(UMA POR DIA… Misael Nóbrega de Sousa 13/09/2021, com comentário nosso)
Nem bem adentrei à antiga “Rua Grande” de meus pais, pude ver os parques de diversões que se instalavam ali, por costume; e, que hoje, seduz, também, as ruas adjacentes. É quando castelos se erguem bem no coração da cidade/mãe, materializando a alegria. O cenatório é de um grandioso sonho. Geringonças que se amontoam sob a jura do melhor divertimento.
Maçã do amor; cachorro-quente; algodão-doce; balões infláveis; barraca de tiros; jogos de azar; o sino da igreja; as novenas; a procissão… – Ela ainda estava lá. Não diria, acanhada; resignada, sim! Mas, talvez eu que estivesse diferente.
Demoro-me no carrossel. Conservaria ainda a mesma mágica? E procurei, em cada menino que volteava ao redor do mundo, os rostos de minha infância: O “Parque Lima” era o playground de antigamente. Bichinhos artesanalmente construídos com o madeiro sagrado das idades puerícias. E aqueles cavalinhos, que nem existem mais, levavam-nos para qualquer lugar, mesmo que fincados no eixo da resignação.
Ainda, reminiscente, resgato da memória, o aviãozinho de latão… – Que sem luzes nem nada, conduzia-nos para fora da órbita, numa viagem imaginária. E, por fim, a roda-gigante, meio acanhada, é bem verdade, – mas que nos colocava acima das casas e isso bastava para entrever o futuro.
Os brinquedos estão ficando mais modernos, e as crianças menos crianças.
Despertei daquela nostalgia com os acordes da filarmônica 26 de julho. E antes de entrar na igreja de Nossa Senhora da Guia, parei para ouvir a banda tocar… – Como uma “retreta” de tudo que já foi dito. De 14 a 24 de todos os setembros, a “Festa da Guia”, acolhe os devotos das paróquias vizinhas, que acorrem às suas preces para a igreja Matriz, Catedral dos filhos de Deus.
Ao final de cada noite, onde as novenas são oferecidas à comunidade na forma da eucaristia, todos retornam para as suas casas, porém, sem deixar de notar o pavilhão e os bancos de azar. O religioso e o profano coexistem naquele ambiente: ora lúdico; ora litúrgico… – E as jogatinas se espalham pelo corredor desmedido, conservando as tradições.
Aprendi com o escritor de “A Bagaceira” que “Ninguém se perde no caminho da volta”. E Jose Américo de Almeida, justifica: “porque voltar é uma forma de renascer”.
A festa de setembro é também de renovação não apenas espiritual, mas social. Compatrícios elegem no calendário anual aquela data na vida deles. E retornam para os parentes e amigos, pautados na certeza do abraço e da fé. Ah! Festa de felicidade circular… – Feito esse brinquedo que agora vejo a encorajar os beijos adolescentes dos filhos e netos de minha geração.
Já estou quase do outro lado… – E o que já era um retrato esmaecido, vai ficando ainda mais no passado. Porém, o que seria de nós se não fosse o renovamento? Obrigado, festa de setembro! Se antes faltava coragem de olhar para trás, agora estou mais confiante por seguir em frente…
Nossa opinião
- Parabéns ao colega Misael por mais uma belíssima crônica. E esta mexeu comigo. Vivi tudo isso e um pouco mais. E muito mais. Eu sou do tempo do “juju” de Basto Duda, um brinquedo que era armado ao lado da Matriz de Nossa Senhora da Guia. Era um brinquedo do qual só os mais velhos como eu se lembram. Era um brinquedo simples composto de cinco ou seis cadeirinhas suspensas que rodavam ao redor de um mastro, movido por uma manivela manejada por “seu” Basto. Todas as noites nós éramos os primeiros a “passear” no “juju” de Basto Duda. Eu, Nego Nena e Orlando Xavier, vizinhos de seu Basto, na rua dos Dezoito. Não pagávamos, mas fazíamos o “merchandising” para atrair os meninos que podiam pagar pelo passeio. Estes depois fariam fila para “passear” no “juju”, pagando os centavos que eram cobrados seus pais. Pena que Orlando e Nena não estejam mais vivos, assim como outros companheiros da aventura para confirmar este fato que a memória de trouxe de volta com a crônica de Misael, este com idade de ser meu filho. (LGLM)