Se comparado com o que se faz hoje para reeleger o presidente da República, o mensalão do PT em 2005 foi obra de amadores
Um contrato fraudulento, Bolsonaro a frente dele, chegou a ser assinado para a compra da vacina indiana Covaxin. Foi cancelado depois que a CPI da Covid-19 o denunciou, e unicamente só por causa disso. A história está contada no relatório final da CPI.
No momento, quer trapaça maior, feita à luz do dia e publicada em Diário Oficial, do que a invenção do Orçamento Secreto para a compra de apoio à reeleição de Bolsonaro no ano que vem? Porque é disso que se trata o que é chamado de “emendas do relator”.
Novidade é a reserva de uma bilionária fatia do Orçamento para ser administrada ao gosto do relator da lei orçamentária, e a salvo do conhecimento público. O relator é um preposto do presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL).
Também nocivo, o mensalão do PT no primeiro governo Lula foi obra de amadores. Via contratos fajutos de publicidade, o PT remunerava deputados que votassem como o governo mandava. Os subornados sacaram o dinheiro em bancos, deixando rastros.
O esquema montado pela dupla Bolsonaro e Lira é mais simples, ao mesmo tempo mais engenhoso, com a vantagem de estar coberto por lei. Acontece que se depender da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal, o Orçamento Secreto será implodido.
Esta semana, o Supremo analisará a decisão de Rosa de suspender os pagamentos do governo feitos por meio do Orçamento Secreto. Um naco dele de 1,2 bilhão comprou votos para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição dos precatórios.
Votada em primeiro turno pela Câmara na última quinta-feira, a proposta aplica um calote em dívidas da União transitadas em julgado, e desrespeita a lei do teto de gastos. Em 2010, o Supremo estabeleceu que precatório fosse pago sem maior demora.
No último 7 de setembro, em comício na Avenida Paulista, Bolsonaro vociferou que não mais obedeceria a ordens judiciais. Não satisfeito, tachou de “canalha” o ministro Alexandre de Moraes. Na ocasião, talvez antevisse o caso dos precatórios.
Mais de um prefeito foi visto em Brasília com mala de dinheiro para pagar a deputado que pôs à venda parte do que recebeu via Orçamento Secreto. Tem deputado que repassou dinheiro a municípios de Estados a milhares de quilômetros do seu.
Sobre o governo de Getúlio Vargas nos anos 50, dizia-se que estava prestes a ser engolido por um mar de lama. Abertas as comportas do Orçamento Secreto, o mar de lama de Vargas não passará de um acanhado brejo. Vargas matou-se em defesa de sua honra.
Nestes tempos tristes que vivemos, político não se mata ao ter sua honra enxovalhada. Simplesmente declara-se inocente, invoca o direito a foro privilegiado e aposta que a justiça, além de cega e muitas vezes conivente, é lenta por natureza.