(Luiz Gonzaga Lima de Morais, publicado no Patos Online, Folha Patoense, Blog do Negreiros e PatosPBNews))
Geralmente dormimos cedo, já que acordamos por volta das quatro da manhã. E nesta madrugada fomos surpreendidos por uma postagem do Dr. Carlos Candeia, no whatsapp, que nos mexeu com o coração. Partiu para a eternidade, aos 82 anos de idade, mais um velho e querido amigo, Nestor Gondim nosso. Os ouvintes mais antigos das Espinharas e os torcedores do Esporte de Patos se lembram bem dele. Os que fomos seus companheiros na Rádio Espinharas nunca nos esquecemos dele e talvez nunca o esqueçamos.
José Nestor de Alcântara Gondim, cearense da cidade de Jardim, era um ex-seminarista que tinha virado bancário e ingressado na vida sindical lá na capital do Estado. Como sindicalista era um adversário do Golpe Militar de 1964, que começou a visá-lo, num tempo em que no mínimo as pessoas sumiam de vista. Um velho amigo, sabendo da situação o trouxe para Patos, no início de 1965. O nosso primeiro bispo diocesano, Dom Expedito Eduardo de Oliveira.
Aqui, Nestor começou a ajudar dom Expedito, na contabilidade da diocese e terminou introduzindo-o na Rádio Espinharas, de onde era diretor-presidente. Na Espinharas, Nestor passou a ajudar a outro cearense importado por Dom Expedito, o Padre Raimundo Luciano Correia Lima de Menezes, diretor da Espinharas. Nestor ajudava na contabilidade e no departamento de pessoal (foi ele que fez a primeira anotação na minha Carteira Profissional, como locutor da Espinharas) e na rádio começou a ajudar no departamento de jornalismo e no departamento esportivo.
No Departamento Esportivo se tornou um dos melhores comentaristas da emissora. Tão bom que terminou atraindo as atenções da diretoria do Esporte que terminou como técnico, ainda hoje na lembrança de muitos torcedores. Como o outro comentarista Virgílio Trindade era treinador do Nacional, eu terminei “quebrando galho” como comentarista para o inolvidável Edleuson Franco. Àquelas alturas Zé Augusto, que também virou comentarista, estava na Panatis.
Mas além de comentarista, Nestor era “pau para toda obra”. Com um microfone na mão obrava milagres. Era capaz de falar por horas numa transmissão, sem se repetir. Nisso desconheço igual. Juntava à sua enorme capacidade de expressão o preparo intelectual que o seminário lhe proporcionou.
Sua eloquência terminou fazendo dele inestimável animador de palanques e de “palanqueiro” a candidato a vereador. Foi o “palnqueiro” de Aderbal Martins de quem depois foi o Secretário de Educação. Candidato na eleição seguinte, conseguiu se eleger em Patos com 903 votos, na mesma eleição em que Dr. Edmilson Motta se elegeu prefeito.
Foi um grande vereador numa Câmara que tinha Polion Carneiro, Vircgílio Trindade, Abdias Guedes, Juraci Dantas e outras “cobras criadas”. Pena que só ficou neste mandato.
O rádio, naquela época, como ainda hoje, dá nome, mas nem sempre garante um padrão de vida mais folgado, obrigando quase todos os profissionais a terem outras atividades. inicialmente Nestor, além da radialista foi professor, mas, com o preparo intelectual e os conhecimentos técnicos que tinha, logo partiu para outra. Foi trabalhar no fisco estadual como Fiscal de Rendas. Terminou deixando o rádio e inclusive se mudando para a capital do Estado, depois do sucesso inicial na carreira aqui em Patos.
Apaixonado por Patos, Nestor voltava a nossa cidade com muita frequência até que, problemas de saúde, mais recentemente, o impedirem de rever os amigos e as rodas de papos regados a cerveja. Nunca deixou o ar boêmio e namorador de sempre, para preocupação de Dona Dalva e dos filhos. Nestas vindas a Patos ainda passou pelas rádios Itatiunga e Morada do Sol. Matava as saudades do microfone.
O filhos único filho homem lhe seguiu os rastros na parte esportiva, o hoje contador respeitado em Patos, Paulo Gondim. Paulinho, se revelou excelente comentarista esportivo, com comunicação fácil como o pai e talvez até mais técnico, pena que as exigências profissionais o tiraram do rádio. Hoje, além de contador é advogado.
A morte de Nestor levou um dos últimos grandes nomes do rádio patoense de cinquenta anos atrás. Restando a mim a dolorosa tarefa de fazer-lhe o obituário. . Dos companheiros de então, vivos só Socorro Ferreira e Fildany Gouveia. Nestor foi um grande profissional de rádio, um grande orador, um grande boêmio, um grande esposo e pai, um grande profissional, um dedicado servidor público, um grande amigo, uma grande figura humana. Adeus, Nestor e um grande abraço de despedida. Condolências a dona Dalva, Paulinho e todos os demais familiares.
O sepultamento deve acontecer no final da tarde, desta segunda, 16/08, no Parque das Acácias, onde foi velado, na capital do Estado. Lá estivemos nesta manhã levando o nosso abraço a dona Dalva, a Paulinho, às quatro irmãs e nove netos que Nestor deixou.