OTACÍLIO DIVINO E A CRUZEIRO DO SUL

By | 22/08/2021 5:24 am

José Romildo Sousa, escritor, poeta, historiador e consultor cultural

A cidade de Patos sempre ocupou um lugar de destaque no cenário da radiofonia paraibana e tudo começou na década de 30 com o serviço de som de Sinfrônio Azevedo e depois com o inolvidável Mané Lino que adquiriu esta difusora e passou a comandá-la com a denominação de “A Voz das Espinharas”, que foram reconhecidamente autenticas “escolas” para muitos dos locutores que se tornaram notáveis na memória do rádio na Morada do Sol.
Outra difusora que também abastecia os patoenses de muita música e informações era a Difusora Cruzeiro do Sul, de propriedade de Otacílio Monteiro, que funcionou por vários anos na rua Peregrino de Carvalho, no local onde se encontra instalado atualmente o Supermercado do Foguete.
Otacílio Monteiro, também chamado pelos membros da comunidade onde se encontrava inserido de Otacílio Divino que, além de locutor da sua difusora, era jogador de futebol e um homem cheio de “invenções”.
Era popularmente reconhecido como “O Homem do Globo de Cristal”, uma vez que era sempre consultado nos casos mais difíceis de serem desvendados; como em desaparecimento de dinheiro, separações amorosas e até sobre resultados de pleitos eleitorais. Sempre nos fins de semana organizava brincadeiras em frente de sua casa, a exemplo de quebra panela e, a grande atração era a gincana das bicicletas que os concorrentes tinham que realizar: um determinado percurso sem derrubar os tijolos que ficavam emparelhado, um ao lado do outro e o ciclista tinha que passar no meio deles, sem derrubá-los. Quando o concorrente não atingia o seu objetivo, levava uma grande vaia.
Naquela época podia-se encontrar em Patos bicicletas de aluguel, para se dar umas voltinhas, sendo cobrado o valor da “pedalada” pelo tempo consumido. Existiam lugares onde as alugavam na Rua 18 do Forte, pelo Senhor Birô e na Leôncio Wanderley com Seu Pombal e Otacílio das Bicicletas.
Residindo na esquina que dava para o mercado público, Otacílio Divino criou também banheiros para serem usados pelas pessoas que transitavam pela localidade. E tinha até uma cigarra que ele acionava quando o “sujeito” estava demorando no banho.
Quanto ao estúdio da emissora Cruzeiro do Sul, funcionava mesmo na sua residência que se denominava de “Vila Monteiro”. A difusora tinha uma grande quantidade de altos falantes dispostos nos postes da rede elétrica e em diversas artérias da cidade, a exemplo da rua Solon de Lucena, rua do Prado, Alto Casteliano, rua da Baixa e em pontos estratégicos de certos bairros.
A programação da Difusora Cruzeiro do Sul era montada e tinha a locução de Otacílio Divino e, tempos depois, pelo seu filho Gilson Monteiro. Começava logo cedo com “Manhã de Saudade”, onde vários representantes do cancioneiro popular, a exemplo de Ataulfo Alves, Alcides Gerardi, Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Silvio Caldas, Francisco Alves, entre tantos outros, desfilavam com suas consagradas composições.
As 18 horas, era levado ao ar a “hora do Ângelus”.
“Enquanto a noite não vem”, era o programa que iniciava a noite na difusora com uma seleção variada de músicas românticas.
A partir das dezenove horas a difusora entrava em cadeia com a Rádio Nacional para retransmissão do noticiário “A Voz do Brasil”.
“De alguém para você”, era o programa de maior audiência da difusora, começava a partir das 20 horas e nele eram oferecidas músicas e feitas declaração amorosas, sempre sendo utilizadas as letras dos nomes das pessoas destinadas para que as mesmas não fossem identificadas pelos ouvintes.
A difusora encerrava a sua programação com “A hora da Saudade”, uma sequência musical dos grandes cantores brasileiros, entre eles, Herivelto Martins, Noel Rosa, Adoniran Barbosa e Ângela Maria.
A difusora Cruzeiro do Sul encerrou suas atividades na década de 70.
Nossa opinião
  • Minha primeira experiência. como locutor foi na Cruzeiro do Sul. Um dos filhos de Otacílio, não tenho certeza de foi Gilson, deixou-me ler algumas publicidades. A voz não era lá estas coisas, mas eu lia bem. E ele me estimulou a tentar a profissão.
  • A primeira foto é na entrada da residência de Otacílio que ficava na atual rua José Genuíno. A difusora funcionava na lateral da residência, já na rua Peregrino de Carvalho.
  • Otacílio era muito integrado com a categoria. Na foto no final da matéria, ele aparece em uma comemoração do Dia do Radialista, com a turma da Rádio Espinharas, por volta de 1965. (LGLM)

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Category: Memórias de Patos

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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