Irresponsabilidade do Governo Bolsonaro obriga Banco Central a aumentar juros para tentar conter a inflação

By | 29/10/2021 5:52 am

Jogo bruto contra a inflação

Contra a crescente desordem dos preços, o Banco Central impõe, em suas palavras, uma política ‘ainda mais contracionista’

 

Para derrubar a inflação, o Banco Central (BC) poderá abater também a economia, eliminando a pouca expansão estimada pelos mais otimistas ou aprofundando a recessão esperada por grandes instituições do mercado para 2022. Ao elevar os juros básicos para 7,75%, o Copom, Comitê de Política Monetária da instituição, determinou uma alta de 1,5 ponto porcentual, a maior desde dezembro de 2002, quando a taxa passou de 22% para 25%. A ideia de manter algum estímulo ao crescimento já havia sido abandonada em reuniões anteriores. O objetivo, agora, é tentar levar a inflação à meta mesmo com grande perda para a atividade econômica.

A decisão anunciada no começo da noite de quarta-feira foi uma evidente reação a dois fatos. O primeiro, mencionado no informe divulgado logo depois da reunião do Copom, foi a forte aceleração da alta de preços nos últimos meses. Essa alta, segundo o texto, foi mais forte do que se esperava. O segundo, embora evidente, ficou apenas implícito no comunicado.

O novo aperto da política monetária é, no entanto, uma clara resposta à destruição do teto de gastos determinada pelo presidente Jair Bolsonaro e apoiada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. No comunicado há apenas uma referência, já presente em outros informes, aos perigos associados a “políticas fiscais de resposta à pandemia”.

A mensagem mais forte e inequívoca aparece em outro parágrafo. Segundo o Copom, o aperto monetário avançará “ainda mais no território contracionista”. Na ata publicada em setembro, depois da reunião periódica do Comitê, a palavra “contracionista” apareceu várias vezes. Na referência mais dramática, o ritmo de ajuste foi descrito como suficiente para atingir um “patamar significativamente contracionista” e levar a inflação à meta em 2022. Essa meta está fixada em 3,25%, mas as projeções correntes apontam um resultado superior a 4%.

Diante da acelerada alta de preços e da devastação das condições fiscais, o Copom, formado por dirigentes do BC, mostra disposição de cumprir, mesmo com elevado custo econômico no curto prazo, o compromisso formulado em agosto pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Nessa ocasião ele apontou como prioridade voltar a alcançar a meta a partir do próximo ano. O BC, assegurou, tem instrumentos para isso.

Com ou sem instrumentos suficientes para essa tarefa, o BC, neste momento, é a única entidade federal empenhada em evitar o desarranjo total do sistema de preços. O presidente mostra-se disposto a gastar o necessário, segundo seu juízo, para garantir sua reeleição em 2022. Tem a cumplicidade do ministro da Economia e, para buscar seus objetivos, terá de usar muito dinheiro, no caminho, para manter a fidelidade do Centrão.

Ao promover o desgoverno, o presidente compromete os fundamentos da economia, cria insegurança entre os investidores, afeta as expectativas em relação aos preços, desajusta o câmbio e realimenta a inflação, além de ampliar os entraves ao crescimento e ao emprego.

Esse comportamento poderá neutralizar boa parte do esforço do Copom para conter a alta de preços e conduzi-la à meta. A cada novo desmando, a cada palavra errada, os financiadores do Tesouro poderão cobrar mais caro. Ao mesmo tempo, o desarranjo cambial aumentará a inflação.

Sem meios para enquadrar Bolsonaro, o BC terá dificuldades, também, para cuidar dos efeitos de outros fatores inflacionários, como o encarecimento da energia, turbinado pela imprevidência das autoridades, e os desarranjos da cadeia global de produção e suprimento.

O Copom já indicou como provável, em sua reunião de dezembro, o acréscimo de mais 1,5 ponto à taxa básica de juros. Se isso se confirmar, essa taxa alcançará 9,25% antes do réveillon. Isso afetará o sistema de crédito, impondo uma nova freada aos negócios. As micro e pequenas empresas serão as mais afetadas, assim como os consumidores pobres. De novo, o custo maior das decisões tomadas em Brasília – nesse caso, numa tentativa de superação de problemas – irá para os mais vulneráveis.

Nossa opinião

  • O Banco Central é independente e pode divergir das decisões do Governo. Daí sua tentativa de consertar a irresponsabilidade do Governo Bolsonaro, aumentando os juros para conter a inflação provocada pelas decisões do Governo. Aumentando os juros, o Banco Central tenta segurar os investidores externos, mas dificulta os negócios das micro e pequenas empresas que dependem do crédito que ficou mais caro. Ao mesmo tempo afeta os consumidores que com salários reduzidos têm que recorrer aos bancos. Como consequência, pequenos empresas e consumidores terminam sofrendo as consequências do desgoverno de Bolsonaro e das decisões do Banco Central. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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