O PT uniu o ‘nós’, Bolsonaro rachou o ‘eles’: centro, direita, classe média e o capital

By | 03/09/2021 7:54 am

Jair Bolsonaro dividiu a direita nacional, fortalecendo o seu núcleo duro, da direita tosca, belicista, atrasada e antissocial, e empurrando para a luz a direita realmente liberal

(Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo, 03/09/2021)

Se o PT instalou o “nós contra eles” no País, o governo Jair Bolsonaro conseguiu reunir de novo o “nós” e rachar o “eles”: o empresariado, o setor financeiro, o agronegócio, as PMs, as Forças Armadas, as igrejas, a classe média, o centro e a direita. E assim chegamos ao “nós” do PT contra um “eles” fracionado, difuso, um estouro da boiada.

Um bom exemplo vem de Minas Gerais, Estado politizado e avesso a radicalismos. De um lado, a Federação das Indústrias (Fiemg) fez um manifesto com uma leitura tão enviesada quanto absurda da realidade quanto a de Bolsonaro. De outro, duas centenas de empresários e executivos defendem a real democracia.

Jair Bolsonaro
Bolsonaro pode desencadear um processo com consequências imprevisíveis, sobre o qual poderá não ter controle. Foto: Gabriela Biló/Estadão – 3/9/2021

No seu “Manifesto pela Liberdade”, que confunde já no título, a Fiemg vê ataques do Supremo aos direitos individuais e à liberdade de expressão, quando a Corte faz o oposto: age para conter blogueiros, parlamentares e alucinados que pregam invadir o Supremo, atacar os ministros, desacreditar as eleições e incendiar o País com revólveres e fuzis. Isso não é “liberdade de expressão”, é crime.

Empresários e executivos mineiros se descolaram da Fiemg para defender um “grande pacto pelo Brasil” e defender a democracia: “A ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada; antes, deve ser fortalecida e aperfeiçoada”.

As duas manifestações ocorrem depois do vexame que a Fiesp impôs a empresários, a banqueiros e à própria Febraban, desistindo de um manifesto pró-paz e democracia para agradar ao rei – o rei da guerra, diga-se. Nesse caso, quem se descolou foram os setores modernos, responsáveis e democráticos do agronegócio. O “PIB nacional” se dividiu entre sabujos e altivos.

Significa que Jair Bolsonaro dividiu a direita nacional, fortalecendo o seu núcleo duro, da direita tosca, belicista, atrasada e antissocial, e empurrando para a luz a direita realmente liberal, que quer desenvolvimento, progresso, educação, inclusão, proteção do meio ambiente e, sobretudo, paz. Paz entre Poderes e entre os entes da Federação. Paz para viver, produzir, empregar.

É urgente que a divisão, entre paz e guerra, fique explícita nos ambientes armados, onde só um lado aparece, como se viu nesta quinta-feira, 2, no Estadão: “Adesão da PM ao bolsonarismo radical cresce nas redes sociais”. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a adesão às teses extremistas cresceu 29% nas PMs. Muito grave, quando Bolsonaro opera para retirar o controle dos governadores sobre as PMs dos Estados.

Com raras e dignas exceções, PMs têm se confundido com o que há de pior no bolsonarismo: desordem, quebra de hierarquia, ameaças de tiros, invasões e ataques a instituições. Não é coisa de polícia e, sim, de bandidos. A maioria silenciosa não pode compactuar com o desvio, o caos. E tem de botar a cara, como os setores do agronegócio, mas sem infringir as regras.

Nas Forças Armadas, quem expôs a divisão foi o próprio Bolsonaro, ao demitir toda a cúpula militar. E, na Polícia Federal, há muita ebulição após o presidente demitir o diretor-geral, ser acusado pelo então ministro Sérgio Moro e alvo do STF por interferência política no órgão. O foco e as operações continuam. Política, política, polícia à parte. Até quando?

A dúvida no ar, incômoda, aflitiva, é o que Bolsonaro pretende ao radicalizar cada vez mais, abandonar de vez o governo e brincar de motos e cavalos na hora do expediente, enquanto surgem notícias desabonadoras sobre o 01, o 02, o 03, a ex e agora até o 04. Usar um lobista da Precisa Medicamentos para criar uma empresa?! Ao radicalizar mais e mais, Bolsonaro racha o País para tentar esconder sua própria realidade.

COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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