Centrão quer novo nome para o STF e abre crise entre evangélicos e Bolsonaro

By | 11/10/2021 6:04 pm

Pastores rejeitam indicação de presidente do Cade e exigem Mendonça ou outro nome aprovado por eles

O Centrão quer indicar um novo nome para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal, abrindo uma crise entre o governo de Jair Bolsonaro e líderes de um dos últimos redutos de popularidade do presidente, os evangélicos.

Uma articulação dos principais ministros do grupo que comanda a Câmara dos Deputados busca viabilizar o nome de Alexandre Cordeiro de Macedo, o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

O problema, para a comitiva pastoral que aconselha Bolsonaro no assunto, é que Cordeiro não passou pelo crivo dela. Aliás, ele pode até se apresentar como evangélico, mas está longe de sê-lo “terrivelmente”, advérbio que o presidente diz ser imprescindível para o ocupante da 11ª cadeira da corte.]

A apresentação do novo nome visa romper o impasse em torno do nome do advogado-geral da União, André Mendonça, o “terrivelmente evangélico” indicado pro Bolsonaro quando o ministro Marco Aurélio Mello aposentou-se, em julho.

Mendonça tem apoio firme entre alguns dos principais líderes do segmento, e a movimentação do centrão fez explodir a insatisfação.

Faltou combinar com os pastores. Silas Malafaia, um dos prediletos de Bolsonaro, disse que a nomeação para o STF passará pela liderança evangélica antes. “Estão pensando que vão chegar pro presidente com um nome qualquer, mas o presidente vai perguntar pra gente, e vamos dizer ‘não, não reconhecemos esse cara’”, diz.

“Não escolhemos André Mendonça. Não somos nós, ministros evangélicos, que vamos escolher ministro”, continua. “A única coisa é que o presidente vai perguntar se o camarada é terrivelmente evangélico ou não porque ele não tem ideia. Não adianta esses caras armarem alguma coisa, dizendo que João ou Manoel ou sei lá quem é terrivelmente evangélico que nós vamos dizer ao presidente sim ou não.”

No Twitter, Malafaia afirmou neste domingo (10) que dois ministros de Bolsonaro “perderam a condição moral” de seguir no cargo. Prometeu fazer isso em um vídeo nesta segunda (11).

Não deu nomes, mas Ciro Nogueira será seu alvo. O pastor também tinha Faria na mira, mas decidiu depois poupá-lo, ao saber que um dos encontros não foi na casa dele, como antes achava.

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), eleito com apoio da igreja liderada por Malafaia, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, segue seu pastor: “Se reprovarem o André, quem vai dizer outro nome é a lideranca evangélica. Não vamos aceitar quem não seja evangélico indicar ninguém ao presidente”.

O deputado e pastor Marco Feliciano (PL-SP) chama de “sórdida esta atuação às escondidas de quem quer seja para defenestrar o dr. André”.

“É um aviso aos navegantes espertalhões, não darão um passa-moleque em nossa comunidade”, afirma o parlamentar. “Qualquer indicação evangélica para a cadeira no STF, promessa do presidente, deverá passar pelo crivo dos mesmos líderes evangélicos que avalizaram o André Mendonça. Qualquer ato fora disso causará um desconforto irreparável.”

Em junho, Mendonça embarcou com Feliciano, Malafaia e Sóstenes no voo que levou Bolsonaro até Belém (PA) para celebrar os 110 anos da primeira Assembleia de Deus no Brasil.

Três meses depois, cá estão Malafaia e Feliciano gravando vídeos para cobrar a manutenção da indicação de Mendonça. Nas mensagens a seus apoiadores, não citam o nome de Cordeiro, mas fazem duras críticas a Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Alcolumbre vem evitando marcar a sabatina de Mendonça. Enquanto alguns observadores veem nisso uma represália direta a Bolsonaro, outros enxergam apoio direto do senador à busca de um nome alternativo.

No Senado, há muita simpatia que essa pessoa seja o procurador-geral da República, Augusto Aras, que não é evangélico. Para contornar isso, o centrão passou a trabalhar em favor de Cordeiro, que é presbiteriano.

Nomeado para a presidência do Cade em julho, ele estava no órgão desde 2015, quando foi indicado pelo PP de Ciro Nogueira.

Entre os evangélicos, contudo, a filiação religiosa de Cordeiro não é considerada convincente. “Eu quero mandar uma mensagem para o ministro Ciro Nogueira e para o líder do governo Fernando Bezerra Coelho: ninguém vai enganar a comunidade evangélica”, gritou Malafaia no vídeo.

Entre lideranças do setor, Cordeiro também vem sendo comparado à ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que era assessora de Magno Malta e, na visão deles, o traiu para ficar no governo —enquanto o ex-senador e pastor, aliado de primeira hora de Bolsonaro, ficou na estrada.

Isso porque Cordeiro, que faz parte da mesma denominação de Mendonça, teve apoio do titular da AGU para chefiar o Cade, mesmo com a oposição aberta de diversos conselheiros do órgão.

Para Bolsonaro, é uma crise a mais em um governo com focos de problemas em praticamente todas as áreas. Os evangélicos são base de apoio do hoje presidente desde sua campanha em 2018.

Na mais recente pesquisa do Datafolha, o grupo foi um dos únicos no qual Bolsonaro bateria Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa do ano que vem.

Na amostra do instituto, 26% dos eleitores são evangélicos. Ao longo deste ano, o presidente perdeu aprovação também entre eles, mas ainda assim tem uma rejeição menor (41%) do que entre a população em geral (53%).

​Às mesas dos jantares da semana passada, um deles na casa do ministro do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas, que nega ter participado de qualquer articulação, estiveram personagens como o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ministro do Supremo Gilmar Mendes.​

No Supremo, o nome de Cordeiro foi visto com reservas, dada sua falta de experiência jurídica. Advogado e economista, ele não tem doutorado completo em direito.

Além disso, há o temor da repetição do caso Kassio Nunes Marques, o primeiro ministro indicado por Bolsonaro que hoje está isolado na corte, visto como um chancelador de iniciativas do Planalto.

Com Cordeiro, ou um outro “tertius”, o centrão busca emplacar alguém alinhado a seus interesses na corte máxima do país e dar uma solução à insatisfação entre os ministros pela falta do 11º integrante do colegiado —o que tem travado julgamentos pela possibilidade de empate, além do acúmulo de processos no antigo gabinete de Marco Aurélio.

Evangélicos bolsonaristas já haviam digerido mal tentativas de emplacar Humberto Martins, presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele é da Igreja Adventista do Sétimo Dia, linha cristã que muitos evangélicos descartam como parte do segmento.

Mas Martins, hoje, é carta fora do baralho: nomeados para o Supremo precisam ter menos de 65 anos, e ele chegou a esse clube no dia 7 de outubro.

Nossa opinião

  • Agora quem está entre a cruz e a espada é Bolsonaro. Se atender aos evangélicos, desagrada ao Centrão que tem a chave do impeachment. Se atende ao Centrão pode perder o apoio dos evangélicos, seus mais fiéis apoiadores. Vamos ver como ele sai desta sinuca de bico. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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