“Na mão” do Centrão, Bolsonaro, como sempre, não sustenta o que diz!

By | 23/08/2021 12:41 pm

Bolsonaro recua e sanciona orçamento secreto para 2022

Apesar do anúncio de veto na LDO, governo mantém modelo de emenda que abre brecha para esquema conhecido nas redes sociais como ‘tratoraço’; veto a fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, porém, é confirmado

Após reconhecer que as emendas de relator-geral atrapalham a política fiscal e podem prejudicar a condução de políticas públicas, o presidente Jair Bolsonaro recuou e sancionou a previsão de pagamento dessas emendas, identificadas no Orçamento sob o código RP-9, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022. Com isso, os parlamentares poderão indicar esses recursos no Orçamento do ano que vem, em pleno período eleitoral.

O modelo, revelado pelo Estadão, vem sendo usado pelo governo para cortejar deputados e senadores aliados com repasses do Orçamento da União a municípios e Estados de seus redutos eleitorais, sem que seus nomes sejam divulgados, diminuindo a possibilidade de controle social.

A decisão de manter essas emendas está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira, 23, contrariando o anúncio do governo, feito na última sexta-feira, de que as modalidades de emenda seriam vetadas.

As emendas de relator, presentes no Orçamento nos dois últimos anos, aumentaram a quantidade de recursos ligados aos parlamentares. O governo do presidente Bolsonaro usou a distribuição para negociar apoio político no Congresso, reforçando a velha prática do “toma lá, dá cá” na liberação de recursos em troca de votos no Legislativo. O esquema ficou conhecido nas redes sociais como “tratoraço“, pois parte dos recursos foi usada para comprar tratores em redutos eleitorais de parlamentares.
Bolsonaro
Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Cleia Viana/ Câmara dos Deputados

Com a sanção, o Planalto coloca sua digital nesse modelo e abre mão dos próprios argumentos adotados, na semana passada, para vetar os dispositivos, como a ampliação da segregação de emendas e o grau de “engessamento” da despesa pública.

Formalmente, o governo segue com prerrogativa de decidir localidades beneficiadas com o RP-9, mas, em troca de apoio no Congresso, cede a parlamentares aliados, em acordos de bastidor, sem transparência sobre os nomes beneficiados. Tudo pronto para manter o esquema no ano que vem, ano eleitoral, com graves implicações para a política fiscal e o jogo democrático.

Na sexta-feira, 20, a Secretaria-Geral da Presidência distribuiu uma nota informando que Bolsonaro havia sancionado o projeto da LDO de 2022 vetando a previsão de pagamento das emendas de relator-geral e de comissões.

Nesta segunda-feira, 23, porém, a pasta enviou um novo comunicado retirando essa parte, mas manteve o veto ao aumento do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões. “Informamos que o documento encaminhado anteriormente não foi embasado na versão final do texto publicado hoje no DOU”, diz a nota da assessoria da pasta divulgada nesta segunda-feira.

Ao sancionar as emendas de relator, o presidente vetou outro dispositivo da LDO que aumentaria o controle do Congresso sobre a liberação desses recursos. O item vetado garantia que a execução respeitasse as indicações de beneficiários e a ordem de prioridades feitas pelo relator-geral. Além disso, dava um prazo de 180 dias para empenho dessas emendas, ou seja, para o Executivo reservar o dinheiro no Orçamento. Com esse veto, Bolsonaro mantém a distribuição do orçamento secreto da forma como é feita hoje.

As razões apresentadas pelo presidente para vetar esse ponto específico expõem um entendimento que também poderia ser usado para vetar o artigo que cria as emendas de relator. De certa forma, o Executivo reconheceu o caráter subjetivo e paroquial, além da falta de lastro na Constituição para esse tipo de emenda.

“Em que pese a boa intenção do legislador, a proposição legislativa contraria o interesse público, pois, além de adotar regra de execução de emendas parlamentares que não têm previsão constitucional, investe contra o princípio da impessoalidade, que orienta a administração pública federal, ao fomentar cunho personalístico nas indicações e priorizações das programações decorrentes de emendas, o que ampliaria as dificuldades operacionais para a garantia da execução da despesa pública”, disse o Planalto na mensagem de veto.

“É incoerente vetar a ordenação de prioridades e não vetar a própria previsão dessas emendas, porque isso, na prática, acaba por deslocar o trato balcanizado desses recursos do Congresso para o Executivo. Persistem, portanto, as críticas de afronta aos princípios da impessoalidade e da publicidade, assim como de falta de lastro constitucional para tais emendas”, disse  a professora e procuradora do Tribunal de Contas de São Paulo, Elida Graziane.

Estadão tem mostrado que o uso governo tem feito com as emendas de relator viola o princípio da impessoalidade, torna o volume de recursos para investimento escasso e o orçamento mais rígido ainda e compromete a racionalidade da intervenção estatal, pois esse dinheiro teria que ser aplicado de acordo com planos e programas estruturantes, pensados tecnicamente dentro dos ministérios. Apesar disso, o governo decidiu manter o esquema nos moldes atuais.

O modelo de liberação desses recursos ainda é questionado por especialistas e órgãos de controle. A emenda é incluída pelo relator-geral na Lei Orçamentária Anual (LOA), mas a distribuição das verbas é negociada internamente com deputados e senadores. O TCU identificou “perplexidades” no formato. No caso das emendas individuais, aquelas indicadas por cada deputado e senador e impositivas pela Constituição, o poder de cada congressista indicar os beneficiários e a ordem de prioridade na execução ficou mantida. Isso garante que o governo libere o recurso para onde o parlamentar indicar. No caso da emenda de relator, como o Estadão revelou, a escolha é feita por meio de envio de ofícios aos ministérios, sem garantia legal nem a transparência adotada nas outras modalidades.

Fundo Eleitoral

Bolsonaro vetou o trecho da LDO que autorizaria um valor de R$ 5,7 bilhões para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha em 2022 — o chamado fundo eleitoral, destinado ao financiamento de campanhas políticas.

Com o veto, o valor do fundo eleitoral para 2022 ficou em aberto e terá que ser estabelecido no projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA), que deve ser enviado até o dia 31 de agosto. O montante final poderá ser alterado pelo Congresso até a votação do projeto, em dezembro. Os partidos querem garantir um aumento na verba em relação aos R$ 2 bilhões pagos nas eleições municipais de 2020.

Pela legislação em vigor, o fundo eleitoral é calculado com base na arrecadação oriunda do fim da propaganda partidária no rádio e na TV, calculada em R$ 800 milhões, mais um porcentual não definido das emendas de bancada, que devem totalizar R$ 7 bilhões no ano que vem.

Nos próximos dias, o Executivo deve encaminhar um novo projeto de lei ao Congresso mudando as regras do cálculo para o próximo ano. Na sexta-feira, 20, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que o valor deve ficar entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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