A bolsonarização do Orçamento já impôs custos enormes ao País

By | 23/09/2021 7:33 am

Privatizando o Orçamento

A bolsonarização do Orçamento e da máquina estatal, forma perversa de privatização, já impôs e continuará impondo custos enormes ao País

(Editorial da Folha, em 23/09/2021)

Ninguém deve acusar o presidente Jair Bolsonaro de haver negligenciado as privatizações, uma de suas promessas de campanha. De fato, ele foi longe, nessa tarefa, ao pôr a seu serviço – e ao serviço de seus companheiros e aliados – o ainda chamado Orçamento-Geral da União (OGU), uma denominação obviamente superada. Também é preciso lembrar seus esforços, nem sempre vitoriosos, mas sempre notáveis, para subordinar a seus interesses pessoais e familiares a Polícia Federal, o Ministério da Justiça, a Procuradoria-Geral da República e outros órgãos de Estado. Os últimos dados sobre o uso do orçamento secreto comprovam, de novo, o empenho privatizador.

Como apurou o Estado, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, conseguiu destinar R$ 1,4 milhão do orçamento secreto à obra de um mirante turístico em Monte das Gameleiras, no Rio Grande do Norte. O mirante fica a 300 metros de um terreno de seis hectares de propriedade do ministro. Está projetada a construção, nessa área, de um condomínio de cem casas. Marinho negou ter proposto a aplicação do dinheiro, mas sua responsabilidade, como “autor” ou “agente político” foi confirmada pelos autores da reportagem, Felipe Frazão e Breno Pires, por meio da Lei de Acesso à Informação. Além da privatização do orçamento, para benefício de um membro da equipe bolsonariana, o episódio envolve, portanto, um evidente estímulo ao empreendedorismo paroquial, mais uma façanha merecedora do aplauso dos bolsonaristas.

Dinheiro da União tem sido usado também para favorecer militares e agentes de segurança, com aumentos salariais, distribuição de postos na administração federal e também um recém-lançado programa de financiamento de residências. Desde o começo de seu mandato, o presidente Bolsonaro já comprometeu com benefícios a esses grupos pelo menos R$ 27,7 bilhões, custo estimado até o fim de 2022.

O programa Habite Seguro, destinado a policiais militares e a bombeiros, deve custar R$ 183,9 milhões até o fim do atual mandato presidencial. No ano passado, policiais civis, policiais militares e bombeiros do Distrito Federal, de Rondônia, do Amapá e de Roraima receberam aumentos salariais com custo estimado em R$ 1,64 bilhão até o fim do próximo ano. Em 2020, como lembrou reportagem do Estado, outros funcionários tiveram os salários congelados por causa dos gastos com a pandemia.

Além de elevar os salários de policiais, medida agora reforçada com o programa habitacional subsidiado, Bolsonaro cortejou esses grupos com visitas e tentativas de cooptação política, num esforço para criar relações diretas de influência, embora as corporações sejam subordinadas legalmente aos governos estaduais.

A multiplicação de membros ou ex-membros das Forças Armadas em postos federais tem sido outra forma de subordinação do Estado aos interesses políticos bolsonaristas. Em julho, 6.157 militares da ativa e da reserva ocupavam postos civis, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). Esse contingente era mais que o dobro do registrado na gestão do presidente Michel Temer. O caso mais ostensivo foi o da ocupação do Ministério da Saúde por pessoas com títulos militares e, na maior parte dos postos mais importantes, sem preparo para as funções.

Dominado pela incompetência e sujeito à orientação do Palácio do Planalto, o Ministério, militarizado, converteu-se em propagandista das terapias pregadas pela medicina bolsonariana. A dimensão do desastre pode ser medida em milhares de mortes e milhares de casos de contágio.

A bolsonarização do Orçamento e da máquina estatal, forma perversa de privatização, já impôs e continuará impondo custos enormes ao País. Em busca de apoio popular para continuar no poder – a reeleição é um dos meios possíveis –, o presidente decidiu criar a sua versão do Bolsa Família. Para isso decidiu aumentar a partir desta semana o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), jogando mais um custo, com a marca Bolsonaro, sobre empresas e famílias já muito pressionadas. Privatização bolsonariana é assim.

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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