Volta de coligações terá resistência no Senado e pode ir para a gaveta após aprovação a jato na Câmara

By | 13/08/2021 7:29 am

Senadores e presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defendem que sistema atual seja testado mais vezes

Aprovada às pressas pela Câmara dos Deputados, a PEC (proposta de emenda à Constituição) que retoma as coligações nas eleições para deputados e vereadores não deve tramitar com a mesma celeridade no Senado, deixando em xeque a possibilidade de vigorar no pleito de 2022.

Além de avaliarem ainda não haver apoio da maioria da Casa, senadores consideram que esse tema requer mais debates, podendo tornar inviável a aprovação e promulgação da PEC até outubro, para valer nas eleições do ano que vem.

O próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem defendido a manutenção das regras aprovadas na reforma política de 2017, que acabou com as coligações. Ele também avalia que os senadores não aprovarão as mudanças feitas pela Câmara.

A PEC ainda depende de uma votação da Casa em segundo turno, prevista para a semana que vem. Há acordo entre os partidos, incluindo os da oposição, para aprovação.

As coligações tendem a estimular a proliferação de legendas, além de ser um frequente mecanismo de distorção do desejo do eleitor.

Isso porque, no primeiro caso, somente por meio dessas alianças algumas siglas nanicas e pequenas conseguem eleger representantes para os Legislativos.

As cadeiras são distribuídas de acordo com a votação total dada aos partidos e aos candidatos dos partidos que compõem a coligação. Ou seja, quanto mais robusta for a coligação, maiores as chances de siglas menores conseguirem eleger candidatos.

No segundo caso, é comum haver coligação de partidos que defendem posições antagônicas. Com isso, não raro o eleitor vota em um candidato de esquerda, por exemplo, e ajudar a eleger um de direita. E vice-versa.

Assim como na Câmara, no Senado uma PEC precisa do voto de ao menos 60% dos integrantes da Casa —49 de 81.

Nos próximos dias, líderes partidários do Senado devem se reunir com as bancadas para definir como vão se posicionar em relação à proposta.

A bancada do PSD, a segunda maior da Casa, com 11 parlamentares, pretende debater a PEC na próxima segunda-feira (16). O presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, é contrário à volta das coligações.

Para o líder da sigla, Nelsinho Trad (PSD-MS), as eleições para cargos proporcionais sem coligações precisam ser testadas em outros pleitos. “Eu acho que esse é um tema muito delicado. Entendo que o sistema atual deve ser experimentado mais vezes, porque ele fortalece os partidos”, afirmou.

Outras bancadas que devem avaliar a PEC nos próximos dias são a do MDB, a maior da Casa, e a do PT.

Os petistas são contra a volta das coligações, mas, na Câmara, votaram a favor da medida por causa do acordo que fizeram para derrotar o distritão, modelo de eleição de deputados e vereadores em que a maioria dos votos dados nos candidatos é descartada.

Entre os principais senadores do MDB, o entendimento é o de que a proposta não tem força para seguir adiante.

“Ao invés de estarmos caminhando para frente no sentido de fortalecer as nossas instituições, de fortalecer a nossa democracia, de fortalecer os nossos partidos políticos, de diminuir o número de partidos que nós temos no Congresso Nacional [….] nós demos dez passos atrás com a volta das coligações proporcionais”, afirmou Marcelo Castro (MDB-PI).

Apesar de a medida ter sido aprovada em 2017, a primeira eleição sem coligações entre os partidos ocorreu em 2020. A união das legendas em chapas ainda vale para os cargos majoritários —prefeito, senador, governador e presidente da República.

A proibição dessas uniões foi elogiada por especialistas por dar mais racionalidade ao voto do eleitor e dificultar a existência de agremiações de aluguel, reduzindo, assim, a sopa de letras partidária do país, que tem hoje 33 legendas.

O fim das coligações e a cláusula de desempenho são os dois pilares das regras que buscam sufocar legendas de aluguel ou sem representatividade na sociedade.

