996. Já, com o voto impresso, havia uma avalanche de fraudes grosseiras, de soterrar qualquer democracia. E, hoje, o que seriam 150 milhões de votos de papel soltos por aí, pulando de mão em mão, ao sabor de quem paga mais?

Supremo e TSE mostraram seu limite. Falta o Congresso. A Câmara deve derrubar o voto impresso na quinta-feira e, no Senado, a CPI da Covid vai levantando histórias, personagens e erros gritantes de um governo em que o presidente é o maior aliado do coronavírus em todo o mundo, passível de ser enquadrado em “homicídio comissivo, por omissão”.

Além disso, o Brasil é todo ouvidos para saber, dos presidentes do Senado e da Câmara, de que lado eles estão. Não está se falando da divisão entre esquerda e direita, mas, sim, entre democracia e obscurantismo, realidade e negacionismo, bom senso e ignorância, cidadania alerta e cegueira cívica. Com a palavra, senador Rodrigo Pacheco e deputado Arthur Lira!

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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