As manifestações de rua realizadas neste domingo para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, mas também pregar contra a volta de Lula, acabaram por revelar que a luta contra a polarização eleitoral para 2022 entre direita e esquerda está virando um caso quase improvável.
Convocadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e o movimento Vem pra Rua, que tiveram protagonismo na mobilização popular pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, as manifestações deste fim de semana não conseguiram público capaz de dar feição ao pretendido, que era criar as condições para o lançamento de um candidato a presidente capaz de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro (a PM calculou que havia 6 mil pessoas na avenida Paulista; foram 120 mil no dia 7 de setembro).
O revés da empreitada se torna mais eloquente porque contou com as presenças de pelo menos quatro pré-candidatos a presidente: Ciro Gomes (PDT), João Dória (PSDB), Henrique Mandetta (DEM) e João Amoedo (Novo).
Embora o objetivo principal dos atos era pedir o impeachment de Bolsonaro, o PT e o Psol, além de outros legendas de esquerda, se negaram a participar por considerarem o MBL um movimento de direita, que deu apoio a Bolsonaro nas eleições de 2018. Além disso, os líderes do MBL criticam Lula e defendem uma terceira candidatura à Presidência.
Os organizadores do movimento começam a alegar que as manifestações deste domingo são apenas o início do processo. Não deixa de ser um teste, mas, pelo visto, a proposta de impeachment não mobiliza segmentos mais amplos da população. O PT deverá fazer seu teste no dia 2 de outubro, mas o mais provável é que o tema impeachment não empolgue.
Existem duas razões básicas que parecem amornar a mobilização pelo impeachment: Bolsonaro mantém boa margem de apoio na sociedade e no Congresso e a história recente demonstra que a derrubada de presidentes não resolve os problemas do país.
Além disso, o recuo de Bolsonaro em sua Declaração à Nação desmonta, pelo menos temporariamente, o movimento político das elites pela sua substituição.
Seja como for, as manifestações deste domingo, apesar do reduzido público, deverão servir de base para um dos pré-candidatos presentes ou de um nome que saia do debate entre eles, mas, dificilmente, terá força de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro, a não ser que outros fatos surjam para mudar o curso das coisas. Foi o que ficou demonstrado.
Nossa opinião
- Tem lá sua lógica a argumentação do jornalista Josival Pereira, a quem sequer conheço pessoalmente, mas a quem admiro pelos lúcidos comentários que faz e que aqui tenho reproduzido com frequência. Mas, este mesmo respeito que lhe tenho me dá o direito de divergir dele em parte. Não concordo que seja tão difícil quebrar esta polarização, entre Lula e Bolsonaro. Pelo que tenho visto e ouvido, já existe uma divergência razoável na população com relação a esta polarização. O que falta é a prova dada pela mobilização do povo nas ruas. A própria esquerda não tem consigo levar tanta gente à rua que corresponda ao poder de que esta dispõe. Os bolsonaristas se frustraram na sua tentativa de realizar um Grito retumbante que convencesse a maioria da população de que eles são maioria neste país. O Grito foi um fiasco. A maioria silenciosa é que vai decidir as eleições de 2022. O que está faltando à terceira via é o surgimento de um nome que encarne todas as revoltas e todas as esperanças desta maioria silenciosa. Considere-se também que as entidades que convocaram a mobilização do domingo 12/09, não eram expressivas o suficiente para levar grandes multidões às ruas. Além do mais, as lideranças que compareceram talvez não estejam empolgando a população, até por que continuam desunidas entre sí, sem grandes perspectivas de acordarem em torno de um nome só. Por fim, as lideranças de esquerdas têm sido egoistas. Ao deixaram de engrossar as manifestações de rua elas deixam sem rumo grande parte da direita que pode terminar, por falta de uma candidatura viável votando em Bolsonaro. Uma união agora, poderia levar esta parte da direita a votar em Lula, no caso de fracassar a tentativa de se criar uma terceira via. Ninguém deve desistir da ideia política mais favorável ao Brasilde hoje que é o surgimento de uma terceira via, que poderá ensejar, no mínimo, a derrota definitiva de Bolsonaro, cuja reeleição é a pior coisa que poderá acontecer a este pais pela sua absoluta incapacidade de governar e pela péssima qualidade da equipe que formou e que poderia formar. O Centrão, diante dos “bolsominions’ é “fichinha” em termos de incapacidade politica e gerencial. (LGLM)