A cláusula retira de partidos que obtenham votação irrisória nas urnas mecanismos essenciais à sua sobrevivência, como a verba do fundo partidário e estrutura de trabalho nos legislativos.

Em 2018, 14 partidos caíram nessa peneira ao não conseguirem superar as regras da cláusula, sendo a principal delas a obtenção de ao menos 1,5% dos votos válidos nacionais na disputa para a Câmara dos Deputados. Em 2022 esse índice irá subir para 2%. Em 2030, será de 3%.

Um efeito prático desse primeiro ano de cláusula foi a extinção de três siglas nanicas, PHS, PPL e PRP. Elas foram incorporadas por partidos maiores.

O fim das coligações não atingiu as campanhas de senadores, uma vez que eles são eleitos pelo sistema majoritário. Ou seja, ficam com a vaga aqueles que tiverem a maioria dos votos nos respectivos estados.

Por esses motivos, o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), afirma que a PEC interessa apenas aos deputados e não beneficia a representatividade no Parlamento.

“Vejo a volta das coligações como um retrocesso. É uma matéria ligada à questão partidária, que interessa muito aos deputados. Acho difícil interferirmos nisso. Não acredito que os senadores vão se empenhar tanto para aprová-la”, comentou.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também criticou as mudanças aprovadas pela Câmara.

“Sou contra a mudança de voto para o distritão e a volta das coligações partidárias. Ambas as medidas enfraquecem os partidos políticos e diminuem a representatividade e a conexão entre os eleitores e os eleitos”, escreveu no Twitter.

O retorno das coligações conseguiu aval do plenário da Câmara após os deputados rejeitarem o distritião.

A medida foi fruto de um acordo entre os defensores do sistema, que não tinham os 308 votos necessários para mudar o sistema eleitoral, e a oposição, que afirmou entender a volta das coligações como um “mal menor”.

Além da volta das coligações, a Câmara aprovou nesta quinta-feira (12) outra medida que tende a fragilizar as regras que tentam reduzir o número de partidos. Trata-se da possibilidade de partidos se unirem em federações para driblar a cláusula de barreira.

Com isso, em vez de serem extintas, se fundirem ou serem incorporadas por siglas maiores, as legendas com baixíssima votação poderão continuar a existir, desde que atuem conjuntamente com outra por ao menos quatro anos. Já aprovada pelo Senado, a medida seguiu para a sanção ou veto do presidente Jair Bolsonaro.

PRÓXIMOS PASSOS DA PEC QUE TRAZ DE VOLTA AS COLIGAÇÕES

  • Ainda precisa ser aprovada em segundo turno pela Câmara, o que deve ocorrer na semana que vem
  • No Senado, a PEC começa a tramitar pela Comissão de Constituição e Justiça. Se aprovada, segue para votação em plenário (no Senado não há comissão especial)
  • Para ser aprovada pelo Senado, é preciso o voto de ao menos 49 dos 81 senadores
  • Se for aprovada sem modificação em relação ao texto da Câmara, a PEC é promulgada pelo próprio Congresso e passa a vigorar
  • Para valer para as eleições de 2022, porém, as regras têm que entrar em vigor ao menos um ano antes, ou seja, no início de outubro de 2021

A VOLTA DAS COLIGAÇÕES

O que são
Desde 2020 os partidos estão proibidos de se coligar para a eleição de deputados e vereadores. A coligação para as eleições majoritárias permanece

Por que as coligações foram proibidas
Objetivo foi sufocar agremiações de aluguel e reduzir o número de partidos hoje no país (33)

Por que podem voltar
Partidos nanicos e médios tendem a obter vagas no Legislativo apenas em coligações com siglas maiores. Com isso, pressionam pela retomada do modelo

Por que teria que se optar entre coligações e distritão
O atual sistema distribui as cadeiras com base em todos os votos dados na legenda e aos candidatos dos partidos. Quanto maior e mais forte a coligação, mais chances há de partidos menores elegerem representantes. No distritão, são eleitos os mais votados, ou seja, coligações são inócuas.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *