Bolsonaro está empurrando o próprio Centrão a achar alternativa a ele

By | 16/09/2021 7:16 am

O Centristão

Bolsonaro está empurrando o próprio Centrão a encontrar uma alternativa eleitoral a ele

O único golpe bem-sucedido até aqui foi o do Centrão e é quem parece que sairá vitorioso, não importa a próxima campanha eleitoral. Essa denominação para forças políticas diversas e sua forma de atuação existe há mais de 30 anos, mas a República do Centristão tem como fundador Jair Bolsonaro.

Esses agrupamentos políticos que trabalham em busca de acomodação nos cofres públicos (ou pedaços da máquina pública, o que vem a dar no mesmo) conquistaram sob Bolsonaro ferramentas de poder que jamais tiveram. Capturaram o orçamento – incluindo gorda fatia dos gastos discricionários – e estão promovendo o retrocesso das regras eleitorais em benefício próprio. São os donos de fato da agenda política.

ctv-lln-arthur-lira-ciro-nogueira
O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (Progressistas-AL) e o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (Progressistas-PI). Foto: Dida Sampaio/Estadão

Dinheiro e as regras do jogo garantem a consolidação desses grupos no centro do poder. A noção de “agenda nacional” por parte desses partidos e seus caciques se manifesta de forma abrangente somente para cuidar de seus interesses mais imediatos, e isso se dá tanto no plano de “políticas públicas” como no plano de plataformas eleitorais.

Caso emblemático é o show que o presidente da Câmara armou para examinar política de preços de combustíveis pela Petrobras. Gasolina cara e inflação alta atrapalham políticos em qualquer lugar e época – dos dois Poderes. Há relatos conflitantes quanto ao grau de coordenação entre Legislativo e Executivo nessa tentativa de reedição do que há de pior na interferência populista na formação de preços básicos, disfarçada de preocupação social, mas a convergência de interesses é fato objetivo.

Difícil para os caciques do Centrão continua sendo entender como assim Bolsonaro não entende um fato tão evidente da política. Seres perfeitamente racionais (em contraste com o presidente), dominando instâncias decisivas no próprio Planalto, esses experientes operadores políticos desistiram da empreitada de decifrar Bolsonaro, que evidentemente consideram útil no curto prazo – contanto que ele pare de promover outros “7 de Setembros” (sempre uma dúvida).

A grande incerteza e imprevisibilidade associadas a Bolsonaro promoveram no coração do Centristão certa urgência em procurar saídas para os comportamentos do atual mandatário, sem considerar a eventualidade de um impeachment em função de algum “freak event”. Nesse sentido, parte relevante do Centrão e algumas das principais elites dirigentes na economia e sociedade civil estão em sintonia.

Assim, a óbvia “saída” do Centrão para o que mais detesta, a imprevisibilidade, está em encontrar alternativa eleitoral a Bolsonaro. Ou seja, é grande a probabilidade de que a tal terceira via surja por ali, provavelmente numa grande concertação política. É o que indicam movimentações de fusão de partidos (PSL e DEM) e conversas entre operadores de várias tendências (centro-esquerda e centro-direita). O pressuposto de todos é o de que há um enorme espaço eleitoral a ser ocupado por agremiações políticas experientes, e que ainda existe tempo para isso.

Bolsonaro deu impulso às forças adversárias ainda difusas e desarticuladas ao se desmoralizar nos eventos em torno do 7 de Setembro, que demonstraram não só a incapacidade de operar um golpe, mas, sobretudo, a inexistência de qualquer plano para o País. Ele jogou definitivamente as elites dirigentes para uma espécie de “lado de lá” da linha divisória entre o tolerável e o inaceitável – e transformou-se em intragável.

O Centristão foi fundado como consequência que não era inevitável da onda disruptiva de 2018, que não tem condições de ser repetida no ano que vem. Falta principalmente o “impulso”, o “ímpeto”, que Bolsonaro acabou representando, e o “anti” se divide entre mais de um alvo. É hora dos profissionais. O Centristão não depende de Bolsonaro para prosperar.

*JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *