O principal exemplo é o PSDB, mas os demais também deram mais votos a favor do que contra o retrocesso gritante da volta da cédula de papel
O principal exemplo é o PSDB, mas os demais partidos de centro também deram mais votos a favor do que contra o retrocesso gritante da volta da cédula de papel, sob pretexto de auditar a urna eletrônica (o que é ridículo). No PSDB, 14 a 12 pró-voto impresso e a única abstenção, do deputado e ex-presidente do partido Aécio Neves. No MDB, 15 a 10. No DEM, 13 a 8. No PSD, 20 a 11.
Quem contaminou o ambiente político-institucional com a obsessão pelo voto impresso foi o presidente Jair Bolsonaro, por oportunismo político, para tumultuar, por real ameaça às eleições, por pavor da derrota em 2022 ou por simples ignorância e teimosia. Só a ele interessava, e interessa, manter esse debate vivo.
A autora do projeto, o presidente e o relator da Comissão Especial que o analisou são bolsonaristas, do PSL e do PSC. Mesmo depois da derrota na comissão, por 23 a 11, um outro bolsonarista, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rompeu a tradição e jogou a decisão final para o plenário. Nova derrota. Mas Bolsonaro não larga o osso.
Por que, então, os partidos de centro votam com ele? Raia o indecente. Só os partidos de esquerda (PT, PCdoB, PSOL e Rede) disseram um sonoro não à volta insana ao passado, às pirraças do presidente contra o TSE e os ministros do Supremo e às ameaças dele de agir “fora das quatro linhas da Constituição”. Não há como tergiversar. Zero voto. Ponto.
Depois, a Câmara derrubou o monstrengo do distritão e pôs no lugar o fantasma das coligações partidárias. Os tucanos lideraram o fim das coligações em 2017, para entrar em vigor em 2022. Mas, agora, o “novo PSDB”, como a “nova política” de Bolsonaro, votou a favor de voltar tudo atrás: 21 a 11. Pelas coligações, o eleitor vota no PT de Wellington Dias e elege candidatos do PP de Ciro Nogueira no Piauí. E vice-versa.
Na Câmara, o oportunismo se embola com o descompromisso, os neófitos se confundem com as velhas raposas e até o Novo, que deveria ser fiel ao próprio nome, também vem e vai. A direção se diz independente, a bancada é pró-Bolsonaro e cada um faz o que quer. “O bolsonarismo está infiltrado em tudo”, diz João Amoêdo, candidato à Presidência em 2018.
O PSL, que elegeu Bolsonaro e foi rapidamente descartado por ele, mostrou que continua movido pelo bolsonarismo de internet e pelo lema do “tudo que seu mestre mandar”. Se o mestre achincalha as urnas eletrônicas, sem uma mísera prova, vão todos atrás. Foram 45 a 6 no voto impresso.
E o Centrão? No Republicanos, partido de filhos do presidente, 26 a 3. Mas o PP de Lira e do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) comprovou que está, mas não é tão Bolsonaro assim, e se dividiu tanto quanto PSDB, DEM, PSD e MDB: 16 a 13.
É nesse clima que o Congresso triplica o fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões, articula mais R$ 1,3 bilhão de Fundo Partidário para 2022, desfigura a Lei de Improbidade e tenta passar o distritão. Tudo de pernas para o ar. Agora, é torcer para as instituições pararem de perder tempo com o voto impresso, e o Senado barrar a volta das coligações.
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (AM), disse ontem que “tucanaré morre pela boca”. Os partidos morrem pela boca, pelo voto, pelo oportunismo, pela falta de líderes e pelo vírus bolsonarista, que racha e corrói. Quanto mais Bolsonaro afunda, mais o centro deveria emergir. Mas prefere afundar junto.
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA