A anedota da venda da Petrobras

By | 31/10/2021 8:02 am

Governo cria cortina de fumaça para se eximir de responsabilidades sobre a alta dos combustíveis

(Editorial do Estadão,  em 31/10/2021)

 

O preço da gasolina ultrapassou a marca de R$ 7 por litro em seis Estados na última semana e, a julgar pelo novo aumento anunciado pela Petrobras no dia 25, logo essa será a realidade em todo o País. Múltiplos fatores explicam esse comportamento, mas, até poucas semanas atrás, os culpados, para o presidente Jair Bolsonaro, eram os governadores.

Agora, Bolsonaro assumiu um novo discurso para se livrar da responsabilidade pelos preços recordes dos combustíveis: é a própria Petrobras que, segundo diz, lucra muito. Ato contínuo, resmunga que gostaria de privatizar a empresa – sem explicar, contudo, como uma empresa inteiramente privada praticaria preços mais baixos.

Há certamente inúmeras razões para apoiar a privatização da companhia, a começar pelo fato, óbvio, de que um Estado incapaz de fornecer saúde e educação de qualidade para a maioria dos brasileiros não pode gastar energia e recursos escassos explorando petróleo, atividade que pode ser feita pela iniciativa privada.

Ademais, a presença de mais empresas no mercado certamente contribuiria, no médio prazo, para promover preços mais baixos. Por anos, durante os governos petistas, a estatal atuou para impedir a atividade de importadores, com práticas predatórias que inviabilizavam a concorrência. Em 2019, a empresa se comprometeu a vender 8 de suas 16 refinarias até o fim deste ano, mas apenas 2 operações se concretizaram.

A realidade dos fatos, no entanto, não é problema para o governo Bolsonaro. Pelo contrário. O governo diz agora que tem um projeto de lei, que até agora ninguém viu, para privatizar a Petrobras. A orquestração começou no dia 13 de outubro, quando o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), “lançou” a pauta. “O que existe é que há uma política que tem que ser revista, porque hoje a Petrobras não é pública nem privada completamente, e hoje só escolhe os melhores caminhos para performar recursos e para distribuir dividendos”, afirmou.

Para quem não acredita em coincidências, no dia seguinte, 14 de outubro, Bolsonaro reverberou a ideia. Não porque acredite ou defenda privatizações, mas porque seria uma forma de se eximir de responsabilidades – como sempre faz. “É muito fácil, ‘aumentou a gasolina, culpa do Bolsonaro’. Já tenho vontade de privatizar a Petrobras”, disse.

Faltava a manifestação do ministro da Economia, Paulo Guedes, o mesmo que prometeu arrecadar R$ 1 trilhão em privatizações e que, até agora, não apenas não privatizou nenhuma estatal sob controle da União, como criou outras duas. Pelo argumento que usou, nem parece que realmente quer vendê-la. “Daqui a 10 ou 20 anos, o mundo inteiro migra para hidrogênio e energia nuclear, abandonando o combustível fóssil. A Petrobras vai valer zero daqui a 30 anos”, disse.

Desta vez, nem o mercado comprou a promessa. A privatização da Petrobras precisaria de aval do Congresso, mas, a um ano das eleições, isso é um sonho distante, cortina de fumaça e realidade inviável, avaliam analistas. Se for para seguir o caminho da capitalização da Eletrobras, que vai custar R$ 84 bilhões aos consumidores em razão dos jabutis incluídos pelos parlamentares no texto final, é melhor não fazer nada mesmo.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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