A dupla face de Bolsonaro

By | 12/09/2021 6:26 am

Estratégia de Bolsonaro parece de paz pelo País, mas é de guerra pela própria sobrevivência

Com o ‘Manifesto à Nação’, o presidente não está realmente recuando e assumindo a moderação e a responsabilidade; é blefe, como a convocação do Conselho da República, e fake news, como fraude nas urnas eletrônicas

A semana começa com a comissão de juristas da CPI da Covid, liderada pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, entregando um parecer implacável sobre os crimes em que o presidente Jair Bolsonaro poderá ser enquadrado por ações, e sobretudo inações, durante a pandemia. O mais grave deve ser o de homicídio comissivo em série – justamente por não agir quando deveria e agir errado quando não deveria.

Os caminhos da CPI e das oposições se cruzam no momento mais tenso do País e do presidente. A comissão entra na reta final e finaliza seu relatório devastador enquanto uma dúzia de partidos tenta se acertar, atabalhoadamente, com o Vem Pra Rua e o MBL, para uma onda de atos pelo impeachment – que, aliás, terão a presença de integrantes da CPI, como Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania).

Bolsonaro
Jair Bolsonaro discursa durante evento no Rio Grande do Sul neste sábado, 11; os caminhos da CPI e das oposições se cruzam no momento mais tenso do País e do presidente. Foto: Alan Santos/PR – 11/9/2021

O final de ano terá protestos neste domingo, 12/9, em outubro, pelo aniversário da Constituição, e em novembro, na Proclamação da República. A CPI caminhará lado a lado, com o relatório final, a interação com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a Câmara e o Supremo.

É por esse horizonte, mas também pela miséria e o fracasso na economia, que Bolsonaro adota uma estratégia que parece de paz, mas é de guerra. Com o “Manifesto à Nação”, ele não está realmente recuando e assumindo a moderação e a responsabilidade. É blefe, como a convocação do Conselho da República, e fake news, como fraude nas urnas eletrônicas.

Seria ótimo, se fosse verdade, mas é só estratégia mesmo, porque, como avalia o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Bolsonaro tem um “formidável senso político”. O que, aliás, é o que se diz também do ex-presidente Lula. Nos dois casos, o sinônimo é bem mais simples: esperteza.

O fato é que Bolsonaro sentiu a água no pescoço e temeu as ondas: guinada nos meios empresariais, financeiros e do agronegócio, mudança de tom no Congresso, nos partidos e particularmente nas cúpulas da Câmara e Senado, união no Supremo e desgaste na opinião pública, num acirramento geral de ânimos. Além do pé atrás das Forças Armadas.

Esses movimentos conduzem a duas expressões que tiram o sono de um presidente que já não dorme mesmo, acossado por muitos e complexos fantasmas: impeachment e crime de responsabilidade. Um está na mesa do presidente da Câmara, Arthur Lira. Logo, do PP e do Centrão. O outro depende da PGR, onde o chefe Augusto Aras parece em busca de autonomia.

O recuo presidencial deveu-se, ainda, ao estrago na Bolsa e no câmbio com sua ameaça de descumprir ordem da Justiça e os riscos dos caminhoneiros para a economia e a estabilidade. Bolsonaro é o único presidente do planeta Terra capaz de alimentar greve de caminhoneiros (como, aliás, de alardear que ganhou uma eleição fraudada). “Sensacional! Ele criou uma greve de caminhoneiros para derrubar o próprio governo”, ironizou Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI.

Bolsonaro acreditava que o movimento era contra o ministro Alexandre de Moraes e ele não tinha nada a ver com isso, mas o professor Michel Temer ensinou: “Eu já passei por isso, presidente. Essa greve vai cair diretamente no seu colo”. E, como me contou, lembrou do desabastecimento, do aumento de preços, da queda do PIB e do mau humor da população.

Bolsonaro teve de fazer “meia volta, volver” para apagar os incêndios que ele próprio cria. Daí a nota de moderação, ponte com Alexandre de Moraes e vídeo para os caminheiros. Ninguém acreditou na moderação nem na ponte, mas o tragicômico foi os caminhoneiros não acreditarem no vídeo! Bem, se o presidente é investigado no STF por fake news… Só continuam acreditando em tudo os que se agarram à “genialidade política do mito”, como ovelhas que correm atrás da onça.

COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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