Os candidatos precisam explicitar prioridades e respostas claras
Arminio Fraga, Sócio-fundador da Gávea Investimentos, presidente dos conselhos do IEPS e do IMDS e ex-presidente do Banco Central, na Folha, em 27/11/2021.
O Brasil precisa encontrar um caminho de crescimento inclusivo. Em tese, um país como o nosso, de escolaridade relativamente baixa, desigual, que investe pouco e regularmente vive crises macroeconômicas, deveria ter muito espaço para crescer de forma acelerada, acumulando capital institucional, social, humano, físico e de ideias. Seria um processo que os estudiosos denominam de convergência (aos padrões de vida dos países avançados).
Nos idos de 1987 o economista Lant Prichtet publicou no prestigioso Journal of Economic Perspectives um artigo bastante badalado dizendo que, nos países emergentes, “Divergência é o que se vê” (minha bem livre tradução). Faltavam instituições e sistemas políticos capazes de tomar decisões voltadas para o bem-estar da sociedade como um todo. Faltavam bons líderes também, claro. Países deveriam aprender a evitar caminhos que sistematicamente dão errado, mas tal não parecia ocorrer (nós que o digamos).
Neste mês, com base em dados atualizados, Michael Kremer (ganhador do Nobel ano passado) e colegas circularam na série do National Bureau for Economic Research um texto para discussão mais otimista, que documenta bastante progresso no último quarto de século. A olho nu dá para ver que a Ásia tem crescido bem mais rápido do que as economias avançadas. Menos conhecido é o desempenho da África Subsaariana, que, com todos os seus problemas, há muitos anos vem convergindo também.
Há, no entanto, uma grande região do mundo que vem ficando para trás: a América Latina. Temos que encarar a realidade que hoje o Brasil está fora da trajetória de convergência, vítima de populismos e propostas econômicas equivocadas.
Ano que vem teremos a chance de escolher um novo presidente. A campanha já começou. O quadro econômico e social é frágil. Estaremos diante de uma escolha crucial. O país não aguenta mais incompetência. Já sabemos que todos os candidatos prometerão crescimento, melhores serviços públicos, menos desigualdade, mais oportunidades, mais segurança, menos corrupção, melhor educação e saúde e por aí vai. Infelizmente, o eleitorado terá enorme dificuldade para identificar quem poderá entregar resultados concretos.
Em geral os discursos de campanha dizem que tudo é possível ao mesmo tempo e só depende da vontade do governante. Qualquer desvio desse caminho mágico é acusado de macabra austeridade. Poucos se dão conta que austeridade nunca foi a regra no Brasil. Prova disso é que nos últimos 30 anos o gasto público total subiu de 25% para 33% do PIB. Austeridade?
Bem, alguma austeridade ocorreu sim, com o investimento público, que de um pico de 5% do PIB em 1969 colapsou para cerca de 1,5% hoje. Claramente o arrocho ocorreu no lugar errado. Mas, no geral, não houve austeridade. O que faltou foi definir prioridades. Esta lacuna se estende para o lado da receita, que é no Brasil um espaço repleto de distorções e injustiças. E inclui também o padrão de endividamento do país, agora em alta e já em nível que nos fragiliza e penaliza as gerações mais jovens.
A conjuntura atual reflete esse desgoverno. O Brasil vem se endividando desde 2014 sem, no entanto, crescer. “Abusou do cheque especial e do cartão”, e agora está pagando outra vez um juro elevado e tremendo de medo da inflação.
Exemplos recentes incluem a reeleição no primeiro turno de FHC, logo após o anúncio de um duro ajuste fiscal, e a forte adesão à vacinação na atual pandemia. O estado geral da nação representa uma clara emergência.[ x ]
É bem possível que um candidato que demonstre que entende a dura realidade do país e apresente respostas concretas aos desafios seja recompensado nas urnas. E mais: assim eleito, o candidato terá um mandato que lhe dará condições de entregar resultados. Chegou a hora de apostar no eleitorado.