A verdadeira finalidade da PEC dos Precatórios

By | 14/11/2021 6:55 am

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Enquanto a famosa PEC dos Precatórios não entra em discussão no Senado, aproveite-se o ligeiro momento de trégua para uma reflexão desapaixonada sobre o tema.

A explicação do deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) para mudar de voto entre o primeiro e o segundo turnos de votações na Câmara dos Deputados parece um ponto de partida. Pedro votou a favor na primeira etapa e contra no segundo turno.

“Para o Auxílio Brasil se precisa de R$45 bilhões e o texto final abriu R$91 bilhões no orçamento. Se exagerou demais no rompimento desse teto. Foi uma irresponsabilidade muito grande”, observou.

A disparidade já estava presente na votação em primeiro turno, mas, até ali, Pedro, conforme outras declarações, estava fazendo a opção de votar na PEC para fazer orçamento para o Auxílio Brasil, como, certamente, um grande número de deputados.

O grande problema da PEC dos Precatórios é exatamente o engodo que se criou em torno dela. Usa-se, de propósito, a necessidade de abrir espaço fiscal no orçamento para financiar o programa que vai substituir Bolsa Família para atingir outras finalidades bem pouco nobres ou Republicanas. É uma velha artimanha de Brasília, mas funciona.

Como sempre ocorre no Planalto, criou-se uma narrativa enganosa a partir de uma boa causa para, no meio, se embutir benefícios escandalosos para diversos outros setores.

Havia necessidade de instituir uma fonte de financiamento para o Auxílio Brasil? Havia, sim. Mas poderia ser a partir do corte de outras despesas (R$32 milhões das emendas do relator ou simplesmente pelo mecanismo das despesas emergenciais, como em 2020.

A PEC dos Precatórios surgiu da velha ideia de que “é absurdo” pagar essa conta advinda de decisões judiciais juntamente com o malévolo plano do ministro Paulo Guedes de furar o teto de gastos sem desgastar seus supostos princípios liberais e a necessidade de se ter verbas para a campanha eleitoral de 2022. Na Câmara, a PEC ganhou a gula dos parlamentares por mais recursos para as emendas do relator.

A partir daí, o plano inicial de se garantir R$45 milhões no orçamento para o programa Auxílio Brasil foi ganhando enxertos escabrosos. Uma manobra no período de correção do do teto de gastos rendeu uma abertura de mais R$47 bilhões do orçamento, que vai para governos estaduais (R$16 bilhões), R$34,8 bilhões para o governo federal (previdência e salário mínimo, Saúde e Educação, mais R$300 milhões para emendas individuais e mais R$10bilhões para emendas do relator.

Fácil entender: o objetivo principal da PEC dos Precatórios não foi abrir espaços no orçamento para o Auxílio Brasil. O programa social foi um pretexto para se arrombar o orçamento para o ano eleitoral e a farra dos parlamentares aliados ao governo. O discurso de justificativa era um engodo. A gestão pública brasileira funciona na base da mentira.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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