Vaidade está acabando com um grande profissional

By | 19/09/2021 10:46 am

Bolsonaro manda com base na internet e em palpites. O outro, dr. Queiroga, obedece

Médico manchou para sempre sua biografia, que ia tão bem até o casamento de conveniência e de submissão com o presidente

(Eliane Cantanhêde colunista do Estadão, em 19/09/2021)

Entre tantas cris desgraças no nosso querido Brasil, só faltava o ministro da Saúde conclamar pais e mães a não vacinarem seus filhos adolescentes. Não falta mais. Ao se sujeitar a isso, o dr. Marcelo Queiroga manchou para sempre sua biografia, que ia tão bem até o casamento de conveniência e de submissão com o presidente Jair Bolsonaro, acusado de “charlatanismo e curandeirismo” pela CPI da Covid.

O general da ativa Eduardo Pazuello evaporou, mas sua máxima ficou: “um manda, o outro obedece”. Numa única entrevista, Queiroga produziu algo inédito num País onde a imunização é um sucesso histórico – um ministro da Saúde fazendo propaganda contra vacinas – e uma coleção de mentiras, meias verdades e absurdos. Citou indevidamente a OMS, a Anvisa, os especialistas do ministério, os pais e mães, os “eventos adversos”, os adolescentes vacinados e a morte de um deles. Um espanto!

Parece encomenda para desviar a atenção da Prevent Seniorsuspeita de aplicar o “kit Covid” (cloroquina, ivermectina etc) sem conhecimento de pacientes e anunciar que morreram mais pacientes entre os que não tomaram o kit do que entre os que tomaram. Ocorreu o oposto! Esconderam a realidade. Pior: as ligações com o “gabinete paralelo” do Planalto e a propaganda que Bolsonaro fez da pesquisa fake.

Bolsonaro e Queiroga
Presidente Jair Bolsonaro conversa com o ministro Marcelo Queiroga durante cerimônia no Palácio do Planalto. Foto: Dida Sampaio/Estadão – 29/06/2021

Um segundo objetivo também parece claro: já que Bolsonaro se viu obrigado a recuar dos ataques ao Supremo e a seus ministros, compensou recrudescendo contra os governadores, especialmente João Doria (SP). Mas o mais absurdo é Queiroga obedecer a tudo o que seu mestre mandar – e dane-se todo o resto.

A revelação é do próprio Bolsonaro: “Eu levo para ele (Queiroga) o meu sentimento, o que eu leio, o que eu vejo, o que chega ao meu conhecimento”. “Meu sentimento”?! Como ouvir isso como se fosse a coisa mais normal do mundo? A revelação não é só patética, é de uma gravidade e uma irresponsabilidade inacreditáveis.

Tudo o que o presidente da República lê e vê e que chega ao conhecimento dele vem de duas fontes: palpiteiros que pululam nos palácios e descompromissados da internet. Ele diz que não foi “uma imposição”, mas o fato é que o dr. Queiroga, médico e ministro da Saúde, determinou a suspensão – em outras palavras, proibiu – a vacinação de adolescentes com base num “sentimento” de Bolsonaro.

Sempre choca, mas não tem nada de novo e os exemplos são variados: o fim da obrigatoriedade das cadeirinhas para crianças, contrariando todas as estatísticas; a perseguição a um fiscal do Ibama que cumpriu seu dever ao multá-lo por pescaria em santuário ecológico – logo ele, então deputado federal!; sua visão sobre a cultura e a educação; a política externa corrosiva; o apoio estratégico a mineradores e madeireiros ilegais que destroem a Amazônia e as reservas indígenas.

Isso deságua na política na pandemia: não fazer nada e bombardear isolamento social, máscaras e vacinas, porque o “sentimento” do presidente era que não passava uma “gripezinha” e tinha de deixar todo mundo pegar e pronto. Quanto aos muitos milhares que morressem (e morreram), paciência! Ele não é coveiro, não é mesmo?

Esses “sentimentos” guardam uma diferença em relação à posição de Bolsonaro diante de outra ferramenta letal: as armas propriamente. A questão das armas não envolve só uma vontade, um ouvi dizer, mas uma estratégia. O pretexto é que “povo armado jamais será escravizado”, mas a suposição é que “minorias armadas submetem a maioria”.

Do editorial de sábado, 18/09, do nosso Estadão (O curandeiro da República): “Como bússola para a definição de políticas públicas, o “sentimento” de Bolsonaro, o curandeiro da República, tem levado o Brasil à ruína sanitária, política, econômica e moral”. Quanto tempo levará para reconstruir tudo isso? Se é que…

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

Nossa opinião

  • Um grande profissional da Medicina, Marcelo Queiroga, por vaidade aceitou ser Ministro da Saúde. Quando esperávamos a atuação de um cientista, fomos surpreendido pelo comportamento dele como um mero “puxa-saco” que faz apenas o que Bolsonaro quer, renegando todo o conhecimento científico que presumíamos possuisse. E ainda tem a veleidade de sonhar com uma vaga de senador pela Paraíba.  Ou seja, virou um político subserviente, da pior qualidade. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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